Há quem diga que não se deve voltar a um lugar onde se foi feliz. Será que este conselho, por assim dizer, se aplica a tudo no quotidiano? Será que se aplica a experiências passadas que nos marcaram até ao presente?
Deixa-me contar-te duas histórias…
Há uns anos, fomos, os meus pais e eu, a um restaurante árabe em Almería. Uma grande experiência, comida ótima, as senhoras foram muitíssimo amáveis connosco e houve aquela pitada de emoção à mistura. Daquela que só vivida se compreende. Devo dizer que ainda hoje é motivo de riso entre nós, mesmo passados quatro anos.
Com elevadas expectativas do que seria um regresso, lá voltámos no ano seguinte. A comida estava pior? Não. Alguém foi antipático? Não. Houve mística? Também não! Agora deves estar a pensar que sou a favor do ditado que mencionei acima. Passemos à segunda história.
Em 2018, passámos três semanas na Córsega. Apenas a segunda grande viagem em toda a minha vida e logo as memórias foram grandiosas. Cada praia à qual íamos era a melhor. O meu pai dizia-me sempre: “Esta é a melhor praia do mundo até veres a próxima.”. Até que veio Ajaccio e a sua Capu di Feno e este ciclo vicioso se esmoreceu. Pelos vistos aquela era mesmo a melhor praia das nossas vidas. Claro que a Córsega não se cinge a praias, mas que mais se pode esperar de alguém com nove anos que até no mar se sentava a ler? Três semanas se passaram num ápice, algo dito normal, sendo que o meu único desejo era viver na Córsega para sempre.
Em 2024, lá voltámos. Escusado será dizer que escrevi este artigo apenas por essa simples razão. Bom, talvez não seja só isso. Como escrevi um diário durante essa viagem, há a necessidade de a promover. E digo “a”, porque o meu intuito não é apenas promover o livro propriamente dito, mas sim as histórias, as experiências, os cumes alcançados e todas as aventuras que vivemos ao longo da viagem. Além das inesquecíveis praias, banhadas pelo meu eterno parceiro: O Mediterrâneo! Voltámos a ir às praias de l’Ostriconi e à Capu di Feno! Vale também salientar que, ao longo de todos estes anos, sempre as recordei, estivesse em casa, estivesse a viajar pela Europa com os meus pais.
Por um lado, ambas foram dos locais mais marcantes que permaneceram no meu coração até hoje. Por outro, uma vez que há sempre um lado negativo, nunca mais vi as restantes praias com os mesmos olhos desde 2018. Instintivamente, estabelecia uma comparação entre aquelas que sempre foram o meu sonho e aquela que pisava. Pensarás agora porque não passámos todo o tempo que tínhamos à nossa disposição na Córsega, entre a Capu di Feno e a l’Ostriconi. Ignorando o importante facto (crucial, para ser mais exato) de que assim não visitaríamos literalmente mais nada, não alcançaríamos o cume do Monte Cintu, nem concluiríamos uma etapa do GR20, a resposta é simples. Será que estas duas praias continuariam tão especiais, tão marcantes, tão únicas, se assim fosse?
Diria que ainda bem que não ficámos por lá eternamente. E quando digo “por lá”, refiro-me à Córsega. A questão das praias foi só um exemplo. Talvez seja melhor leres o livro para melhor compreenderes.
Dito isto, fico à espera de 2030. Será sempre bom ver em primeira mão como está a Córsega a evoluir em todos os aspetos.