No verão, as tendências apontam para o desafio do limite, suscitando novas experiências, longe ou perto de casa conforme dita a distância, numa pausa curta ou prolongada, em perfeita comunhão com a natureza, onde encaixa um enorme “Y”: o The Oitavos Hotel.
O traço depurado e as linhas retas do arrojado edifício da autoria do arquiteto José Anahory, encaixado no extenso pinhal da Quinta da Marinha, em Cascais, distinguido por uma elegância e um minimalismo intemporais, delimita no espaço um imenso cinco estrelas que reserva um roteiro pelos cinco sentidos. Sob um azul celeste combinado com o astro-rei, a vista alcança o infinito para lá da linha desenhada pelo Atlântico, depois de um frondoso verde protagonizado pelos pinheiros mansos e pelos arbustos que salpicam as extensas dunas em redor. A mesma infinidade é contemplada quando nos debruçamos na piscina infinita, ao fundo da escada contíngua ao terraço que convida à preguiça, a um copo e a dois dedos de conversa sob os chapéus brancos que dão sombra a mesas e cadeiras alinhadas, de acordo com o traço do hotel envidraçado. Espalhadas, as gargalhas e a boa disposição ecoam no ar.
(…) a receção, ao lado da entrada, dá-nos a percepção da enorme galeria que percorre todo o trajeto descrito até ao terraço (…)
Continuamos. Passamos as portas abertas par a par que dão passagem para o interior percorrido por um imenso corredor, comprido e largo, que atravessa a sala de estar e a sala de jogos, opostos que prosseguem em linha reta até ao Ypsilon, o restaurante do The Oitavos, de olhos postos nas dunas através da parede de vidro que acompanha o então corredor, agora com vista para a cozinha, em frente à qual se estende o balcão do Japanese Bar e o do bar, pronto para um cocktail ou a bebida apetecida. Do outro lado, os sofás aguardam os hóspedes sequiosos por uma boa leitura, do jornal ou do livro do momento, e por quem espera os amigos. Por fim, a receção, ao lado da entrada, dá-nos a percepção da enorme galeria que percorre todo o trajeto descrito até ao terraço decorado com chapéus, mesas, cadeiras e, ao centro, uma composição de sofás-chaise-loungues que convidam à leitura, às mãos cheias de conversa ou ao dolce far niente ou uma bebida.
No alinhamento da visão, a mesma contempla a paisagem que aumenta no espaço à medida que subimos no edifício, até que avistamos o mar, de lés a lés, e o casario da Quinta da Marinha, do Guincho… E em cada piso, qualquer um deles, são muitas as paredes e os recantos que respiram arte saída das mãos de José Anahory.
Na mesa do chef
A noite cai sobre o dia soalheiro, deixando aproximar a hora do repasto. Na cozinha do Ypsilon, Cyril Devilliers, há quatro anos chef do The Oitavos Hotel, dá-nos as boas-vindas com a mesma boa disposição que nos deixou na memória da última vez que estivemos à conversa, há cerca de três anos. Estamos na mesa do chef, que nos aguça o palato com um menu de degustação pleno de sabores e combinações surpreendentes, inspirado na gastronomia portuguesa e nas memórias da sua infância, assim como no que o Atlântico nos tem para dar. A começar pelos petiscos, “para quebrar o gelo”, segundo Cyril Devilliers, e muito bem, com as deliciosas spring roll (massa chocante da gastronomia chinesa) com sardinhas acompanhadas por molho ponzu; as ostras com wasabi, uma combinação perfeita de sabores; os croquetes de leitão, cozinhados a preceito; as lapas com pesto, outra ligação de sabores que reuniu consensos à mesa; e os bolos do caco feitos com batata doce. Para acompanhar, iniciamos a viagem por terras do Alto Douro, com o espumante Vértice Rosé Bruto.
Para as entradas Nuno Antunes, Assistant Food and Beverage Manager do The Oitavos, apresenta o Quanta Terra Douro Grande Reserva branco 2010, primeiro para combinar com uma salada com vários tipos de tomate com muxama de atum (lombos de atum salgados e secos) de Vila Real de Santo António, temperada com flor de sal, vinagre balsâmico com dez anos, e rebentos de agrião, ultimada com um sorbet de meloa e citronela, cujo sabor agridoce dá um toque de frescura ao palato.
De regresso ao mar, chega a vez do pargo grelhado com caril verde e lima, uma seleção bem pensada para um jantar, acompanhado por legumes verdes, entre os quais se destaca curgete violon, batata e massa fresca cuja composição colorida se deve à trilogia de espinafres, tomates e coentros, e um esparguete vegetal feito a partir de curgete, com uma textura semelhante à da abóbora gila De Baco vem Duas Quintas Douro tinto 2012, da Ramos Pinto, que resulta aqui muito bem dada a complexidade do caril.
De França vêm os queijos, a grande perdição de Cyril Devilliers – Pouligny-Saint-Pierre, da região de Toraine; Beaufort d’Été, de Rhône-Alpes; Grain d’Orge sur pile au Calvados, da Normandia; Nuits d’Or au Pinot Noir, da Borgonha; e Galette des templiers, do sul de França – ao lado de doce de pêssego, pão de Mafra torrado e uma salada de alface e tomate temperada com vinagre de vinho tinto, “porque a minha mãe sempre fez uma salada para acompanhar os queijos”, revela, e de um Old Tawny Porto Offley 10 anos.
O segredo está em fazer com que os hóspedes se sintam “em casa”
Agora os doces. Em cena entra o chef pasteleiro Joaquim de Sousa cuja simpatia é recordada aquando da visita acima referida. Das suas mãos, as cores e a apresentação fazem com que olhos também comam. Mas vamos à lista de sobremesas brindadas com um Moscatel Roxo 2004 de Domingos Soares Franco / Colecção Privada: Taça de morangos da nossa infância, muito apreciada pelos presentes; baba em calda de mojito, seu sorbet e frutos vermelhos; o inesquecível solero exótico aqui apresentado num semifrio de coco; after-eight com chocolate e menta; pain perdu, semelhante à nossa rabanada, com creme de baunilha, cerejas e gelado de nata; e tarte “conversation” com framboesas, Soho e sorbet de lichias.
A degustação, sempre acompanhada por conversas animadas, é uma amostra do que o chef Cyril Devilliers, em Portugal há nove anos, apresenta à sua mesa, pois os produtos vão mudando consoante a sazonalidade dos mesmos. Além do Chef’s Table – que se realiza entre quinta e sábado, mediante reserva prévia de 48 horas, na presença de entre duas a seis pessoas –, há a carta do restaurante, com alterações diárias, e o Diner du Chef, entre terça e sábado, exercício exigente, mas Cyril Devilliers garante que “consigo ainda ‘estar’ nas curvas”. O segredo está em fazer com que os hóspedes se sintam “em casa”, graças ao serviço personalizado de que o hotel dispõe “por não pertencer a uma cadeia de hotéis” e, deste modo, proporcionar-lhes umas férias gastronómicas, por isso “tenho de ter um certo cuidado com a escolha do peixe e da carne”, optando não só na qualidade, mas também na variedade.
Para quem aprecia os jantares descontraídos e a gastronomia nipónica, o Japanese Bar é também uma opção a ter em conta. Apesar do nome, as ostras, da costa da Normandia, e o ceviche, da cozinha da América do Sul, marcam presença na carta deste espaço, confinado a um balcão, onde o sushiman, no lado de lá, prepara as iguarias da gastronomia japonesa a preceito. Porém, e se assim o desejar, a refeição nipónica pode ser servida à mesa do Ypsilon.
A pensar no verão
Depois das experiências gastronómicas que, por si só, preenchem as férias de gourmets e gourmands, passemos ao total relax. Que tal preguiçar na chaise-loungue a ler um livro ou a pôr a conversa em dia? Mergulhar na piscina de água salgada e desfrutar da vista para o campo de golfe. Para quem a praia é indispensável, o The Oitavos disponibiliza um shuttle diário de ida e volta durante a época estival (às 10, 11, 15 17 e 19 horas) para as praias da Crismina e do Guincho, e o centro de Cascais. Basta pegar na toalha de praia do hotel e ir.
Aos desportistas indicamos, por exemplo, o golfe, no Oitavos Dunes, de 18 buracos, mesmo ali ao lado; a quem preferir pedalar, é pagar e pegar na bicicleta, mas há sempre a hipótese da caminhada, que vale bem a pena, pelos caminhos traçados pelo meio das dunas. Já agora aproveite e almoce no Verbasco, o clubehouse do Oitavos Dunes, concebido por José Anahory com vista para o Atlântico e uma cozinha da terra e, sobretudo, do mar, com iguarias internacionais elaboradas e a oferta de refeições levedara um repasto que termina ora com fruta da época ora com gourmandises.
Nos dias de grande calor ou quando o termómetro desce, a piscina interior é perfeita para os mergulhos e até há quem não dispense da sauna nem do jacuzzi. Mas antes almoçamos no Atlântico Pool Bar, sempre pronto para uma refeição rápida e bebidas que tanto apetecem no verão.
Os ponteiros do relógio marcam a hora no The Spa. O amplo corredor, de cor ténue, dá acesso aos gabinetes de massagens, terapias de saúde e beleza, de tratamentos – dez ao todo e todos com luz natural ou quase todos, pois há um, duplo, sem parede de vidro. Acalentados pelo encanto das dunas que revestem a paisagem quase lunar em redor The Oitavos, dá-se início ao ritual que termina no zen lounge, espaço destinado ao descanso total, antes e depois da massagem ou na varanda do quarto do hotel, onde tira partido do silêncio… O mesmo silêncio que invade os amplos corredores cravejados de portas de acesso aos enormes quartos ditados pelo conforto e um minimalista que está para além do tempo, num lugar à parte, tão perto de Lisboa.
+ The Oitavos Hotel
© Fotografia: João Pedro Rato