Outrora um solar do século XVIII, o Design & Wine Hotel preserva o domínio das artes pelos espaços que o compõem numa abordagem singular entre o passado e o futuro, com Espanha à vista.
A fachada do Design & Wine Hotel, no coração de Caminha, preserva o traço de há três séculos da então conhecida Casa dos Torres, na qual as portadas e o gradeamento das varandas, estas pintadas a vermelho, convidam-nos a embarcar numa viagem ao passado, sobretudo quando olhamos em redor, onde os edifícios, as casas, os monumentos sublimam o alinhamento da arquitetura do século XVIII.
Entramos. No interior, a contemporaneidade assume o papel principal na retidão das linhas que delineiam os corredores, os quatros, os cantos e recantos que integram a composição deste hotel, mas não sem antes passar pela enoteca. Junto à receção. Um espaço que conserva duas mãos cheias de vinhos de norte a sul do país, com os verdes da região em destaque, para degustar ali mesmo ou levar para casa.
Subimos as escadas. Pelos corredores, a sinalética contém o tema de cada quarto.
Por aqui, a música, a moda, a pintura, a escultura, entre muitos outras vertentes das artes, estão retratadas em cada um dos aposentos, entre os detalhes que encabeçam o leito e as peças decorativas que compõem o ramalhete. Na lista constam ainda a banda desenhada cravejada de super-heróis que povoam as nossas reminiscências, a street art revestida pela paleta de cores que a caracterizaram ou Wolfgang Amadeus Mozart de quem as notas da pauta delimitam a cabeceira da cama sem esquecer o azulejo português de um azul e branco muito seus.
A investida continua por entre os corredores até à célebre estrutura giratória em aço, com a forma de um paralelepípedo que, assente num pilar central com dois metros de diâmetro, roda cerca de 35 graus, um registo que acontece entre as 8 e as 9 horas da manhã e da noite. Falamos do edifício high-tech, a tradução livre da inovação tecnológica num hotel do país, assente num pilar localizado no jardim e do qual a vista alcança a fronteira natural entre Portugal e Espanha, o rio Minho, e o Monte Santa Tecla, já do outro lado. Em suma, deitamo-nos com os olhos postos na Galiza e acordamos virados para a foz do rio no quarto batizado de Música Contemporânea.
Mais. Desde o primeiro dia que o hotel acerta o passo com o design sustentável, ou seja, o sistema de iluminação economizador de energia, dentro e fora dos quartos, e a reciclagem em cada um dos aposentos são assuntos levados muito a sério, aos quais se somam a utilização de energia solar.
A cozinha portuguesa pelas mãos de chefe Joana Carneiro
Descemos para o restaurante pelo jardim. Hoje sim, porque o tempo está em estado de graça, mas em dias frios há quem prefira fazer o percurso inverso, pelos corredores do hotel.
À nossa espera está Sílvia Cunha que, com a simpatia que lhe é reconhecida em cada gesto, nos acompanha à mesa, onde o início do repasto é brindado com um Sobrinho do Abade branco, da região dos vinhos verdes, na companhia do queijo da região e de uma deleitosa marmelada com nozes – ocasiões há em que é feita com outros frutos secos.
Porque estamos junto ao rio e tão perto do Atlântico, a sopa de peixe foi a eleita para dar seguimento ao jantar do comensal mais novo, que acompanhou o repasto seguido de um polvo à lagareiro ao lado da típica batata a murro e dos legumes. Um prato da nossa gastronomia, bem regado de azeite – dai chamar-se “à lagareiro” –, que tão bem nos remete para os repastos de outros tempos, em família.
Da terra, o suculento naco de carne é degustado na companhia de um Cabeça do Pote tinto 2010, um vinho regional douriense da Quinta do Cadão, e São João da Pesqueira.
As notas finais do repasto testemunham um encontro entre a sobremesa composta por morangos e um gelado de nata decorados com pimenta rosa, uma sublime combinação de sabores harmonizados com um Quinta do Encontro Espumante Bruto, da região da Bairrada.
Nas mãos da chefe Joana Carneira, de Viana do Castelo, a cozinha do restaurante do Design & Wine Hotel cuja carta consagra “a cozinha tradicional portuguesa de lés-a-lés” com “um toque moderno”, sublinha. A trabalhar desde agosto de 2012, cerca de três meses após a abertura do hotel, Joana Carneiro enfatiza os produtos e os pratos da região, com a mais-valia de ter o mercado de Caminha mesmo à porta. Assim, basta atravessar a rua para escolher o peixe fresco, todos os dias. “Os legumes vêm de Esposende e da Póvoa do Varzim”.
Sobre o receituário da região, a chef fala do cabrito à Serra d’Arga e aguça o apetite com outros pratos da carta, como o bacalhau no pão, o bacalhau à chef e a composição de vitela com lagosta, numa alusão à aliança entre terra e mar, o leite creme crocante ou o folhado de leite creme, que vai ao forno e é servido com carpaccio de ananás e compota de frutos vermelhos.
Eis as sugestões de Joana Carneiro para os hóspedes do hotel e os turistas que tenham Caminha no roteiro de viagens.
Agora que a noite tomou conta do dia, o melhor é regressar ao quarto para uma noite descansada.
+ Design & Wine Hotel
© Fotografia: João Pedro Rato
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