Um repasto com os olhos postos no mar

É com o Atlântico como imagem de fundo que tão bem sabe apreciar um almoço com sabor a mar num espaço acolhedor e recriado com estilo no restaurante Panorama. No Guincho.

Com as dunas do Guincho a paredes-meias com o restaurante, eis que os olhos são atraídos pelo imenso Atlântico que, calmamente preguiça na praia da Cresmina já do outro lado, entre a linha de fronteira entre a terra e o mar. Da mesma forma que os registos fotográficos feitos à praia e ao mar, ali em frente, incitam os mesmos olhos a percorrer, atentamente, as paredes de um Panorama de interiores espaçosos plenos de luz natural.

Afinal, estamos perto da praia, o mote perfeito para eleger um espaço com uma decoração trendy, ditada pelo branco e pela cor do marfim na pele que reveste as assentos das cadeiras e os sofás corridos junto à parede, para contrastar com o castanho-chocolate das cadeiras e das mesas. Um espaço intimista e discreto, à luz do dia, ora romântico ora animado, para partilhar com os amigos, à noite, e para ir em família, ao fim de semana. Para lá de Cascais.

Perto da entrada do restaurante, o peixe do dia e os bivalves, os ingredientes principais da ementa do Panorama, ilustram a pequena bancada. Do outro lado, o bar preenche duas mãos cheias de diferentes gins e demais bebidas que se convertem num bom ponto de partida para iniciar o repasto da noite.

Porque é de dia, e os ponteiros do relógio ditam a hora do almoço, sentemo-nos à mesa. Da Adega Cooperativa de Vila Real vem o branco duriense da casa para acompanhar o descontraído repasto. Da cozinha vem o almoço feito pelas mãos de quem sabe, com uma nova carta, alinhada à semelhança de um bistro e desenhada para que tanto apreciam, sobretudo, a gastronomia portuguesa, onde podemos destacar a salada de polvo e os pastéis de bacalhau, para a entrada; as pataniscas de bacalhau com arroz de feijão ou os filetes de pescada com arroz de berbigão ou o robalo, o o robalo e o imperador ao pão, nos peixes; e os bifes da vazia ou do lombo, nas carnes. Quanto ao marisco, a escolha é diversificada e são muitos os nomes que, só de os ler, trazem ao palato momentos guardados na memória.

Porém, e para abrir o apetite, a escolha recaiu no mexilhão à espanhola, confecionados no recipiente criado para o efeito, e as gambas à guilho, numa tradução livre às bambas al ajillo, como se diz em espanhol, cozinhadas em barro, comme il faut.

Sobre o prato de peixe, o papel principal coube ao robalo, para assar em sal e acompanhado por uma trilogia de verdes contrastados com o laranja da cenoura e o amarelo-claro da batata numa composição moldada pela calma e repleta de sabores genuínos vindos do mar e da terra.

Em boa verdade, o desmanche do peixe, a cargo de Sérgio, que há 17 anos percorre o roteiro dos sabores do Guincho, entre o Panorama e o Porto de Santa Maria, testemunhou, desde logo, a serenidade indispensável à arte de saber fazer.

Ao lado, os molhos formaram o desfile de conjugação de sabores. Entre o de azeite, alho e salsa, o de alcaparra, estragão e manteiga e o tártaro foi o primeiro que melhor seduziu o palato nesta combinação de paladares.

Da terra foi a vez do naco de carne grelhado no carvão, fatiado e servido na tábua ornamentada com tomilho em carvão, a fim de perpetuar o aroma desta erva aromática, tomate-cereja e rodelas de limão encimadas com manteiga de ervas; e acompanhada por umas gulosas batatas fritas.

No doce final, o remate foi feito pelo quindim, uma sobremesa feita à base de açúcar, gema de ovo e coco, de acordo com a receita originária do nordeste brasileiro, para provar depois de um repasto leve e equilibrado num lugar agraciado pelo sol e pelo tons de azul do mar e do céu, há cerca de 30 anos.

Bom apetite! •

+ Restaurante Panorama Guincho
© Fotografia: João Pedro Rato

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