Porque o Algarve não é apenas sinónimo de praia, eis o vinho do Algarve, o mote perfeito para convergir as férias a sul em enoturismo.
A vinha aramada da Quinta do Morgado da Torre
A produção de vinho em terras a sul de Portugal, na região algarvia, fazem-nos reportar a duas mãos cheias de séculos atrás quando por cá passaram Fenícios, Gregos, Cartagineses, Romanos, sem esquecer os árabes cuja cultura ancestral prevalece no tempo do então Al-Gharb, ao contrário do que aconteceu nas décadas de 1970 e 1980′, quando a produção do legado de Baco entrou na contagem decrescente.
Mas regressemos ao presente. Ao tempo em que a vitivinicultura é uma aposta que todos querem ganhar na região algarvia, que permanece em crescendo desde a plantação de vinhas à produção de vinho de 27 produtores, 30 por cento dos quais são estrangeiros, sobretudo belgas, franceses, holandeses, britânicos. Para comprovar esta realidade, visitámos quintas onde o lema é não baixar os braços.
Um D.O.C. de Portimão
João Mendes, da Quinta do Morgado da Torre, e Carlos Gracias, da Comissão Vitivinícola da Região do Algarve
A primeira visita teve como destino a Quinta do Morgado da Torre, na Mexilhoeira Grande, inserida na área geográfica correspondente à Denominação de Origem Controlada “Portimão”, de acordo com o quadro referente à região da Comissão Vitivinícola do Algarve, e abrangida pela designação “Vinho Regional Algarve”.
Datada de 1865, a quinta é considerada uma das mais antigas do concelho de Portimão tendo, outrora, um total de 500 hectares. Hoje, a propriedade pertence a João Mendes, que fez a primeira produção em 1999, e ascende a cerca de 160 hectares, dos quais 15 hectares estão reservados à vinha e ao pomar de laranjas, outra mais-valia agrícola da região.
Sobre a vinha onde se encontram as castas brancas, João Mendes salienta a importância do solo, de aluvião, o que potencia a feitura de “um vinho com acidez” e refere as variedades escolhidas – Antão Vaz, Sauvignon Blanc, Moscatel de Alexandria –, com especial enfoque no Arinto e no Verdelho, que garantem a característica salientada pelo proprietário, que adianta a importância da produção integrada, a fim de garantir a saúde do agricultor e do consumidor porque, apesar da preocupação estar, sobretudo, focada no interior da adega, “aqui é que está tudo”. Ao apontar para um pequeno monte, uma parcela com 50 metros de altitude, o anfitrião da Quinta do Morgado da Torre profere as castas tintas – Alicante Bouchet, Cabernet, Moscatel Roxo, Touriga Nacional, Syrah, Merlot e Sousão.
Tapada da Torre Reserva branco 2014, Alvor Colheita Seleccionada tinto 2013 e Tapada da Torre Vinho Licoroso Reserva à prova
Já na adega, as talhas de barro levadas de São Pedro do Corval, em Reguengos de Monsaraz, muito conhecida por terra da olaria nos país, não passam despercebidas ao olhar dos presentes, ao que João Mendes justifica a forma convexa como sendo a ideal para a fermentação. Com um formato semelhante ao da ancestral talha, as cubas que guardam as uvas tintas com casca são chamadas de “lagares verticais” que dão “mais estrutura ao vinho”, explica; as cubas dos brancos, mais altas e estreitas, reservam apenas o líquido das uvas, o qual “vai à fermentação”.
Ainda sobre os tintos, estes vão estagiar em barricas de carvalho francês, renovadas em cada cinco anos. “O primeiro estágio é de seis meses, depois vai aumentando o tempo”, revela. Em agosto será a vez do vinho branco, com estágio marcado por dois meses, ao que se segue o tinto.
Termina a visita e chega a hora de fazer a prova de vinhos no terraço da quinta, na companhia de iguarias da região, que também se encontram disponíveis na loja ao lado de outros produtos que percorrer Portugal de lés-a-lés. Tudo boas razões para fazer uma visita à Quinta do Morgado da Torre, de portas abertas de segunda a sexta (exceto feriados), das 10 às 12 e das 14 às 17 horas. Às visitas de grupo é recomendada a pré-reserva através do 282 476 866 ou de qmt@sapo.pt .
A arte e o vinho de Karl Heinz Stock
Karl Heinz Stock, o produtor de vinhos e o homem das artes
O destino que se segue é a Quinta dos Vales, em Lagoa. Datada dos anos 1930’, a propriedade está nas mãos de Karl Heinz Stock, desde 2007, um alemão no Algarve, produtor de vinhos e homem das artes, escultor por excelência. Mas vamos ao legado de Baco, começando pela vinha de mais de 18 hectares, na quinta, onde se encontram as castas Arinto, Verdelho, Viognier, Alvarinho, Antão Vaz, Síria e Malvasia Fina, no grupo das brancas, e as tintas Syrah, Touriga Nacional, Touriga Franca, Petit Verdot, Alicante Bouchet, Cabernet Sauvignon e Castelão.
A lista de vinhos da Quinta dos Vales
Um total de 15 variedades a partir das quais são feitos os brancos, tintos e rosés da Quinta dos Vales, entre os quais destacamos Grace, a homenagem aos corpos de mulher que parecem dar corpo a um bailado inusitado, salpicando a paisagem de cor e movimento em torno de elefantes e outras figuras enigmáticas concebidas por Karl Heinz Stock, e demais artistas dos quatro cantos do mundo, das quais destacamos as vacas, que dão as boas-vindas aos visitantes da Quinta dos Vales.
Com vista para a vinha e para as esculturas que povoam os jardins
No roteiro, que contempla a vinha em redor da propriedade, está uma nora antiga, datada dos anos 1940’, um túnel que leva os mais curiosos a uma profundidade de 35 metros – são 84 degraus – até o fundo de um poço e a adega, a renovada em 2007, a qual conta com o empenho de Marta Rosa, a enóloga dos vinhos da quinta, trabalho que é feito sob a supervisão do enólogo Paulo Laureano, para onde vão as uvas apanhadas à mão. Findo o processo e o estágio, o vinho vai a provar, acompanhado por iguarias da região, e a harmonizar os menus de degustação num piquenique ou num repasto à mesa.
As visitas à quinta, às vinhas e aos jardins estão agendadas para segunda a sexta, à exceção dos feriados, e aos sábados mediante pedido prévio, sendo a visita guiada a grupos feita sob marcação. Uma vez que a quinta tem alojamento, porque não pernoitar por lá? Fica a sugestão.
Do Alentejo para o Convento do Paraíso
O enólogo Renato Neves e Rita Soares, uma das responsáveis pelo legado de Baco da propriedade à porta de Silves
Já em Silves, antes de chegar à entrada da cidade está a Quinta Convento do Paraíso, mais conhecida como Quinta de Mata Mouros, a lendária propriedade situada na margem direita do rio Arade, pertencente à família Pereira Coutinho que delegou a sua paixão pela vinha e pelo vinho na equipa da Herdade da Malhadinha Nova, em Albernôa, Beja, e dona da Garrafeira Soares, nos nomes de Rita, Paulo, João e Margarete, pelo savoir-faire e pelo know-how que têm vindo a demonstrar no universo vitivinícola.
Os Euphoria Quinta Convento do Paraíso
À nossa espera está Rita Soares e o Renato Neves, o enólogo da Quinta Convento do Paraíso, que falaram sobre este projeto renovado e sobre os vinhos que compõem o portefólio da propriedade algarvia – o Imprevisto, como entrada de gama, o Euphoria e o Convento do Paraíso, este a ocupar o lugar de topo.
O miradouro para o casario da cidade de Silves e a serra de Monchique
Assim, às castas Aragonês, Touriga Nacional, Sousão, Trincadeira e Cabernet Sauvignon juntaram-se as brancas Arinto, Verdelho e Alvarinho no alinhamento da proposta pelo referido quarteto, o que perfaz um total de 12 hectares de uma vinha com uma vista generosa para a cidade de Silves, o rio Arade e a serra de Monchique, e o infinito, onde o ano 2012 registou a primeira vindima, feita à mão, desde a passagem de testemunho para a família Soares.
Em 2015, o objetivo é entrar na Rota dos Vinhos do Algarve e dar a conhecer os a gama completa de vinhos através de provas realizadas na adega da quinta. Vamos ao brinde! •
+ Comissão Vitivinícola do Algarve
+ Quinta do Morgado da Torre
+ Quinta dos Vales
+ Garrafeira Soares
© Fotografia: João Pedro Rato
Legenda da foto de entrada: A piscina infinita da Quinta dos Vales
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