A versatilidade do Vinho do Porto / The Sandeman Chiado

O largo Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa, ganhou um novo inquilino, onde um dos mais célebres legados da mais antiga região demarcada do mundo é apreciado sem preconceitos e eleito o protagonista de um repasto, do princípio ao fim.

O enigmático Don envolto na capa negra e com o sombrero de cavaleiro espanhol

É um wine bar e um restaurante no coração da capital portuguesa. Falamos do The Sandeman Chiado, uma homenagem pura e dura ao Vinho do Porto com a cozinha tradicional portuguesa eleita como o par perfeito para ajudar a desmistificar ideias preconcebidas e, deste modo, levar de volta tão vetusta herança aos portugueses e, ao mesmo tempo, rejuvenescer a incontornável figura envolta na capa negra de um estudante de Coimbra e o sombrero de um cavaleiro espanhol da região de Jerez, num espaço decorado pleo gabinete de arquitetura de interiores de Paulo Lobo, que primou pela combinação de elementos ligados ao Vinho do Porto.

Os recantos são o convite perfeito para um repasto sereno em plena Lisboa

Para começar, e num singelo desafio à tradição, rompeu-se com o cálice, sendo este substituído ora pelo copo de vinho, no qual o Vinho do Porto é servido à temperatura recomendada, ora por uma panóplia de copos onde os cocktails são servidos à mesa, numa clara demonstração de que “o Vinho do Porto é, no fundo, mais versátil do que as pessoas pensam”, assegurou Duarte On’Neill, gestor de negócio B2C da Sogrape Vinhos.

Eis o caráter atual e cosmopolita de uma referência com mais de 225 anos cuja “grande descoberta está na carta”, garantiu. Para o efeito reuniram uma equipa interna da Sogrape e dois chefs – Luís Américo, da Cantina 32, e João Pupo Lameiras, da Casa de Pasto da Palmeira ou do Bacalhau, do Porto –, esmiuçaram o portefólio da Sandeman e criaram os pratos que combinam com um Sandeman.

“(…) uma carta baseada numa matriz pura e dura de wine paring (…)”

Porém, Luís Américo quis ir mais além: “Elaborou uma carta baseada numa matriz pura e dura de wine paring, na qual um produto é confecionado de três formas distintas, casando com três vinhos diferentes e um cocktail específico.” Por sua vez, João Pupo Lameiras entrou em cena devido à “forte ligação que tem com o Vinho do Porto” tendo, por conseguinte, dado o seu contributo na cozinha do The Sandeman Chiado.

Portanto, “a grande descoberta está na carta”, declarou Duarte On’Neill ao mostrar o menu preparado a quatro mãos e revelador de uma cozinha portuguesa, feita a partir de recursos nacional “e muito transversal às épocas do ano”, por isso, e “para já, esta foi feita para durar seis meses”, abrindo caminho para dois pratos de origem espanhola – o salmorejo, uma espécie de gaspacho para degustar como entrada, ou as canilhas recheadas com queijo de cabra, mel e nozes, para rematar o repasto.

Eis o mote para abrir o apetite, desta feita, com os cocktails divididos entre quatro clássicos Sandeman – o Sangria, o Splash (o primeiro Porto tónico, criado nos anos 1950’), o On the Rocks (Vinho do Porto servido com gelo) e o Caipi (Caipirinha de Vinho do Porto branco) – e 12 propostas originais assinadas pelo bartender Kiko Pericoli (da Double 9), com a descrição das respetivas receitas, dos quais destacamos o Port au Passion, um tributo às tardes de calor, e o refrescante King Basílico, bem como o 1790 Rare Fashioned, o tributo ao ano da fundação da Sandeman, o One Eight Zero Five, referente à data em que a Sandeman passou a marcar as barricas com o logótipo GSC gravado a ferro quente, o Honey, I’m Don, em honra à misteriosa figura associada à Sandeman, ou o Devilish Centaur, numa reedição da figura do Centauro, elemento marcante dos cartazes da marca, entre outros.

Manteiga de alho assado e queijo creme fumado, pão e telhas crocantes abrem as hostes à mesa

Segue-se o couvert, composto por manteiga de alho assado e queijo creme fumado, pão e telhas crocantes, que valem a pena provar, mas sem exageros, até porque as propostas que se seguem são tentadoras, como as tábuas mistas de queijos e enchidos, as saladas com mozzarella ou com salmão, as sandes e as tostas de Rosbife, o salmorejo e a abóbora, para degustar no interior ou na esplanada, ao ar livre.

Línguas de bacalhau com puré de cebola negro e presunto de porco preto

Para petiscar e partilhar ao almoço ou ao jantar, a sugestão pode recair numas viciantes línguas de bacalhau, aqui acompanhadas com puré de cebola negro e presunto de porco preto, para harmonizar – e bem – com um Sandeman Ruby Porto.

Rosbife com jus de carne e rábano picante

O mesmo Vinho do Porto é o eleito para acompanhar o mui suculento e bem combinado rosbife com jus de carne e rábano picante.

Vieiras com molho de caril thai e maçã verde

Já para as vieiras com um refrescante molho de caril thai e maçã verde foi escolhido um Tawny de 10 anos e dada preferência à alface iceberg com queijo parmesão e vinagrete de mostarda e mel – uma das quatro opções da carta elaboradas para acompanhar os pratos.

O arroz de pregado e camarão vale para dois

E porque não se quis pôr de parte a comida ‘a sério’, há duas propostas de peixe – cevadotto (uma espécie de risotto feito com cevadinha) de línguas de bacalhau, chouriço e coentros ou o memorável e bem caprichado arroz de pregado e camarão – e três de carne – bifão com batata doce e manteiga de alho assado, arroz de pato com fumeiro à lareira e a feijoada de pernil de porco –, e todas são servidas no tacho, para partilhar… ou nem por isso. Apesar de ter aberto portas há cerca de um mês “já há best-sellers, comentou Duarte O’Neill – o cevadotto de línguas de bacalhau e o arroz de pregado e camarão feito para casar com um Sandeman Ruby Porto.

Agitemos o palato com o pão-de-ló, queijo da Serra DOP, doce de ovos, redução de Vinho do Porto e gelado de canela

Para terminar há seis sobremesas à escolha, além do gelado e da fruta da época, enquanto as trufas Sandeman são ideais para acompanhar o café.

Maçã caramelizada, espuma de leite condensado e crumble de canela

Em cima da mesa estão, contudo, duas doces iguarias: Pão-de-ló, queijo da Serra DOP, doce de ovos, redução de Vinho do Porto e gelado de canela; e a maçã caramelizada, espuma de leite condensado e crumble de canela servido morno q.b., de comer e chorar por mais. De Baco, a harmonização cabe a um tawny e a um ruby, respetivamente.

Ainda em “soft opening”, segundo Duarte O’Neill, o The Sandeman Chiado não é um projeto criado para os turistas, mas sim com o intuito “de trazer de volta a marca aos portugueses”, sobretudo aos Millenials, que manifesta ser “um público mais sofisticado”, que valoriza o detalhe, não apenas à mesa, mas também em redor.

Os objetos da sala do piso superior aludem aos trabalhos no Douro vinhateiro

A começar pelo pavimento inspirado nos tacos usados, outrora, nas caves para fazer rolar as barricas, e pela figura de Don, ao balcão, sob um teto forrado com barrotes de madeira maciça, onde os tons ocre do latão contrastam com o negro característico da marca de Vinho do Porto, em ambos os pisos, ligados por uma escada, ao cimo da qual estão 44 ilustrações que são o resultado de ampliações feitas a gravuras do ilustrador William Prater, as quais pertencem ao espólio da Sandeman e retratam as histórias da dura história do Douro.

A sala de provas de Vinho do Porto

Contíguo a este lobby está a sala mais intimista da casa salas, dominada por tons quentes e agraciada pela luz do sol, com a decoração dominada por distintos objetos relacionados com a ancestralidade do Douro vinhateiro; e uma outra, de maior dimensão, reservada a provas vínicas, entre outros eventos particulares.

Um espaço para desfrutar e degustar um repasto tranquilo em plena cidade de Lisboa, com um serviço descontraído e, ao mesmo tempo, cuidadoso, sob a responsabilidade de Mariana Seabra. A marcar reserva na agenda, de segunda a domingo, das 11.30 às 00 horas (exceto 25 de dezembro e 1 de janeiro), estando o edifício preparado para pessoas com mobilidade reduzida.

Bom apetite! •

+ The Sandeman Chiado
© Fotografia: João Pedro Rato

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