Os 325 anos da Taylor’s serão levados por mares há muito navegados

De uma reunião com Adrian Bridge, director geral da Taylor’s, marcada para as 18 horas de um Domingo, o navegador solitário Ricardo Diniz viu concretizado um sonho que, numa súmula, se traduz em duas travessias no mui vasto Atlântico: A rota do Vinho do Porto e a regata da OSTAR 2017. A primeira em que irá participar um português.

O velejador Ricardo Diniz, a fadista e madrinha do veleiro, Mafalda Arnaut, e Adrian Bridge, director geral da Taylor’s

Inspirada na ligação marítima que envolveu muitos portugueses ao longo de várias décadas, a viagem solitária a protagonizar por Ricardo Diniz, de 40 anos, será o testemunho de uma parceria que irá, antes de mais, recriar a primeira exportação de Vinho do Porto feita pela Taylor’s, desde Vila Nova de Gaia às margens do rio Tamisa, em Londres, a bordo de um veleiro resgatado e restaurado, no estaleiro de Portimão, da proa à popa, de bombordo a estibordo e com o registo de 20 metros de comprimento, um mastro com 23 de altura – cuja vela principal foi desenhada em Portugal e fabricada em Itália –, e o peso de 12,5 toneladas.

Desta feita, o navegador solitário português partirá a 2 de Maio, na companhia de um casco, contendo uma edição especial e limitada concebida para comemorar os 325 anos da Taylor’s, o qual terá de ser entregue em terras de Sua Majestade, ao que se seguirá um evento na Torre de Londres, de acordo com as palavras de Adrian Bridge, director geral da Taylor’s, que se mostrou confiante nesta epopeia: “Esta parceria aconteceu muito naturalmente pois une terra e mar, história e futuro, assente em valores partilhados como determinação, coragem e resiliência, atributos essenciais tanto para a navegação solitária como para a produção e venda de vinho do Porto.”

Sobre a Taylor’s importa relembrar que é uma das primeiras casas de Vinho do Porto, fundada pelo comerciante inglês Job Bearsley que, em 1692, chegou a Portugal, para se iniciar neste universo vínico muito peculiar e que, hoje, possui um portefólio alargado de Vintages da emblemática Quinta de Vargellas, bem como da Quints da Terra Feita e da Quinta do Junco, além de que foi a criadora do LBV (Late Bottled Vintage), a pioneira do Chip Dry, o primeiro Porto Seco Branco, e na concepção do primeiro Vintage Single Quinta.

A data prevista para a chegada de Ricardo Diniz a bom porto é 10 de Maio, para a 29 do mesmo mês partir para outro desafio, a 15.ª edição da OSTAR (Original Singlehanded Transatlantic Race), com Plymouth na casa partida.

O primeiro português na OSTAR

É de Plymouth, a cidade portuária do sudoeste da Inglaterra, que Ricardo Diniz irá partir rumo a Newport, Rhode Island, nos Estados Unidos da América. O objectivo é cruzar o Atlântico Norte numa viagem solitária que irá durar mais de um vintena de dias, no âmbito da OSTAR, prova que irá contar, deste modo, com a estreia de um velejador português.

Ao mesmo tempo, o protagonista desta história levará, uma vez mais, além fronteiras, e por mar há já muito antes navegados, a portugalidade através de uma modalidade que define como sustentável ou não se tratasse de um barco à vela munido de oito painéis solares e com uma pequena horta a bordo.

“Vou sozinho, mas não me sinto sozinho”, garantiu Ricardo Diniz durante o passeio de barco, na tarde soalheira de 6 de Abril, data escolhida para a apresentação deste duplo desafio, no Tejo, ao largo de Lisboa, já depois do veleiro ter sido baptizado a bom rigor pelo Padre Vítor Melícias e levando, a bordo, a madrinha, a fadista Mafalda Arnaut. “No mar tenho golfinhos, baleias, tenho as estrelas”, explicou dando a resposta à pergunta de um pequeno curioso que se encontrava a bordo. “Não há muralhas, mas há navios e barcos de pesca”, por isso, todos os sentidos têm de permanecer alerta, o tempo inteiro, mesmo enquanto descansa. E com a viagem será também preciso fazer a manutenção sempre que for necessário, desde pintar, verificar os cabos… “Temos comida suficiente para ir à Madeira” atira, de repente, como se de um desafio se tratasse, fazendo jus ao velho ditado: “Quem vai ao mar avia-se em terra.”

O mesmo ditado popular terá efeito aquando da grande viagem, para a qual levará comida para 40 dias.

Sonho de criança tornado realidade

Foi com oito anos que, com o pai, visitou o Museu Marítimo Nacional, em Greenwich, Londres, viu o veleiro Gypsy Moth, de dimensões exíguas, com o qual Sir Francis Chichester, velejador solitário a volta ao Mundo. Uma realidade que, logo, despertou a vontade de ir mais além no mar, do que já fazia com a sua prancha bodyboard.

Desde esse tempo que Ricardo Diniz de tudo fez para arranjar dinheiro, com o objectivo de conseguir concretizar o seu próprio sonho – fazia os presentes que, depois, oferecia aos amigos; lavava, arranjava e vendia pranchas velhas; arranjava bicicletas, com o propósito de as colocar à venda; lavava carros, fazendo disso um bem necessário; vendia bolos na praia. Ou seja, enquanto os amigos iam para “as esplanadas beber um sumo de laranja por três euros, eu praticamente plantava laranjeiras”, resumiu. Mas também os livros de Francis Chichester e outros do mesmo género literário passaram a fazer parte da biblioteca de Ricardo Diniz, que fez a primeira viagem oceânica em 1996, entre Portugal e Inglaterra e, desde esse tempo, desenvolve projectos, missões e expedições, no sentido de apregoar Portugal aos ventos, com gestos singulares, como a entrega, em mãos, de uma garrafa de Vinho do Porto à Rainha Isabel II de Inglaterra, em 2006, por ocasião do 80.º aniversário de Sua Majestade e do 260.º aniversário do Douro como a mais antiga região demarcada do Mundo; ou a ida, por mar, do rally Dakar, com a finalidade de chamar a atenção para o potencial das energias renováveis, entre outras epopeias que o fizeram conhecer Mundo.

À medida que ia contando as proezas de menino, o seu rosto, marcado pelo sol e pelo sal, enchia-se de uma felicidade imensa e com a mesma felicidade via o filho mais velho, Miguel, a ajudar no barco, com os cabos e a vela, fazendo jus a outro ditado: “Filho de peixe, sabe nadar.” •

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© Fotografia: João Pedro Rato

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