NO WALLS Oeiras ou o desafio à liberdade a céu aberto

Sem preconceitos, sem barreiras. Para reflectir e incitar à interpretação individual sobre o todo. Eis a intervenção artística que invade o espaço público do concelho de Oeiras, desenhando um circuito artístico no qual vale a pena embarcar.


“Hope Needs Action”, de Filippo Fiumani, ou a urgente mudança de atitude perante o que parece ser descartável


No alinhamento da candidatura de Oeiras a Capital Europeia da Cultura 2027, o município decidiu ir mais além no contexto da plataforma cultural Mural 18 – programa baseado na criação de uma rede entre os 18 municípios pertencentes à Área Metropolitana de Lisboa. Voltou a convidar a Mistaker Maker – plataforma assente na intervenção artística – e desafiou a Lara Seixo Rodrigues, para desenhar um projecto autónomo, que incidisse num circuito artístico constituído por peças de intervenção artística. À semelhança da génese das manifestações espontâneas que surgem em espaço urbano, “o desafio consistiu em fazer algo que tivesse impacto e que despertasse a reflexão e a livre interpretação de cada peça”, explica a curadora do NO WALLS, designação atribuída a esta iniciativa promovida pela Câmara Municipal de Oeiras.

“Todos tiveram a liberdade para fazerem o que quisessem, sem limites, sem barreiras”, continua Lara Seixo Rodrigues. Assim, ficou estabelecida a ode à liberdade, palavra-chave desta acção que envolve nove artistas reconhecidos e nomes emergentes e, por conseguinte, plasticidades distintas num único formato – o monolito que, apesar de apresentar sempre as mesmas medidas, serve apenas de suporte a diferentes manifestos.

As estruturas do NO WALLS estão espalhadas pelo concelho, formando um roteiro cultural que tem como objectivo “proporcionar o debate”, segundo Isaltino Morais, presidente da Câmara Municipal de Oeiras.

É precisamente em Oeiras que está a peça “Todos os Sonhos”, de Raquel Belli. Mãe, fotógrafa e artista visual, promove uma alusão à liberdade criativa , que aqui é representada através da imagem de uma criança a mergulhar, uma obra manual inspirada na calçada portuguesa a contemplar com vagar, na Avenida da República, em Oeiras, para melhor perceber o movimento das tiras em plástico que a compõem, a lembrar a tecelagem manual.


O mar é o ponto de partida de “Um Dia Destes”, de Mário Belém


Sem uma direcção definida e com total liberdade para prosseguir, o próximo destino é marcado pelo trabalho de Mário Belém que, com “Um Dia Destes”, leva a que todos parem junto ao Forte de São Bruno, em Caxias, para observarem a liberdade aqui retratada e intrinsecamente relacionada com o imenso mar, que nos transmite paz, mas que, por vezes, nos deixa à deriva e numa constante procura.

Sigamos para o Centro Desportivo Nacional do Jamor, em Cruz Quebrada/Dafundo, onde The Caver  apresenta o seu “Take a Breath” na natureza, seguindo-se Linda-a-Velha, com Nuno Alecrim, a.k.a. Alecrim, que mostra a sua linguagem pictográfica sob o título “Liberdade é Ouro” numa alusão à expressão popular “o silêncio é de ouro”.

A técnica, associada à sabedoria de outrora, está patente na peça da autoria de Aheneah, intitulada “Freedom”. A artista e designer gráfica portuguesa tem obra instalada junto ao Palácio Ribamar, em Algés, com “uma versão mais urbana do ponto cruz”, que aprendeu na infância, com as suas avós, e aqui está associa ao “Flower Power”, movimento criado na década de 1960, “numa perspectiva de liberdade no mundo virtual” trabalhada com lã de Arraiolos de várias cores. Também em Algés está “Hope Needs Action”, peça de Filippo Fiumani, a.k.a. Mani, artista italiano, que reutiliza o plástico como base dos seus desenhos coloridos que, no seu conjunto, dão forma a crianças.


A peça de MaisMenos revela a sua inigualável arte de comunicar com as palavras


 “Monumento à Street Art” é o nome que Miguel Januário, a.k.a. MaisMenos, deu à sua estrutura concebida em realidade aumentada, instalada no Centro Cívico de Carnaxide. Formado em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, cidade onde nasceu, escolhe a palavra “Liberdade” como essência da street art versus o lado comercial, o poder político, o espectáculo, que hoje em dia estão tão associados a esta arte. “É uma intercepção entre ambas as partes”, afirma. Para visualizar a mensagem do artista portuense, basta descarregar (gratuitamente) a aplicação Artivive e filmar.



As mensagens de João Varela remetem para a indissociável relação existente entre liberdade e educação


Igualmente colorida é “Signs for Freedom”, designação que João Varela atribuiu à sua peça situada em frente à Escola EB 1/JI Narcisa Pereira, em Queijas. Nela expõe o seu trabalho, baseado na sua paixão, a tipografia, aqui representada através de diferentes formatos e tamanhos, desenhados pelo designer, dando corpo a várias mensagens assentes numa relação entre liberdade e educação ou “na educação para a liberdade, através da transmissão de boas mensagens, que inspirassem os miúdos”, o que resultou numa “interacção muito positiva com as crianças da escola” aquando da execução da instalação no local.


André da Loba e a liberdade proporcionada pelo movimento

Terminemos o roteiro de intervenção artística no espaço urbano na Estação da CP Massamá, em Barcarena, com André da Loba, que retrata a liberdade numa alusão ao movimento do comboio, à proximidade e ao encontro proporcionados por este meio de transporte, bem como à diversidade socioeconómica e cultural existente entre o ponto de partida e o de chegada.

“Cada uma destas peças pode contribuir para o sentido de pertença do seu território”, enaltece Isaltino Morais, referindo-se aos munícipes, mas também a quem vem de fora. Sem data final à vista, a probabilidade de a NO WALLS Oeiras vir a aumentar está em aberto.

A visitar, sem limites!

+ NO WALLS Oeiras

+ Mistaker Maker

© Fotos: D.R.

[Legenda da foto de entrada: “Freedom”, a peça da autoria de Aheneah, que une o ponto cruz com o movimento “Flower Power”]

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