João Portugal Ramos foi homenageado na gala “Os Melhores do Ano 2023”, iniciativa promovida pela Revista de Vinhos. Em 23 categorias, estes troféus celebram «a excelência portuguesa» no vinho e na gastronomia.
A homenagem aos 43 anos de carreira do enólogo e produtor João Portugal Ramos foi o ponto alto da 27.ª edição dos prémios “Os Melhores do Ano 2023”, organizados pela Revista de Vinhos, publicação detida pela Essência Company, numa cerimónia que reuniu cerca de mil pessoas na Sala do Arquivo do Centro de Congressos da Alfândega do Porto.
A atribuição do prémio “Homenagem”, no passado dia 9, teve como objetivo reconhecer o percurso do enólogo que «operou uma autêntica revolução no Alentejo, razão pela qual muitos o colocam como pai dos vinhos modernos alentejanos». O seu trajeto passa também pela produção no Tejo, Douro e Vinhos Verdes.
«É cada vez mais difícil encontrarmos alguém que tenha construído em nome próprio uma carreira tão valiosa quanto a de João Portugal Ramos, razão pela qual entendemos que o setor do vinho lhe devia uma homenagem, que permitisse valorizar o tanto que aportou de novo ao Alentejo, num primeiro momento, e aos vinhos portugueses como um todo, na atualidade», explica o diretor da Revista de Vinhos e fundador da Essência Company, Nuno Guedes Vaz Pires.
No entender deste responsável, João Portugal Ramos é «alguém a quem o mundo do vinho muito deve pelo papel pioneiro que teve, e tem, pelo legado que construiu e por ter levado o nome de Portugal mundo fora».
Perante o aplauso da plateia, João Portugal Ramos subiu ao palco para dizer que o negócio do vinho é «apaixonante» e que tem «uma mística especial». Destacou a evolução registada desde 1986, data da adesão de Portugal à Comunidade Europeia, e afirmou que a sua geração de enólogos fez «duas coisas importantíssimas». Primeiro, «conseguiu convencer os produtores a mudar o chip, a mudar o “mindset”, fazê-los compreender que tinham que fazer bem e ter em atenção o detalhe, sabendo que é na soma de todos os detalhes, sem descurar nenhum, que surge a excelência». Em segundo lugar, registou-se a valorização dos enólogos: «Quando cheguei ao Alentejo, há 43 anos, o enólogo era uma pessoa simpática, que fazia umas análises, a quem se pagavam uns almoços de vez em quando e pouco mais. Hoje em dia, é impensável, numa empresa que queira vingar no setor, não ter um enólogo a decidir as decisões estratégicas mais importantes e em muitos casos até serem membros das respetivas administrações», referiu.
Para além desta distinção, assinalando os 20 anos da Essência do Vinho – Porto, o evento que esteve na origem da Essência Company, que decorre de 22 a 25 de fevereiro, no Palácio da Bolsa, foram homenageados os ministros da Agricultura que tutelaram a pasta desde 2004: Armando Sevinate Pinto, Carlos da Costa Neves, Jaime Silva, António Serrano, Assunção Cristas, Luís Capoulas Santos e Maria do Céu Antunes.
«Vivemos uma época em que é fácil criticar quem trabalha na causa pública, mas acredito que também devemos elogiar quem abdica de muito por acreditar que na esfera estatal ainda é possível fazer bem», justificou Nuno Guedes Vaz Pires.
Em representação dos homenageados, Jaime Silva declarou que o vinho é «um setor de excelência em Portugal». A ministra em exercício, Maria do Céu Antunes, enviou uma mensagem de agradecimento, transmitida pelo presidente do Instituto do Vinho e da Vinha, Bernardo Gouvêa, na qual destacou a importância do setor vitivinícola para a balança do setor agroalimentar nacional e para a economia portuguesa. «É a fileira vinho quem mais contribui de forma positiva, com um valor superior a 780 milhões de euros, para o que é a balança comercial nacional do agroalimentar», escreveu, enfatizando que o vinho tem feito «brilhar» a gastronomia, o turismo e a imagem de Portugal em todo o mundo.
Bernardo Gouvêa aproveitou a presença do ministro da Saúde, Manuel Pizarro, para lhe pedir que ajude o setor a passar junto da Comissão Europeia a perspetiva que este governante tem protagonizado em Portugal, que o vinho «não é um produto nocivo para a saúde, que o vinho consumido moderadamente não é o mesmo que álcool».
Este responsável desafiou a organização para que, na próxima edição da gala, convide o ministro do Ambiente, argumentando que a Saúde e o Ambiente são «os dois maiores problemas» com que a viticultura se depara. «A Saúde pode condicionar, e vai condicionar em muito, no futuro, a política fiscal e a capacidade comercial e de promoção das empresas de vinho. O Ambiente está a condicionar, através das políticas europeias e dos objetivos extremamente ambiciosos, a capacidade de adaptação e de atuação dos viticultores portugueses e europeus», sustentou.
Naqueles que são apelidados de «óscares do vinho e da gastronomia» em Portugal, o vencedor da categoria Personalidade do Ano no Vinho foi Juan Carlos Escotet (CEO Sogevinus). O prémio de Vinho do Ano foi para o Czar 2014 (licoroso, Fortunato Garcia, Pico, Açores); Produtor do Ano para Quinta da Alorna (Tejo); Produtor de Vinhos Fortificados do Ano para Barbeito (Vinhos Barbeito, Vinho Madeira); Produtor Revelação do Ano para Azores Wine Company (Pico, Açores); Empresa do Ano para Falua (Tejo, Vinho Verde, Douro); Marca do Ano para Muralhas de Monção (Adega Cooperativa de Monção); Enólogo do Ano para Luís Cabral de Almeida (Sogrape); Enólogo Revelação do Ano para Mariana Salvador (Textura Wines, Revela, Vinhos Barbeito); Sommelier do Ano para Ricardo Morais (JNcQuoi); Loja/Garrafeira do Ano para Garage Wines (Matosinhos); Enoturismo do Ano para Caves Niepoort (Vila Nova de Gaia); Inovação/Investigação do Ano para PreVineGrape (Deifil Technology, Sogrape, João Nicolau de Almeida & Filhos, IPB e ADVID); Distribuidor do Ano para Garrafeira Soares; e Personalidade do Ano no Brasil para João Roquette.
Em relação à gastronomia, a Personalidade do Ano é João Rodrigues (restaurante Canalha); Restaurante do Ano Ferrugem (Vila Nova de Famalicão); Serviços de Vinhos do Ano Rocco (Lisboa); Chefe de Cozinha do Ano Marlene Vieira (Marlene, Lisboa); Chefe Revelação do Ano Nelson Freitas (Fifty Seconds, Lisboa); Produtor Artesanal do Ano Landscape Farm (Santarém) e Destino Gastronómico do Ano Viseu.
«Neste momento de celebração da excelência portuguesa nesta área, fica evidente que o país tem muitos bons pretextos para encarar o futuro com otimismo», resumiu Nuno Guedes Vaz Pires.