2015 saúda 2024 com Barca-Velha

Embarque na 21.ª edição desta icónica referência da Sogrape, apresentada no Paço Ducal de Vila Viçosa, no Alentejo.
Luís Sottomayor, enólogo da Casa Ferreirinha, e Fernando da Cunha Guedes, CEO da Sogrape

A escadaria do Paço Ducal de Vila Viçosa, constituída por dois lances e reservada aos frescos representativos da Tomada de Azamor, pelo 4.º Duque de Bragança, D. Jaime, encaminham os visitantes ao primeiro piso do Paço Ducal de Vila Viçosa. Afinal, fora D. Jaime quem, em 1501, determinou a construção deste majestoso edifício intrinsecamente ligado à Casa de Bragança. Indissociável é também a recuperação financeira realizada por parte do Rei D. Carlos (1863-1908), bem como a revitalização de alguns dos espaços aquando do incêndio ocorrido em finais do século XIX nesta imensa obra arquitectónica da coroa portuguesa. Sem esquecer o rigor do traço deste rei-pintor que, entre aguarelas, pastéis – técnica desenvolvida de forma superlativa – e carvão, fascina, ainda hoje, os nascidos em era republicana.

Tamanho engenho evolui com a passagem do tempo, mas precisa da precisão de um mestre. A matéria-prima certa é o primeiro passo, para dar azo à sublimação do produto final. Luís Sottomayor, enólogo da Casa Ferreirinha desde 1989, a qual coordena desde 2007, sabe como associar a qualidade da matéria-prima e o tempo na vinha, na adega e na garrafa. Este trabalho de grande responsabilidade incrementa com a declaração de cada colheita de Barca-Velha. 

A primeira colheita de Barca-Velha proclamada por Luís Sottomayor (o terceiro enólogo responsável por esta referência vínica, depois de Fernando Nicolau de Almeida, que criou este emblemático vinho com a colheita de 1952, e de José Maria Soares Franco) é de 2000, seguindo-se as de 2004, 2008 e 2011. Eis, agora, a sua quinta edição de Barca-Velha – a 21.ª edição desta icónica referência da Sogrape. Trata-se do Barca-Velha 2015 – tinto, subentenda-se. O requisito maior? Elegância. Este atributo começa na vinha, onde a “prodigiosa” Natureza contribui para a dádiva esperada pelo Homem, mas que, “em situações difíceis permite fazer coisas como este Barca-Velha”, afirma o enólogo, referindo-se a esta colheita de 2015 – “um ano com desafios muito grandes”, com um Inverno e uma Primavera secos, um Verão quente, “um Agosto moderado e um Setembro com alguma chuva”. O resultado? “A boa maturação das uvas”, acrescenta, referindo-se às castas Touriga Francesa, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinto Cão de Sousão, vinificadas com o rigor de um mestre. Sem fórmulas, mas com o indispensável vagar, esta colheita de 2015 foi submetida a um estágio de nove anos até, finalmente, se tornar no Barca-Velha.

Retiro das artes, da caça e de banquetes
Cozinha do Paço Ducal de Vila Viçosa

Sobre a delicadeza do traço do Rei D. Carlos, é de conhecer o acervo deixado no Paço Ducal de Vila Viçosa, a par com as obras dedicadas à marinha, no Museu do Mar, em Cascais, ou às espécies marinhas, no Aquário Vasco da Gama, inaugurado em 1898, por exemplo. Conhecido pela sua exímia pontaria, “O Diplomata”, cognome que lhe fora atribuído no seu reinado, não raras vezes escolhia esta vila raiana para a caça, cujas peças protagonizaram as ementas ilustradas pelo rei-pintor.

Foram nestes menus palacianos que o chef João Rodrigues (restaurante Canalha, Lisboa) se inspirou para desenhar, mais concretamente “nos pratos do receituário francês” da época, “de sabores clássicos, fortes, e com muita complexidade”. Só como exemplo, ficam aqui a galantina de galinha (coberta por uma camada de geleia, daí o nome galantina) e foie gras, a perdiz vermelha com molho Périgord e o Sabayon de morangos macerados em Vinho do Porto, pratos confeccionados para o jantar de celebração de tão aguardado momento, a apresentação do Barca-Velha 2015. 

Do lado dos vinhos não faltaram os clássicos, como o Casa Ferreirinha Quinta da Leda tinto 1999 (preço sob consulta), o Sandeman Porto Tawny 50 Anos (€275), o Sandeman Porto Vintage 1970 e, claro, o Barca-Velha 2015 (€860 na loja das Caves Ferreira). Acrescente-se a Aguardente Ferreirinha (preço sob consulta), que rematou o jantar servido na cozinha do Paço Ducal de Vila Viçosa, entre uma copiosa colecção de peças em cobre e bancadas em mármore. É de acrescentar o alternativo Série Ímpar Curtimenta branco (€75), que resulta do desafio feito por Luís Sottomayor aos enólogos da Sogrape e que reúne três castas: Viosinho, da Quinta do Cavernelho, localizada na sub-região duriense do Baixo-Corgo; Arinto, da Quinta do Sairrão, no Cima-Corgo; e o Alvarinho, da Quinta do Castanheiro, situada no Douro Superior. As três variedades de uva são, respectivamente, das colheitas de 2017, 2018 e 2019, e estagiaram entre nove e 33 meses em barrica. 

Mas porquê o Alentejo? Fernando Cunha Guedes, CEO da Sogrape, procura sempre um sítio emblemático e surpreendente – já o fez em Sintra e em Lisboa – tal como é o Barca-Velha, reforçando a necessidade de “entreajuda entre as regiões” vitivinícolas do país, para que haja um maior reconhecimento do vinho português além fronteiras.

Brindemos!


Sogrape
© Fotografia: D.R.

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