Em permanente diálogo das artes com a Natureza 

“Uma Semente Cria uma Floresta”. Eis o princípio da Natureza representada a partir de uma instalação de Roger Rigorth, a terceira de um circuito artístico a céu aberto, na Quinta do Pisão, em Cascais, com curadoria de Sofia Barros.

A gruta de Porto Covo testemunha a presença do Homem desde há milhões de anos. Esta história remonta aos períodos Neolítico e Calcolítico, Idade do Bronze e Idade do Ferro. Dos compêndios desta disciplina, há registos da Quinta dos Perrinhos, nome substituído, no século XVIII, por Quinta do Pisão, aquando da compra por parte da Real Fábrica de Lanifícios de Cascaes, já que os tecidos eram batidos com o pisão, para que ficassem mais resistentes. 

Muitas outras histórias deram vida a esta propriedade de 380 hectares integrada no Parque Natural de Sintra-Cascais. Aqui, o património natural suplanta as expectativas, entre espécies autóctones e outras provenientes de vários cantos do mundo. E tudo tem origem a partir de uma semente, um “casulo” – um ventre –, do qual surgem os rebentos, o tronco, os ramos, as folhas, que ganham dimensão a par com a passagem dos anos. Tudo se deve às “informações” contidas em cada semente e tudo acontece com tempo, tamanha é a sagacidade do ecossistema. Grandiosidade e graciosidade são representadas através da estrutura em ferro e “tecelagem” de corda moldados em forma de casulo, como se do ventre da Natureza se tratasse, sob o título “Uma Semente Cria uma Floresta” – uma bolota, no sentido figurado.

Eis o princípio de toda a floresta figurado na peça da autoria do artista alemão Roger Rigorth, instalada num carvalho (Quercus Suber), uma infinita ode à generosidade artística da Natureza, num lugar em evolução e sobrevivência permanentes. Aqui, o silêncio serve apenas de palco ao som do vento, ao barulho das aves e ao momentâneo ruído dos outros animais – ou de quem escolhe o espaço circundante para um piquenique em família.

O artista ambiental foi convidado para fazer parte do circuito de arte ambiental da Cascais Ambiente. A direcção artística e curadoria está nas mãos de Sofia Barros, nome indissociável a projetos ligados à Natureza, à arte, ao ambiente e à educação. Sobre esta última, a curadora a importância da ligação a todas as formas de expressão artísticas.

Para Sofia Barros, a arte, disciplina que acicata a reflexão, tem sempre um propósito. “Diria que o papel fundamental do meu trabalho enquanto directora de arte é acrescentar valor às comunidades através de intervenções artísticas que provoquem discussões necessárias em relação a tópicos cruciais, como as alterações climáticas, a ligação com a Natureza, entre outros. Há um claro caminho pedagógico no âmago do meu trabalho e pretendo deixar um legado às futuras gerações através dele.”

Mas esta não foi a primeira intervenção de Sofia Barros na Quinta do Pisão. Em 2017, ano de seca extrema no país, a directora de arte e curadora abre caminho para que nascesse uma escultura, que sensibilizasse para as alterações climáticas. Chama-se “Rise and Fall” e é do artista britânico Stuart Ian Frost. Esta instalação tem como origem um eucalipto-azul-da-Tasmânia (Eucaliptus Globulus). A árvore, de 15 metros, está cravejada de centenas de gotas de água, numa sucessiva alusão a lágrimas, em representação da carência de água no ano desta obra-prima.

No alinhamento desta sintonia e diálogo ininterruptos com a Natureza, Sofia Barros escolhe o artista Will Beckers. O reconhecido “arquitecto da Natureza” construiu “O Sonhador”. Esta instalação é feita a partir de ramos de árvores, em total aproveitamento do que a Natureza oferece ao Homem, representativa da relação milenar entre ambos, tal como se comprova com a referida gruta de Porto Covo.

O acesso a esta instalação é feito por um percurso desenvolvido também para os deficientes invisuais, ao longo do qual  estão instaladas descrições em Braile sobre a envolvente. Aos mais novos, recomenda-se o trilho do Cuquedo, protagonista de histórias infantis disponíveis para venda na Loja da Quinta instalada na Casa da Cal. Este espaço de boas-vindas reúne a valência de núcleo expositivo e de mercearia, com produtos biológicos da Horta da Quinta, onde, desde 2013, toda a actividade agrícola está centrada nos hortícolas e nas frutas de época.

É ir!

Quinta do Pisão
© Fotografia: João Pedro Rato

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