No encalço de Tom Brosseau

Mais um concerto, mais uma viagem. Depois dos inspirados a Jigsaw, no passado sábado num cenário ímpar, os ouvidos sintonizam-se agora nos E.U.A. com Tom Brosseau, o senhor que se segue no “Sons do Bussaco – Ciclo de Concertos de Músicas do Mundo”, no Convento de Santa Cruz – Mata Nacional do Bussaco.

Senhor de um já longo curriculum, uma dezena de álbuns editados; um contador de estórias numa lírica invejável (é para ouvir cada palavra entoada com o mais desperto dos ouvidos); canções partilhadas com John C. Reilly, Andrew Bird, Sean Watkins, Gregory Page, entre outros; uma folk afinada de uma composição tudo menos simples; voz e postura delicadas de quem tem na música um existir; um nome que, por cá, ainda há ouvidos que desconhecem a sua sonoridade superlativa.

Nascido em Grand Forks, North Dakota, a música existe desde o berço com a avó e seu bluegrass, e com o pai que além de ter uma banda tinha em casa uma apetecível coleção de discos. Bastou, para a música ser uma forma de estar, natural, na vida. No passado setembro Tom Brosseau lançou “North Dakota Impressions”, álbum que nos chega como o terceiro de uma trilogia onde contam também os álbuns “Grass Punks” e “Perfect Abandonment”. Fecha-se um ciclo que muito certamente se cruzará com outros e dará início a outros tantos. “North Dakota Impressions” é uma viagem ímpar às origens de Brosseau, à sua infância, a episódios marcantes, ao seu crescer numa cidade distante do bulício dos grandes centros urbanos, à sua ligação com a religião, ao lar a que se chama casa, ao amor e inevitáveis desamores – “Nobody To Call My Own“… , ao lugar do coração. É uma viagem que nos faz ver toda uma cidade e sua vivência através da palavra e da música… É música descritiva, e com o perdão dos mais puristas, é imaginar um Eça de Queirós que nos descreve paisagens como ninguém, mas num hoje, numa coleção de imagens de uma pequena cidade da América de e por Tom Brosseau.

© Single de “North Dakota Impressions”

Sobre o novíssimo álbum, embora já o tenhamos ouvido de fio a pavio e mais do que uma vez nas suas nove mágicas canções, vamos guardar a análise e o cirúrgico esmiuçar da viagem que Brosseau nos propõe para mais tarde… pois combinado está, para muito breve, um tête-à-tête com o músico. Podemos, no entanto, adiantar que não desilude, supera-se mais uma vez, subindo novamente a bitola para futuros trabalhos. Não, não muda o estilo. Mantém-se na sua identidade musical de sempre sem oscilar, mas o que pode parecer idêntico ou igual é, só e apenas, saber trabalhar a entidade para criar novas e cativantes paisagens sonoras. É um convite ao mundo privado de Brosseau que na sexta música – “A Trip to Emerado” – tem um pleno numa canção que é, em boa verdade, um tão belo e despido de exageros “spoken word”. É música para ouvir com tempo num tempo em que não temos tempo… É música que continua sem precisar de um corpo de músicos atrás, música que não cede a tendências, tentações ou pressões, que continua a saber manter-se no acorde que resulta na sua simplicidade complexa de música bem feita, refinada. É saber falar de Deus sem andar aos pregões – ora não fosse o título da oitava canção “The Horses Will Not Ride, The Gospel Won’t Be Spoken“, é falar de amor sem ser lamechas, é recordar vivências sem ser vulgar. É contar estórias originais com música no ponto certo.

© Tom Brosseau com John C Reilly e Sean Watkins

“North Dakota Impressions” editado pela Crossbill Records, em setembro, é para ouvir na calma de um fim de tarde, neste outono e para ouvir, ao vivo, a 19 de novembro em mais um concerto do “Sons do Bussaco – Ciclo de Concertos de Músicas do Mundo”, do qual a Mutante é Media Partner. O cenário, já sabe, é único, histórico e rico no Convento de Santa Cruz – Fundação Mata do Bussaco.

(Bilhetes: turismo@fmb.pt ou através do número 231 937 000). Ainda este outubro partilharemos convosco a nossa conversa com Tom Brosseau. •

“Sons do Bussaco – Ciclo de Concertos de Músicas do Mundo” na Mutante
+ Tom Brosseau
Fundação Mata do Bussaco
Convento de Santa Cruz
© Imagem: Capa do álbum North Dakota Impressions” com fotografia de Ana Cláudia Silva.

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