Vila Meã, em Vila Nova de Cerveira, é o lugar que acolhe uma unidade hoteleira reestruturada e ampliada, de linhas retas e depuradas, de traço minimalista e acolhedor, num requintado fluir da geometria em consonância com o verde da paisagem: o Hotel Minho.
Terra dos vinhos verdes e do Alvarinho, a casta predominante da região minhota, Vila Nova de Cerveira esconde um refúgio na natureza ditado pela arquitetura depurada, com a madeira – o carvalho – a dominar o espaço, rasgando longas portas e janelas para deixar a luz entrar no interior. Um interior que abarca novos volumes assinados pelo arquiteto João Pedro Pereira do Coletivo Vírgula i, um projeto de renovação e ampliação distinguido, no passado mês de abril, com o Silver A’ Design Award, na categoria Hospitalidade, Animação, Viagem e Turismo, pelo júri do Prémio A’ Design.
Assim é o Hotel Minho, habitado por peças de mobiliário vintage e luminária que nos reporta aos anos 1960’, ora desenvolvidos pelo atelier de arquitetura, ora recolhidos em lojas locais, ora reproduzidos em fábrica, numa constante combinação com objetos contemporâneos dispostos, no seguimento de uma tendência de design hotel, acolhedor, elegante e, ao mesmo tempo, informal.
A celebração do mel e do vinho
Os detalhes e a paisagem de uma das salas que compõem o Spa
Iniciemos, porém, a viagem pelo lugar reservado ao ritual do apaziguamento da alma. Afinal, já em tempos se ouvia da voz de António Variações “Quando a cabeça não tem juízo / O corpo é que paga”. Portanto, entreguemo-nos, primeiro, ao chamado circuito das águas – duche de iniciação, piscina, jacuzzi, duche sensações – por cerca de meia hora e, depois, a mãos sábias de malabarismos mil e deixemo-nos levar pelos trilhos do relaxamento corporal num novo espaço, o Spa Hotel Minho, criado e integrado no projeto de ampliação do Hotel Minho assinado pelo Coletivo Vírgula i.
Composto por “caixas” de madeira, o Spa reporta-nos para um labirinto amplo e geométrico, preenchido por paredes de vidro, que presenteia o interior com a genuinidade da luz natural, realçando cores e contrastes por entre uma arquitetura de traço simples.
Ainda no interior do Spa, a natureza e a ciência prevalecem através de rituais que nos convidam a abstrair da realidade por momentos, graças aos aromas arrebatadores da erva-cidreira, em melissa, ou do mel, o doce líquido cor de ouro que dá nome a uma das massagens deste templo dos tempos de hoje, o único, no país, a disponibilizar os produtos e tratamentos da marca austríaca Vinoble Cosmetics, a fim de, em simultâneo, enaltecer o património da região do Minho, o vinho Alvarinho, com o banho de barrica e a massagem com pequenos sacos cheios de grainhas de uva aquecidos, e o mel.
Termina a massagem e logo passamos para a sala reservada ao descanso recomendado e saboreamos um chá de ervas colhidas da pequena horta, onde foram plantadas a salva, a hortelã e a cidreira. Se fosse inverno, a escolha recairia, de certo, na igualmente acolhedora sala de chá; se fosse verão, preguiçaríamos nas longas cadeiras dispostas no jardim exterior. Todos espaços contemplados pela luz abundante do sol.
De novo na piscina, porque é de manhã e as portas estão abertas às crianças, a boa disposição reina em uníssono com a arquitetura, que nos leva para um jardim ao ar livre, de acesso restrito e com o condão de acalmar os mais traquinas.
Arquitetura nórdica no coração do Alto Minho
O projeto de arquitetura trouxe uma lufada de ar fresco à própria marca Hotel Minho, anteriormente conhecido por Hotel Turismo do Minho, inaugurado em 2005 – “só tinha 60 quartos e cinco suites, a receção, uma pequena sala, além do bar, no mesmo espaço, e a piscina, tal como está hoje, assim como o espaço exterior”, conta-nos David Pacheco, diretor geral do Hotel Minho.
Com a introdução do Spa e das novas áreas sociais – sala de pequenos almoços, lounge, wine bar e receção, no piso 0, e o business center, no piso 1 – numa aposta forte na arquitetura nautral, “de inspiração nórdica”, segundo David Pacheco, e no design de comunicação, foi criada uma nova identidade, a qual engloba a proximidade com os hóspedes, uma boa nova para a região do Alto Minho e para quem a visita.
No fundo, a solução espacial contígua ao edifício preexistente assenta o alinhamento do traço, desta feita, introvertido, sem querer mostrar-se, de imediato, para o lado de fora, perfazendo uma ligação harmoniosa com a paisagem e, ao mesmo tempo, estabelecendo áreas exteriores privadas sem as fechar por completo.
Tudo a postos para a primeira refeição da manhã
Vamos, antes de mais, à sala do pequeno-almoço, dominada pelo branco e pela luz abundante do exterior, graças às janelas de varanda que rasgam a parede, juntos às quais saboreamos o pão da padaria local, as compotas regionais, os laticínios de uma marca do norte do país, os frutos secos e a fruta da época, os biscoitos da terra, o bolo “caseiro”… Uma mão cheia de iguarias que tão bem abrem o apetite logo pela manhã. Na realidade, precisamos de energia para o passeio matinal, sobre o qual falaremos mais à frente. Vamos a um mergulho? Sim, mas a escolha recai na piscina interior, aquecida, pois com crianças, como já o dissemos atrás, ainda podemos fazer o circuito das águas, que pode ser complementado com o hammam e o banho turcos – estes só para adultos.
Os traços da paisagem ao longo da ecopista do Minho
Aos mais aventureiros e amantes da natureza recomendamos a ecopista do Minho, um traçado com cerca de 15 quilómetros, entre Valença e Monção e uma excelente oportunidade para conhecer a fauna e a flora existente ao longo do rio Minho – o “Pai Minho”, como gentilmente lhe chamam os galego –, e saborear o silêncio envolvente. A pé ou de bicicleta.
A receção do Hotel Minho é o o ponto de partida do passeio matinal, onde a bicicleta, de uso gratuito e com a cadeira para transportar o hóspede mais novo, se encontra à nossa espera sendo, para o efeito, necessário fazer a pré-reserva. De mochila às costas, porque a fome pode apertar a qualquer momento, dá-se início à incursão, primeiro atravessando Vila Meã, a aldeia onde fica o hotel, até chegar à linha do comboio, sobre a qual passamos e percorremos o caminho em direção ao rio, que dita o percurso paralelo e recomendado a todos. No regresso fica a pausa para o piquenique.
A gastronomia minhota pelo chef Vinagre
Os vinhos verdes da região do Minho são a coqueluche do wine bar do Hotel Minho
Antes do repasto, damos as boas-vindas à noite com um Alvarinho. São muitos os vinhos verdes dispostos no wine bar, um espaço acolhedor e intimista contíguo ao lounge, e onde não falta uma zona demarcada para os cocktails, que também podem ser saboreados na sala de estar, sem atropelos com os ponteiros do relógio.
Agora, sim, chega a hora de sentarmo-nos à mesa do Braseirão do Minho, o restaurante situado ao lado do Hotel Minho, ambos nas mãos da mesma família – Jorge Cruz e Júlia Cruz. À nossa espera está Rosa, a chefe de sala do Braseirão do Minho que, ao longo do jantar, nos apresenta o vinho, os pratos e as novidades da região enquanto, na cozinha, o chef Eduardo Vinagre dita as diretrizes de cada prato.
O polvo à lagareiro e o naco de carne pelas mãos do chef Vinagre
Há um ano no Braseirão do Minho e docente na Escola Profissional Amar Terra Verde, em Vila Verde, Eduardo Vinagre diz-se “defensor da nossa cozinha tradicional” quando falamos sobre a cozinha minhota, da qual é tido como embaixador. Por essa razão, a sua cozinha detém “um ícone de cada concelho” da região. Só para abrir o apetite, há alheira com puré de azeite, complementada pelas deleitosas moelas e pelo grão acompanhados por um vinho verde ou não estivéssemos na região da casta Alvarinho. Das mãos do chef prossegue o desfile de pratos, como a salada de bambas com maçã e romã, um mimo que prevalece na memória, até hoje, ou o polvo à lagareiro, com grelos e batata assada, ou o naco de carne, com grelos e broa tostada em azeite, para degustar com a calma que é devida ao palato, sobretudo dos mais exigentes. A prova comprovada de que a cozinha tradicional portuguesa pode apresentar-se com “uma nova roupagem”, segundo Eduardo Vinagre, sem alterar a genuinidade dos sabores de cada produto. O mesmo dizemos sobre o naco de carne, de “comer e chorar por mais”.
No alinhamento da carta, e porque a época da lampreia coincidiu com a estadia, não deixámos de desfrutar de um repasto comporto por lampreia à bordalesa e arroz de lampreia, ambos preparados pelo chef, que elegeu o pudim Abade de Priscos par o doce final, uma vez que faz parte da Confraria Gastronómica do Abade, de Braga.
Ainda sobre a carta, há polvo e bacalhau confecionados como manda a tradição minhota; há arroz de marisco e filetes de polvo a provar na companhia do arroz de tomate ou de grelos ou de feijão. Bom apetite!
Terra de vinhos verdes e de Edmun do Val
Pablo Ruibal, o anfitrião da Quinta Edmun do Val
Porque estamos na região da casta Alvarinho, a visita a uma das quintas da região é obrigatória. Por conseguinte, e seguindo as recomendações de David Pacheco, o próximo destino é a Quinta Edmun do Val, em Valença do Minho. Adquirida em 1999 por Rafael Edmundo Ruibal, o patriarca da família e pai de Pablo Ruibal, o anfitrião, que nos conduziu pelos cantos e recantos de uma casa de uma quinta de 12 hectares – nove dos quais acolhe as vinhas da propriedade –, onde é produzido, apenas, o Quinta Edmun do Val Reserva Alvarinho. Um vinho verde feito a partir das castas Alvarinho, (90 por cento) Loureiro (7 por cento) e Trajadura (3 por cento) “só de produção integrada”, sublinha Pablo Ruibal, e distinguido de uma ponta à outra do globo terrestre.
Por sua vez, o estágio em cubas de inox atinge um período de dez meses, sendo submetido a batonnage manual, após o qual é sujeito a um estágio em garrafa decorrer entre dois a três anos.
“Todas as uvas são provenientes da nossa quinta”, acrescenta o anfitrião, ao mesmo tempo que nos mostra a adega das grossas paredes de pedra, a contrastar com o inox das cubas, onde a colheita do ano passado descansa, e a tecnologia avançada utilizada para controlar a temperatura do espaço que se encontra por baixo da casa-mãe da quinta.
A mesma casa outrora em ruínas e reerguida a preceito, decorada com móveis restaurados, onde não faltam os quadros com os rostos dos antigos donos da quinta, cuja porta principal ostenta, na ombreira, uma pedra com as inscrições ADE 1790 A, nem a antiga cozinha, hoje usada para as provas, e a sala de jantar, onde são feitos os cursos de provas e de pré-iniciação para os curiosos em relação ao vinho. Lá fora, está Dionísio, o deus grego do vinho, esculpido em pedra, a marca de um vinho batizado com o segundo nome do pai de Pablo Ruibal, Edmundo que, desde 1999, se estabeleceu às portas de Valença, oriundo de Tui, do outro lado da fronteira. Brindemos!
Para lá do rio e na fortaleza de Valença
No miradouro do Parque Natural Monte Aloia, em Tui, de olhos postos em Valença
Do lado de lá, no Parque Natural Monte Aloia, na Galiza, a vista alcança uma enorme Valença, “uma das mais antigas povoações portuguesas”, como se pode ler numa das brochuras da Câmara Municipal de Valença, tida como ponto geoestratégico de defesa contra as investidas do outro lado do rio Minho.
A centenária Ponte Metálica sobre o rio Minho
O casario e umas das lojas mais típicas da fortaleza de Valença
Aos apreciadores de história, recomendamos o núcleo museológico localizado na Fortaleza de Valença e embarquem na viagem da história de uma terra de histórias protagonizados por D. Sancho I, o fundador da fortificação medieval, Contrasta de seu nome, no início do século XIII, D. Afonso II e D. Afonso III, que passou a chamá-la de Valença, ou por D. Dinis que, segundo dizem, por ali pernoitou, sem que quisesse ser reconhecido, sendo-lhe reconhecida o gosto pela caça ao cervo. Na segunda metade do século XVII é erguido o segundo núcleo que liga à primeira muralha através da Porta do Meio.
Hoje, longe das investidas espanholas e francesas, a Fortaleza de Valença, candidata a Património da Humanidade, acolhe um casario a preservar, um importante património religioso e uma mão cheia de espaços ligados à gastronomia e à cultura locais, os miradouros – nos baluartes de Santana, a sudoeste, do Carmo, a noroeste, e do Socorro, a norte – e demais pontos de interesse a visitar.
Sobre a cidade, (re)lembramos que é considerada a capital portuguesa dos Caminhos de Santiago, uma vez que é o ponto de convergência do Caminho Português Central e o Caminho Português da Costa e, ao contrário de um tempo que já lá vai, Tui e Valença fazem parte de um iniciativa, a Eurocidade, que une duas cidades e dois povos ligados pela gastronomia, pela natureza e pela tradição.
Para quem ainda não a visitou, José Monte, vereador da cultura, entre demais pelouros da câmara local, destaca três lugares a incluir num roteiro futuro: o miradouro Monte Faro, o Mosteiro de Sanfins e área de lazer de Nossa Senhora da Cabeça.
Afinal, o Minho é ideal para quem gosta das dicotomias mar/rio, com a praia de Moledo a escassos quilómetros ou a praia América, em Bayona, Espanha, e com o rio Minho ali tão perto; ou montanha/planície, com os trilhos, e os passeios pedestres e de bicicleta. A ir!
+ Hotel Minho
© Fotografia: João Pedro Rato
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