Vamos a um wine brunch no Douro?

A vista, o vinho e a gastronomia. Estão reunidos os ingredientes que compõem o pequeno-almoço tardio na Quinta do Pôpa, o novo desafio de Stéphane e Vanessa Ferreira.

Uma varanda com vista para o Douro vinhateiro

Com as férias à porta, a mais antiga região vinícola demarcada do mundo é o destino perfeito para partir à (re)descoberta, com passagem recomendada na Quinta do Pôpa, em Tabuaço, para conhecer de perto o projeto de dois irmãos, Stéphane e Vanessa Ferreira, que deram azo à imaginação e criaram o Pôpa Wine Brunch. O repasto preferido de quem gosta de deitar tarde e tarde erguer, com vista para os vinhedos que serpenteiam as encostas do Douro e num ambiente bem descontraído e, claro, em harmonia com um bom vinho.

Nos bastidores deste novo conceito está Rui Reigota, o chef que denota versatilidade na cozinha, onde a primazia cabe aos produtos frescos e sazonais do país e, em particular, da região.

Mas vamos por partes. Antes de mais, são dadas as boas-vindas na varanda da quinta, com um vinho da casa, desta feita com Contos da Terra, uma homenagem ao Douro, desta feita na versão rosé de 2014, que resulta da sangria do mosto de uvas de Touriga Nacional, Tinta Roriz e de uma parcela de Vinhas Velhas da Quinta do Pôpa, o qual combina, e muito bem, com os dias quentes de verão da mais antiga região vinícola demarcada do mundo.

Stéphane e Vanessa Ferreira na garrafeira da Quinta do Pôpa

No alinhamento do programa, segue-se a visita à adega, onde a dupla Stéphane e Vanessa Ferreira falam sobre a curiosa apresentação deste espaço, onde o ferro utilizado nos alicerces das casas foi reaproveitado para dar forma à garrafeira, onde as garrafas de vinho da Quinta do Pôpa estão alinhadas de acordo com o ano de colheita.

A paixão pelos relógios desafia o tempo na sala com o mesmo nome

A sala de cascos, ou sala do tempo, mostra outra das paixões da família, os relógios que, por aqui, desafiam o tempo a pensar nos sonhos dos homens. Afinal, “Todo o homem tem o seu sonho”. A frase é de Luís Pato, o enólogo da Bairrada que impulsionou este projeto vínico além fronteiras, como iremos ler mais à frente.

Voltemos à visita, que prossegue pela garrafeira e termina na sala de provas. Os 14 hectares de vinha de uvas tintas, localizada entre os 80 e os 350 metros de altitude, fica para antes ou depois do wine brunch? Há que decidir, porque o repasto vale mesmo a pena.

Da natureza para a mesa em harmonia com o vinho

A tortilha e a bola de enchidos num gesto de boas-vindas à mesa

Só para abrir o apetite, Rui Reigota prepara um menu com produtos da quinta, de verão, do fumeiro, a doçaria que tanto fizeram as delícias de miúdos e graúdos – os pais não se preocupem, pois há água e sumo de uva e de laranja para os mais novos.

Espargos grelhados com presunto servidos mornos, porque o calor aperta por estes dias

Descontrói-se a ementa, porque esta é ajustada em função dos produtos da época e o vinho que a acompanha, temos o azeite e as azeitonas, da quinta, a tortilha de espargos e ervas, de verão, e a bola com enchidos e queijo, do fumeiro, a dar entrada neste pequeno-almoço tardio. Chega a vez do Contos da Terra branco 2014, um blend das castas Viosinho, Rabigato, Esgana Cão e Gouveio e dos espargos – que, segundo Rui Reigota, “de junho e julho, são mais tenros” – grelhados com presunto, do fumeiro.

O requeijão combina com manjericão e mel, enquanto de alheira acompanha os grelos no desfile

De volta aos brancos, cabe a vez ao Pôpa branco 2014, “um vinho mais seco, mais jovem, com estrutura, um vinho de verão, mas que apetece comer”, afirma Stéphane Ferreira. Um vinho que, à mesa, casa bem com os crostini de requeijão com manjericão e mel e os mini filetes de robalo em cama de espuma. Já o Pôpa tinto 2009, uma tributo ao avô de ambos, de nome Francisco Ferreira, que contribuiu para a “existência e o começo da nossa marca” e os levou a “criar um vinho de referência, mais hostil, mais clássico”, conta Stéphane Ferreira, um vinho feito a partir de “uma mescla de castas típicas do Douro”, de vinha velhas, com mais de 60 anos, foi servido para acompanhar o crostini de alheira e grelos, do fumeiro.

Os enchidos do fumeiro que conquistaram o palato através do olhar e do aroma

Ainda sobre o tinto criado em homenagem ao avô, mais conhecido por Pôpa, outro par foi escolhido pelo chef – uma amálgama de enchidos de comer e chorar por mais.

A reinterpretação da tradicional pêra bêbeda pelo chefe Rui Reigota

A doçaria é, por fim, interpretada pela tarte de maçã “descontraída”, o que lhe confere “um lado mais rústico”, de acordo com o chef, regada com creme de baunilha; e pela pêra bêbeda, aqui representada pela dupla formada pela pêra e pelo requeijão, com rebentos de beterraba, em Pôpa Vinho Tinto Doce, o néctar dos deuses que acompanha esta doce dupla. Mas não sem antes provar a fruta laminada, as compotas e a marmelada da quinta, terminando com um café para quem não dispensa esta bebida.

O preço do Pôpa Wine Brunch é de 38 euros por pessoa e está concebida para grupos a partir de dez pessoas, tendo a reserva de ser feita com antecedência (oito dias, no mínimo) através de rita@quintadopopa.com ou do 924 382 643.

Relembramos que a Quinta do Pôpa é uma propriedade duriense produtora de vinhos localizada na encosta da EN 222, no concelho de Tabuaço. No início existia apenas uma pequena parcela, a Quinta do Vidiego adquirida, em 2003, pelo pai de Stéphane e Vanessa Ferreira. O reflexo da concretização de um sonho de quem tanto desejava ter “um pedacinho de terra no Douro”, afirmou Vanessa Ferreira. Os primeiros vinhos foram produzidos para a família e os amigos, mas Luís Pato, o reconhecido enólogo da Bairrada, achava que os vinhos tinham “um bom perfil”, como nos contou Vanessa Ferreira, recomendando a exportação dos mesmos, razão pela qual só há dois anos se encontram à venda no mercado nacional. Hoje os vinhos da Quinta do Pôpa, estão nas mãos dos enólogos Francisco Montenegro, um duriense que conhece muito bem a região, e João Menezes, uma bairradino rendido aos encantos desta paisagem vinhateira, estando Stéphane e Vanessa Ferreira à frente do projeto que se traduz numa homenagem ao Pôpa, o nome com que era conhecido o avô de ambos, Francisco Ferreira. •

+ Quinta do Pôpa

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