Foi em ambiente descontraído no restaurante Lisboa à Noite, no Bairro Alto, em Lisboa, que Carlos Lucas fez desfilar novos e clássicos da Quinta do Ribeiro Santo e da Quinta da Alameda.
Quinta do Ribeiro Santo, localizada em Oliveira do Conde, freguesia de Carregal do Sal
Carlos Lucas, enólogo de 50 anos e 25 de carreira, produz vinhos no Alentejo, no Dão e no Douro. No entanto, é na região do centro de Portugal que mantém a sua base. Nasceu em Coimbra, mas a proximidade e os avós desde cedo criaram uma ligação à terra onde acabaria por dar os primeiros passos como enólogo, mais precisamente na Adega Cooperativa de Nelas antes de ingressar na Dão Sul, atual Global Wines. Em 2011 sai da Global Wines e, no ano seguinte, cria a Magnum Carlos Lucas Vinhos, centralizando as operações na Quinta do Ribeiro Santo, propriedade adquirida, em 1994, pela família, que a replantou de imediato.
Outrora propriedade do pároco da freguesia de Oliveira do Conde, terra próspera e berço de antiga e ilustre fidalguia, a Quinta do Ribeiro Santo, era circundada por um ribeiro onde a água corria todo ano mesmo em períodos de seca, daí o nome. A vinha segue o encepamento tradicional com as típicas castas do Dão: Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinto Cão e Encruzado. Este quarteto foi plantado num terreno granítico pobre, com grandes afloramentos rochosos, de onde se avista a Serra da Estrela.
Na terra as questões ambientais são uma preocupação constante, encontrando-se toda a vinha em regime de produção integrada. A adega dispõe de modernos equipamentos de vinificação, um numeroso parque de barricas e laboratório. É possível, sob marcação, visitar as vinhas, bem como fazer provas e harmonizações vínicas com a presença do enólogo.
É na Quinta do Ribeiro Santo que são produzidos os vinhos Ribeiro Santo, Automático, E.T. e Vinha da Neve. A colheita de 2000 foi a primeira colheita a ser engarrafada com a sua marca.
Quinta da Alameda, na freguesia de Santar, concelho de Nelas
A Quinta da Alameda, localizada num dos pontos mais altos da vila de Santar, tem vista para o rio Dão. Produz vinho desde os anos 1950 apesar de só em 1998 ter dado início ao seu engarrafamento e comercialização. A propriedade, entretanto comprada pelo empresário do setor mobiliário Luís Abrantes e por Carlos Lucas, tem cerca de 30 hectares, 15 dos quais estão ocupados por vinha.
Em 2012 dão início a um projeto de reabilitação do património edificado e uma reestruturação da vinha existente, preservando uma parte da vinha velha. Na terra, onde a viticultura está a cargo de Amândio Cruz, engenheiro agrónomo, a intenção é preservar a fauna e a flora da propriedade, implementando os meio necessários para o modo de produção biológica.
O objetivo é aliar conhecimentos e castas tradicionais para que Carlos Lucas possa criar os vinhos do Dão com que sempre sonhou. Os dois primeiros tintos – o Jaen 2013 e o Reserva Especial 2012 – foram apresentado em 2015. Depois destes vieram o Torreão da Alameda, os Quinta da Alameda Reserva branco e o monocasta Pinot Noir, este último em estreia absoluta como primeira colheita.
No jantar que reuniu à mesa o enólogo Carlos Lucas e um pequeno grupo de jornalistas estiveram à prova os vinhos brancos Ribeiro Santo Automático 2017 e Ribeiro Santo Vinha da Neve 2016. Dos tintos marcaram presença o Alameda Pinot Noir 2015, o Alameda Jaen 2015, o Ribeiro Santo Vinha da Neve 2013, o Pedro & Inês 2014, o Ribeiro Santo ET 2013 e o Carlos Lucas Família 2014. Houve ainda tempo e espaço para três “intrusos”: o Espumante Excelente Brut 2014 feito com as castas Encruzado e Tinta Pinheira também conhecida como Rufete; o vinho branco Carlos Lucas Alvarinho 2016, uma pré-estreia do novo projeto do enólogo nos Vinhos Verdes; e por fim, o Ribeiro Santo Colheita Tardia, feito a partir da casta Encruzado que estagiou em barricas de vinho do Porto, para acompanhar uma volta à doçaria portuguesa.
Gostaria de destacar os vinhos Vinha da Neve, branco e tinto. Ambos são oriundos de uma só parcela de aproximadamente um hectare da Quinta do Ribeiro Santo. Tem uma localização privilegiada em frente ao maciço central da Serra da Estrela de onde se avista neve durante o período de inverno mais rigoroso, daí o nome do vinho. O branco Ribeiro Santo Vinha da Neve 2016 é um 100% Encruzado, estagiou seis meses em barricas de carvalho francês e esteve outros dois em garrafa antes de ir para o mercado. Segundo as notas do enólogo tem “um aroma elegante, pleno de notas minerais, com notas de fruta madura e leves notas tostadas. Muito boa estrutura de boca, compensada por uma excelente acidez limonada e um final muito longo”.
Quanto ao tinto Ribeiro Santo Vinha da Neve 2013, é uma mistura das castas Touriga Nacional, Alfrocheiro e Tinto Cão. Estagiou 12 meses em barricas novas de carvalho francês e, antes de ir para o mercado, está um mínimo de seis meses em cave fresca. Tem como notas de prova “aroma complexo, com notas de frutos escuros e aromas de flores do bosque, mineral e apimentado. Na boca é texturado, com taninos nobres bem presentes, poderosos e com uma acidez bem integrada e um final muito longo”.
Estamos perante a presença de dois belos exemplares da qualidade e da longevidade dos vinhos do Dão.
Para quem não sabe, o E.T. é o lado mais arrojado de Carlos Lucas que, para homenagear o realizador norte-americano Steven Spielberg, juntou as duas castas rainhas do Dão: a branca Encruzado e a tinta Touriga Nacional. Ambas são vinificadas em conjunto, à moda antiga repousando, posteriormente, em barricas usadas de carvalho francês de vários anos, onde permaneceu durante 12 meses. Resultado? O melhor é provar.
Por último, mas não menos importante, 1100 garrafas de um vinho de família: Carlos Lucas Família 2014. Feito a partir de uvas colhidas de vinhas com 19 anos, este vinho resulta de um conjunto de castas: Touriga NAcional, Alfrocheiro e Tinto Cão. O estágio decorre durante 18 meses em barricas usadas de carvalho francês. O lote final com prova e escolha de barricas foi feito em família por Carlos Lucas, a sua mulher, Cristina Sousa, e os seus filhos, Carolina e Diogo Lucas.
Muito mais haveria para dizer, mas as histórias são como os vinhos: são para se ir degustando, além de que, tendencialmente, melhoram com o tempo.
Só mais duas notas. Para o futuro a veia brancófila levará Carlos Lucas a sonhar com uma quinta no Dão para produzir vinhos desta tipologia. Dentro de pouco tempo será apresentado o novo projeto em Marco de Canaveses, na região dos Vinhos Verdes, onde se inclui o Alvarinho de 2016, do qual já tivemos uma primeira amostra neste encontro. Até já! •