Do cruzamento da tradição com inovação resulta a estreia de um percurso que conduz Luís Cerdeira para além do Monte do Faro, onde os ventos do Atlântico exercem singular influência sobre a casta Loureiro que, desta feita, combina com pratos de sabor a mar.
Soalheiro Germinar Loureiro 2020 é o resultado do “novo começo” do Soalheiro, produtor que tem os irmãos Luís e Maria João Cerdeira a desempenhar o papel de gestores, a par com a mãe de ambos, Maria Palmira Cerdeira, na Quinta do Soalheiro, propriedade vinhateira localizada no vale da sub-região de Monção e Melgaço, na Região Demarcada dos Vinhos Verdes.
Este vinho branco é feito a partir de Loureiro, casta vindimada numa parcela de vinhas velhas – com mais de três décadas – com dois hectares, situada no sopé Poente do Monte do Faro, em Valença, na margem do esquerda do rio Minho, ou seja, do lado cuja influência dos ventos marítimos exercem forte influência no terroir, mas já fora da referida região demarcada. Na adega, onde Luís Cerdeira tem a enologia como ofício principal, é de salientar a fermentação ocorrida em cuba de inox e em dois depósitos ovais – um de inox e outro em cimento –, com bâttonage incluída, processo este que permite uma maior interacção das borras finas ou leveduras na vinificação, que lhe conferem estrutura.
Apesar de manifestar-se aromático no nariz, característica indissociável da casta, o Soalheiro Germinar Loureiro 2020 deixa transparecer uma leve sensação de salinidade na boca, além de que se revela seco e evidencia uma acidez e um final persistente, atributos que certamente vão beneficiar se for guardado, por mais tempo, em garrafa, não obstante de estar pronto a ser degustado.
Este monocasta de 2020 é a segunda colheita “gerada” em parceria com António Matos – homem que trocou a sua profissão de Técnico Superior de Serviço Social pela viticultura e a quem pertencem as vinhas velhas de Loureiro situadas em Valença – e da qual resultou o Germinar, projecto de cariz social baseado na inclusão de pessoas com dificuldades congnitivas no trabalho vitícola, por forma a promover a sua auto-estima e simultaneamente o seu desenvolvimento social. “Neste momento, temos quatro pessoas na vinha”, declara Luís Cerdeira, e cinco por cento do lucro obtido neste vinho reverte para o projecto Germinar, isto é, “queremos ganhar e ajudar a ganhar”, continua. A pensar no futuro, foi alugado, por 25 anos, um antigo apeadeiro em Valença, por forma a dar sustentabilidade à Germinar, até porque “hoje em dia, o vinho não é só vinho”. Por isso, a marca Germinar “não é uma edição limitada. É para continuar”, remata.
Acresce às boas novas, o Soalheiro Granit 2020, a quinta colheita deste vinho feito a partir de Alvarinho, casta colhida a mais de 300 metros de altitude, na sub-região de Monção e Melgaço. A exuberância da Alvarinho é notória no nariz e a fruta exótica marca presença na boca, sentido-se ainda a elegância desta casta e um final persistente. A avaliar a colheita de 2015 do Soalheiro Granit, comprova-se a longevidade que a Alvarinho demonstra, daí a recomendação de guardar a mais recente por cerca de cinco anos.
Aos curiosos, segue a recomendação: acompanhe-se com ostras. A escolha do local da apresentação das boas novas do Soalheiro, que determinou a viagem de Luís e Maria João Cerdeira a Setúbal, é propositada, uma vez que os viveiros da Aquanostra, localizados na Reserva Natural do Estuário do Sado, foram os eleitos para esta harmonização.
A Aquanostra, empresa nacional fundada em 2013, resulta do sucesso obtido com a desova de ostra plana (Ostrea edulis) e respectiva captação de larvas na maternidade na costa algarvia. A ostra plana – é menos comum e possui um sabor marinho mais acentuado – “está sempre debaixo de água, por serem mais sensíveis do que a ostra japonesa, sendo feita a sua produção perto da costa de Lagos”, explica Hugo Castilho, Director Comercial da Aquanostra. XXX anos depois, a empresa expande-se para Setúbal, onde dedica a sua produção à ostra japonesa (Crassostrea gigas), mais frequente em todo o mundo. Esta “dá-se bem no Estuário do Sado, porque precisa das marés, para se desenvolver”, ou seja, fecha a concha aquando da baixa-mar e voltam a abrir durante a preia-mar.
Explicação dada, a Aquanostra oferece uma garrafa de Soalheiro Granit a quem encomendar, no mínimo, um quilo de ostras, já que a entrega em casa – feita no prazo de 24 horas, em toda a Península Ibérica – é uma realidade. “A entrega em casa foi, inicialmente, um grande desafio, porque tivemos de desenvolver o packaging, por forma a conseguirmos entregar o produto, ao consumidor final, em perfeitas condições.” Assim que reabriram os restaurantes, a empresa centra-se, também, na entrega no canal Horeca de Portugal e Espanha. Em ambos os casos, são entregues as ostras japonesas e as ostras planas, bem como as amêijoas japonesa e a amêijoa boa, embora sejam exportadores de outros bivalves, como o lingueirão, o berbigão, a conquilha, a navalha, entre outros. Tudo boas razões para abrir já o Soalheiro Germinar Loureiro 2020 e o Soalheiro Granit 2020, para harmonizar em grande neste Verão!
Relembramos que o Soalheiro foi pioneira na produção do vinho Alvarinho em Melgaço. A sua história remonta à década de 1970, quando João António Cerderia, pai de Luís e Maria João Cerdeira, plantou a primeira vinha desta casta, com o apoio do pai, António Esteves Ferreira e em 1982, estreou-se na criação da marca de Alvarinho, em Melgaço, tendo sido também uma das primeiras na sub-região de Monção e Melgaço.
Brindemos!