Longe vai o tempo, ou talvez nem tanto, em que os tintos envelheciam em barricas… Parece um conto, mas não é, já que há um produtor da sub-região do Baixo Corgo, que, da colheita de 2019, canalizou as uvas de uma vinha quase centenária de letra A, para um DOC Douro.
[de frente para trás] Manuel Ângelo Barros, Director Geral da Quinta Dona Matilde, João Pissarra, enólogo, Filipe Barros, Director de Marketing e Vendas, e João Carlos Oliveiras, viticultor, no restaurante Plano, do chef Vitor Adão, onde se realizou a apresentação vínica
“Se é bom para fazer Vinho do Porto, vamos ver o que se consegue fazer, para um produto DOC Douro.” As palavras são de João Pissarra, enólogo da Quinta Dona Matilde, propriedade vinhateira, de 93 hectares, localizada na margem direita do Rio Douro, na sub-região do Baixo Corgo, cuja vinha, de 28 hectares, possui classificação de letra A, para o Vinho do Porto. A explicação vai de encontro à decisão tomada face à produção deste Quinta Dona Matilde Vinha do Pinto Unoaked tinto 2019 (€50).
Feito a partir das uvas tintas das cerca de 30 castas tradicionais do Douro vindimadas em vinha homónima, plantada há mais de 90 anos, na Quinta Dona Matilde, este DOC Douro tem, no seu processo de vinificação, a fermentação e o envelhecimento em cubas de inox. Madeira? Zero! Uma das premissas foi “na adega, fazer-se uma intervenção mínima (…), para não estragar”, continua o enólogo.
“Este é o caminho diferenciador”, enaltece Filipe Barros, filho de Manuel Ângelo Barros, representante da quarta geração e responsável pela Direcção de Marketing e Vendas deste negócio da família, garantindo a continuação deste desafio e “quem sabe, se o próximo não será um branco”.
“As vinhas velhas no Douro têm um enquadramento especial”, continua João Carlos Oliveira, viticultor no Douro desde a década de 1980. Além de tradicionalmente constituídas por castas brancas e tintas, “que os antigos misturavam empiricamente” e “um património genético único”, “são irrepetíveis”. É o caso desta Vinha do Pinto, cuja composição totaliza mais de 9.820 pés de videira, “com castas nativas da região”, plantadas 1,40 hectares de “muros terraciados”.
“Era daqui que nós obtínhamos grandes Vintages, que eram guardados em balseiros, na quinta”, declara Manuel Ângelo Barros, neto do fundador do grupo Barros, ao qual pertenceu esta propriedade, anteriormente conhecida por Enxodreiro, e Director Geral da Quinta Dona Matilde, referindo-se à Vinha do Pinto. Sobre a preservação desta e das demais vinhas pós-filoxera da sua propriedade, assegura: “pretendemos que esta vinha, assim como as outras, mantivessem a qualidade e uma produção que seja valorizada. Nós vamos manter esta vinha!”
Em contrapartida, Dona Matilde Reserva branco 2019(€24), constituído por um field blend de variedades de uvas brancas de vinhas da Quinta Dona Matilde, com cerca de 25 anos, foi submetido ao envelhecimento em barricas usadas. “Não queremos a madeira algo castigadora, para não se sobressair à natureza da uva”, justifica João Pissarra, que, depois submeteu este branco, que vai na quarta colheita, a um ano de estágio em garrafa.
Brindemos!