Minimalismo. Sustentabilidade. Eis a nova identidade visual da Churchill’s

“Seco, fresco e elegante.” Confirmam-se os adjectivos atribuídos por John Graham aos seus próprios vinhos, cujas garrafas ostentam rótulos mais arrojados, em jeito de comemoração dos 40 anos desta casa duriense.


John Graham é fundador da Churchill’s e continua dedicado à produção de Vinhos do Porto ao seu estilo


Criada em 1981, pelo enólogo John Graham, a Churchill’s – nome, que advém do apelido de sua mulher, Caroline – celebrou, em 2021, quatro décadas de existência. Para assinalar esta comemoração, é apresentada a nova identidade visual, para os anos vindouros. Esta está patente nos rótulos dos Vinhos do Porto, em formato de diamante, e na gama Churchill’s Estates, agora chamada de Grafite, nome que John Graham e o também enólogo Ricardo Pinto Nunes atribuem às vinhas da Quinta da Gricha e, por isso, apresentada sob uma componente mais gráfica.

A imagem renovada é sustentada por uma versão minimalista, característica indissociável à próxima geração deste negócio familiar, representada por Zoe Graham, filha de John Graham e Caroline Churchill, e Directora da empresa, que, com o seu marido, Ben Himowitz, estão já a projectar o futuro desta casa, que tem o seu epicentro operacional na centenária e já referida propriedade, localizada em Ervedosa do Douro, na margem esquerda do rio que empresta o nome a esta que é a mais antiga região demarcada do mundo.


A torre e a concha são elementos em destaque nesta renovação da identidade visual da Churchill’s


Segundo Zoe Graham, a nova identidade foi inspirada na “filosofia de intervenção mínima” efectuada ao longo do processo de vinificação dos vinhos da Churchill’s. A opção pelas letras em caixa baixa, no logótipo, “sublinha a forma orgânica dos nossos vinhos”, continua. Ao invés do brasão, muito comum na apresentação de casas centenárias, atribuiu-se importância aos símbolos que remetem para a história da família e dos vinhos por si produzidos.

São eles a torre, representativa dos lagares de granito da Quinta da Gricha, onde se realiza a pisa a pé das uvas; a concha, pertencente à heráldica da família Graham; e o cão, figurativo do espírito de liberdade, muito associado ao fundador da Churchill’s, pela irreverência e determinação em produzir vinhos com um perfil diferente. Um Vinho do Porto que fosse “seco, fresco e elegante”, esclarece John Graham.

Em paralelo, acentuou-se o compromisso com a sustentabilidade. Todas as referências de Vinho do Porto desta casa duriense são, agora, iguais e mais leves. Esta última característica também é apontada, por Zoe Graham, em relação às garrafas utilizadas na gama Churchill’s Estates, as quais pesam, agora 420 gramas. A mesma preocupação estende-se à cápsulas cem por cento recicláveis e ao papel dos rótulos e das embalagens, “algumas feitas a partir de 15 por cento de resíduos de uva e 40 por cento de fibras recicladas pós-consumo”, de acordo com o comunicação da Churchill’s. 


Grafite, a inspiração gráfica da vinha no Douro


O vinho feito apenas com a casta Tinta Roriz é uma estreia no portefólio desta casa duriense, assim como Grafite, nome atribuído à gama Churchill’s Estate


Mas vamos à prova dos vinhos, até porque há uma estreia, o Churchill’s Estates Grafite Tinta Roriz 2019 (€16,50). “Queríamos um vinho mais selvagem, mais vinho cru”, afirma John Graham a respeito desta referência, cuja elaboração é feita a partir daquela casta tinta, vindimada em propriedades localizadas nas sub-regiões do Cima Corgo e do Douro Superior.

“São uvas de viticultores, cujos acordos vêm desde há muitos anos”  e que estão classificadas com a letra A, sublinha o fundador da Churchill’s. Uma vez mais, a “intervenção mínima”, frisada igualmente por Ricardo Pinto Nunes é, aqui, enaltecida.


O Churchill’s Estates Grafite Grande Reserva tinto tem, no seu rótulo, o Rio Douro representado a dourado


No alinhamento dos monocastas – aposta em crescendo da Churchill’s, com o objetivo de representar o Douro pelo mundo – feitos a partir de uvas colhidas nas mesmas sub-regiões, esta casa duriense apresenta Churchill’s Estates Grafite Touriga Nacional 2014 (€16,50), vinho que evoluiu com o tempo, ou não fosse este o grande aliado de Churchill’s Estates Grafite Grande Reserva tinto 2014 (€30). Produzido com uvas de vinhas velhas, com mais de 50 anos, da mesma proveniência, este vinho superlativo, que está numa garrafa, em que o Rio Douro está representado a dourado no rótulo.

No contexto das castas típicas do Douro, integra-se ainda Churchill’s Estates Grafite tinto 2019 (€13,50) e Churchill’s Estates Grafite branco 2020(€13,50). O primeiro é feito a partir das castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz; o segundo contém Rabigato e Viosinho. 

Das cinco referências, é de enaltecer a sensação de mineralidade marcante e a acidez jovem das colheitas mais novas.


Vinho do Porto ao estilo de John Graham


O Dry White Port foi o primeiro Vinho do Porto feito por John Graham, no seu percurso a solo


A vontade de fazer diferente dos demais produtores de Vinhos do Porto, levou John Graham a procurar “uvas em condições”. A determinação remonta ao início da década de 1980, quando entrou em contacto com Jorge Borges Serôdio – avô de Jorge Seródio –, que, à época, possuía uma quantidade considerável de pipas de Vinho do Porto guardado na cave. “Ele deu-me a possibilidade de escolher o melhor dos vinhos dele” e “a possibilidade de comprar o stock inicial”. O passo seguinte, consistiu na concretização do seu sonho: “tentar criar um estilo de vinho feito por mim.” 

“Fiz logo um Dry White Port com os vinhos dele!” Um Vinho do Porto mais seco, à semelhança do Jerez (vinho fortificado, produzido na região de Jerez de la Frontera, em Espanha). “Uma aventura”, diz John Graham, para descrever o período de tempo dedicado à feitura de Vinho do Porto em conciliação com Jorge Borges Serôdio.

Hoje, o Vinho do Porto branco seco da Churchill’s é produzido com castas provenientes das vinhas de letra A acima referidas. Em cima da mesa esteve Churchill’s Dry White Port (€21), feito a partir das castas brancas Malvasia Fina, Rabigato, Códega e Viosinho, e que está pronto a beber. 

Churchill’s Tawny 10 Anos (€20) é elaborado a partir de um field blend, do qual se destacam as castas tintas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Tinto Cão. “Criar a envelhecer tawnies requer disciplina e stocks, começa por explicar John Graham. “É preciso que cada estilo saia de forma consistente.” Este Tawny estagiou aproximadamente dez anos em cascos de madeira e, a cada um que passa, é refrescado.“Se deixarmos só envelhecer nos cascos, estes vinhos perdem a sua frescura, que é precisa nos tawnies. 


Os tawnies devem ser consumidos até dois anos após a data indicada no rótulo


Da frescura do anterior, é de registar a passagem para notas de prova um pouco mais complexas, no Churchill’s Tawny 20 Anos (€46), como as de frutos secos e especiarias, além de se revelar mais macio, na boca. Acrescente-se a elegância e uma maior complexidade no Churchill’s Tawny 30 Anos (preço sob consulta), graças ao tempo de envelhecimento a que foi submetido ao longo de três décadas. 

Nas recomendações, é de salientar que um Tawny deve ser consumido num período de dois anos, a contar com o que está indicado no rótulo. “Idealmente, o Tawny deveria ser servido directamente do casco”, declara o fundador da Churchill’s, que, para esta nova era, elegeu o recipiente transparente para esta gama de vinhos.

Já em garrafas escuras, são guardados o Churchill’s Reserve Port (preço sob consulta), o Churchill’s LBV Port 2017 (preço sob consulta) e o Churchill’s Crusted Port 2014 (€28). O primeiro envelhece, por três anos, em tonéis de carvalho, tempo esse, que preserva a jovialidade nesta categoria de Vinho do Porto, bem como a sua acidez natural. “Este vinho é feito como se fosse um Vintage”, diz John Graham, embora esteja pronto a beber.

O LBV, sigla para Late Bottled Vintage, é feito a partir de blends de Vinho do Porto previamente provados e seleccionados. Ao fim de quatro anos de envelhecimento em tonéis de carvalho, é engarrafado e submetido a novo estágio, deste vez, em garrafa, nas caves da Churchill’s. Findos três anos, está pronto a beber, mas não há nada melhor do que esperar entre cinco a dez, para apreciar todo o potencial deste Vinho do Porto. 

Churchill’s Crusted Port é o vinho que se segue neste desfile de boas novas do portefólio desta casa. De acordo com a tradição da Churchill’s, este Vinho do Porto é elaborado “a partir de vinhos de qualidade Vintage de duas colheitas consecutivas”, como explica em comunicado. Depois de envelhecido em balseiros, é submetido, no mínimo, por três anos, ao estágio em garrafa. O ano inscrito no rótulo corresponde ao do engarrafamento – neste caso, é de 2014. Uma vez que não é filtrado e continua a envelhecer em garrafa, com o tempo, vai ganhando mais sedimentos naturais (crust, em inglês). John Gaham relembra que o primeiro Crusted que produziu remonta a 1984, tendo sido enviado para Terras de Sua Majestado e “engarrafado numa cave em Londres”. Por cá, a estreia da produção de um Crusted aconteceu dois anos depois, em 1986.


O enólogo Ricardo Pinto Nunes realiza um trabalho notável na adega da Churchill’s


Em jeito de conclusão, Ricardo Pinto Nunes defende “Vinhos do Porto mais secos e com boa acidez natural, para que se tornem vinhos mais elegantes”. Assim são os vinhos desta casa duriense, com particular atenção para o Vinho do Porto, produzidos “com cem por cento de engaço e cem por cento de pisa a pé”, além de serem submetidos a “fermentações por mais tempo, para ter uma maior extracção”, explica o enólogo.

Brindemos!


+ Churchill’s
© Fotografia: João Pedro Rato

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