Enxarrama tinto 2014 é o mais recente vinho da Adega Fita Preta. A produção é inspirada na história da mais antiga referência vínica de que há registo em terras alentejanas. Mas há mais novidades.
Segundo António Maçanita, produtor e enólogo da Adega Fitapreta, localizada no Paço do Morgado de Oliveira, no concelho de Évora, a primeira citação sobre o vinho Enxarrama remonta a 1321, uns anos antes da primeira citação feita a respeito do Pêra-Manca, que remonta a 1345. Esta história secular está ligada ao rio Enxarrama, hoje chamado de Xarrama, como é o caso do Pêra-Manca, cujo nome advém da ribeira homónima – ambos localizados no distrito de Évora. Segundo o historiador de arte Francisco Bilou, este curso de água “afamou, com a sua frescura e madurez, os vinhos locais”.
A prova da fama deste vinho está documentada por João Inácio Ferreira Lapa, reconhecido agrónomo, académico e investigador do século XIX, que, em 1869, escreveu: “De todos os vinhos de Evora, é o d’esta quinta o mais apreciado e o que obtem maior preço em Lisboa. O onho do Enxarama ve elle mais que nenhum outro de Evora procurado para a venda a retalho nos armazens de Lisboa.” Este registo foi efectuado no âmbito do estudo acerca do potencial vitivinícola do país, o qual divide Portugal em três partes, com João Inácio Ferreira Lapa encarregue a reunir informação sobre o Sul, enquanto o Visconde de Vila Maior ficou com o Norte e Augusto de Aguiar teve o Centro nas mãos.
“À época, este Enxarrama era aguardentado”, comenta António Maçanita, que se cingiu na produção do Enxarrama tinto 2014 feito a partir de uvas vindimadas em vinhas velhas, maioritariamente da casta Alicante Bouschet, às quais juntou Aragonês, Trincadeira, Castelão e Moreto. “Uma parte destas castas são de uma vinha da Oliveirinha”, a propriedade vizinha do Paço do Morgado de Oliveira. A proveniência das restantes uvas é desconhecida. Em suma, “o 2014 é o primeiro Enxarrama ‘by’ Maçanita”, já que na adega descansam, em garrafa, as colheitas de 2015 e 2016.
Ou seja, a maioria das uvas vinificadas e que dão corpo ao Enxarrama tinto 2014 não foram colhidas no Paço do Morgado de Oliveira, onde está instalada a Adega Fita Preta. Datado do XIV, é considerado um dos mais antigos edifícios de Évora e o maior paço rural gótico preservado no país, comprado em 2016 pelo produtor e enólogo. Objecto de sucessivas investigações históricas e arqueológicas, em particular durante as obras de reabilitação do edifício, foram encontrados frescos do final do século XVI, paredes e janelas, bem como a lagareta, onde eram dispostas as uvas das vinhas de estão.
Hoje, o Paço do Morgado de Oliveira é constituído pelo Pátio das Damas. Reconstituído à semelhança do que era na época, é um espaço destinado a provas vínicas sob os antigos tectos dos claustros, para proteger os apreciadores de vinho dos picos de calor que se fazem sentir no Verão. A sala de barricas, onde está a lagareta, é outro dos espaços novos dedicados a esta actividade. Já no piso superior do edifício, está o novo espaço gastronómico da Adega Fita Preta, em soft opening até Janeiro de 2025.
De volta à boa nova, o Enxarrama tinto 2014, cuja enologia esteve a cargo de António Maçanita e Sandra Sárria, serve-se a 16 °C, para beber a 18 °C e acompanhar carne de sabor intenso e queijos fortes, pratos que rimam com as estações mais frias do ano. Sem descurar o pão, feito na cozinha do Paço do Morgado de Oliveira, e o azeite, que harmonizaram com este tinto. Outra novidade é o Morgado de Oliveira Ribeiro do Enxarrama branco non vintage feito a partir das castas brancas Arinto, Folgasão e Perrum vindimadas em vinhas plantadas em 2017. Mas como é elaborado com mostos das colheitas de 2019, 2020 e 2021, recebe a designação “non vintage”.
Brindemos!