Quinta de Cidrô, o laboratório de ensaios da Real Companhia Velha

Com a chegada do ano 2025, a mais antiga empresa de vinhos do país em atividade ao serviço do Vinho do Porto apresenta uma dupla de espumantes, um branco e um tinto, e um pequeno desvio para o regresso do Grandjó.

A história da Real Companhia Velha, empresa bicentenária de renome na Região Demarcada do Douro, contempla algumas páginas dedicadas ao espumante. Mas “quando a empresa se ficou pela produção de vinhos de qualidade, deixaram de ter interesse em produzir espumantes”, começa por explicar o diretor de enologia Jorge Moreira. Apostar novamente na feitura deste tipo de vinho era um imperativo para a Real Companhia Velha. 

No alinhamento desta aposta, está o Real Companhia Velha Espumante Blanc des Blancs 2019 (€42), feito a partir da casta francesa Chardonnay e produzido de acordo com o método champanoise (a segunda fermentação ocorre em garrafa); e o Real Companhia Velha Espumante Grande Reserva branco 2014 (€50), elaborado a partir das variedades de uva Chardonnay e Pinot Noir (as tradicionais na feitura do Champanhe, a par com o Pinot Meunier). Quanto a este último, o vinho base é da colheita de 2014, ao qual foi adicionado um pequeno lote de colheitas de 2011 e 2012. 

“Para grandes vinhos precisamos de vinhos velhos”, defende Jorge Moreira a respeito deste último. Mas também “só conseguimos estes vinhos de qualidade superior com parcelas mais velhas”, afirma, referindo-se ao primeiro, em que a casta Chardonnay foi colhida de um dos mais antigos talhões da Quinta de Cidrô.

Três décadas de castas estrangeiras

A Quinta de Cidrô também está no centro desta dupla boa nova. Localizada em São João da Pesqueira, na sub-região do Cima Corgo, no Douro, esta propriedade é comprada, em 1973, pela Real Companhia Velha – um ano após a constituição desta empresa resultante da fusão da Companhia Real das Vinhas do Alto Douro e a Real Vinícola do Norte de Portugal. As condições edafoclimáticas (solo e clima). Duas décadas mais tarde, isto é, em 1993, são plantadas castas francesas, como Chardonnay, Sémillon, Sauvignon Blanc ou Cabernet Sauvignon, nesta propriedade situada a 600 metros de altitude.

Há três décadas, este acto de plantar vinha com castas estrangeiras na região vitivinícola mais antiga do mundo Douro, “era visto com violência” e “as zonas mais altas eram sempre postas de parte”, comenta Jorge Moreira, ao contrário do que acontece hoje: “Com a procura por vinhos mais leves, há uma aceitação de vinhas de altitude.” 

Com a estreia na colheita de vinhos tranquilos feitos a partir de uva vindimada na Quinta de Cidrô sob a orientação do enólogo norte-americano Jerry Luper – em 1996, ano da fundação da Fine Wine Division –, a Real Companhia Velha deu o primeiro passo no que aos ensaios constantes com as variedades francesas diz respeito. Era – e ainda é – uma espécie de um laboratório a céu aberto, graças ao permanente estudo realizado ao comportamento de cada casta que não é nativa do Douro (como se pode ler aqui).

É o caso da já referida Sauvignon Blanc, que dá corpo ao Quinta de Cidrô Marquis branco 2019 (€35). Segundo Pedro Silva Reis, que faz parte da equipa de enologia e é filho de Pedro Silva Reis, CEO desta empresa bicentenária, “na Real Companhia velha fazemos um Sauvignon Blanc ao estilo do Vale do Loire, em que a uva é apanhada mais cedo possível, para reforçar o lado mais austero da casta [o lado mais vegetal]”, em contraponto com o lado aromático que conquistou o consumidor.

Já para o Quinta de Cidrô Marquis tinto 2014 (€60), a casta Cabernet Sauvignon é vindimada mais tarde, “no final de outubro, início de novembro”, afirma Jorge Moreira. Este vinho de lote é elaborado ainda com a variedade Touriga Nacional. 

A título de curiosidade, a designação Marquis nos vinhos Quinta de Cidrô surge com um tinto de 2007. É uma homenagem ao Marquês de Soveral que nasceu na referida propriedade duriense, a qual foi pertença da família Soveral.

Colheita tardia de eleição

Grandjó é nome indissociável a Real Companhia Velha. Aqui, a palavra desvio deve-se à proveniência das uvas utilizadas na feitura desta colheita tardia. Trata-se da Quinta do Casal da Granja, localizada em Alijó, onde há parcelas que reúnem as condições favoráveis para o desenvolvimento do fenómeno natural botrytis cinerea. Este fungo dá origem à podridão nobre, que causa uma grande concentração de açúcares dentro de cada bago de uva, privilegiando a produção de um vinho doce e untuoso.

Criado em 1910, Grandjó é uma das marcas de vinho mais antigas do país. Sete anos depois, surge a primeira colheita do Grandjó Late Harvest branco. A mais recente versão deste vinho icónico é de 2021, a 12ª produzida pela Real Companhia Velha. Grandjó Late Harvest branco 2021 (€40) feito a partir da casta Sémillon ou Boal, no Douro, mantém as características exigidas a este estilo de vinho, a respeito do qual Pedro Silva Reis ressalva: “Acho que a qualidade deste vinho supera a relação qualidade/preço.”

Brindemos!

Real Companhia Velha 
© Fotografia: D.R.

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