Dar a provar os sabores genuínos da gastronomia tradicional portuguesa traduz a realização de um sonho de Teresa Ruão, que abre as portas da sua Casa de Louredo para receber os convivas na sua Cozinha da Terra. Um restaurante de cariz familiar. No coração do norte de Portugal.
Em frente à porta larga de madeira e ferro, debruada por trepadeiras que ornamentam a casa de família, tocamos à campainha. O convite para entrar é gentilmente recebido. No átrio subimos para a varanda que acompanha a moradia de traça antiga, em forma de ferradura, dominada pela pedra, identidade da arquitetura típica do norte do país. Acomodamo-nos na sala de estar, contígua à de jantar, cujos tetos forrados a madeira que rima com a comodidade e a rusticidade da decoração do interior, numa ode às origens da nacionalidade, pois diz-se que parte da casa já existia desde o início do reino de D. Afonso Henriques.
Instantes depois conversamos com Teresa Ruão, dona da Casa de Louredo, que desmistifica o conceito traduzido num convite a provar os sabores da terra. “Não fazemos comida de moda”. A essência está, portanto, nos produtos sazonais, no que a terra dá. “Sou uma defensora da cozinha tradicional portuguesa, mas tratada de uma forma mais saudável, ou seja, com menos gorduras, refogados mais suaves e sem fritos”, ao contrário do azeite e das ervas aromáticas, que acompanham a excelência à mesa da Cozinha da Terra, em Paredes, onde “a comida é feita na hora”.
“A casa tem uma alma”
A Cozinha da Terra é “a concretização de um sonho de criança. Desde muito nova que queria ter um restaurante de cariz familiar”, revela Teresa Ruão, que “tinha pensado em fazê-lo com a minha família”. Porém, o tempo comanda o período contínuo do verbo, pelo que esperou até aos 45 anos para transpor o sonho para a realidade, acrescentando-lhe a vontade de “aqui fazer turismo rural”, desejo .
Teresa Ruão regressa à casa que tanto gosta e que guardada as memórias de menina. “A casa tem uma alma. É uma casa muito vivida” e para ela convidou os amigos que a encheram de vontade de abrir as portas para dar a provar o que de tão genuíno tem a gastronomia portuguesa. Por o efeito, “peguei nesta sala de estar, transformei a divisão no restaurante e adaptei a cozinha”.
Desde então, já lá vão 15 anos, Teresa Ruão recebe quem muito aprecia comer na Casa de Louredo. “As pessoas ficam o tempo que querem. Como em casa”. Por isso, recomenda-se a reserva.
Hino à gastronomia portuguesa
À mesa, o palato converte-se a sabores a um hino incondicional à cozinha portuguesa, com o pão caseiro, o azeite e as azeitonas, o queijo temperado com passas, amêndoas, pimentão doce e azeite, as pataniscas de bacalhau, a broa feita com flor de sal, os legumes com queijo gratinado com um misto de ervas aromáticas, a bola de carnes, os míscaros com bacon e os tomates grelhados e recheados com atum.
Do mar, serve-se o bacalhau no pão servido em cama de legumes, generosamente regado com azeite. Uma das especialidades da Cozinha da Terra que merece ser saboreada.
Como manda a tradição, a carne vem depois, protagonizada pelo galo cozinhado em vinho tinto e acompanhado de arroz e legumes.
O restaurante da Casa de Louredo tem ainda o arroz de pato – 1.º classificado do Concurso Nacional de Gastronomia da região do Douro Litoral e Minho e, mais tarde, no Concurso Nacional de Gastronomia, na categoria de Carne, ambos em 2002 –, um dos pratos mais conhecidos pelos comensais que tanto apreciam a cozinha de Teresa Ruão, audidata, para quem o ofício da cozinha “é, desde sempre, uma paixão”, assim como o capão, iguaria confecionada numa época específica, “de novembro ao início de março”.
No fim, e tal como em dias de festa, os doces apresentam-se fartos, com um original queque de noz com ovos moles; um gelado de natas “feito em casa”, regado com molho de framboesa; e uma tarte de maçã com natas batidas e canela. Três sobremesas que primam pela autenticidade de sabores.
No fim, e uma vez que tem o tempo necessário para saborear o repasto, aproveite ficar alojado na Casa de Louredo, pois o sonho da parte respeitante ao alojamento já faz parte do mundo real desde abril de 2013. No regresso a casa, ou nos dias anteriores, não deixe de conhecer o Solar de Egas Moniz, em Paço de Sousa, Penafiel, onde Iva Vinha nos recomendou tão boa Cozinha da Terra. Bom apetite! •