As cerejas da Cervejaria da Esquina

Ficámos nas mãos do chef da mais célebre cervejaria de uma esquina do mui lisboeta bairro Campo de Ourique. A cereja no topo do bolo? A Cervejaria da Esquina integra a lista da Rota Gastronómica da Cereja do Fundão e promete um menu “de comer e chorar por mais”!

Após as boas vindas, as honras da casa cabem a um néctar de Baco das terras do Douro, que nos brinda com um branco frutado. Em tom de brincadeira, qual prova cega de vinhos, a garrafa tem o rótulo tapado. Alinhamos. Afinal, aceitámos ficar nas mãos do chef…

A abrir o apetite, em boa companhia de tão virtuosa bebida, Luís Espadana, virtuoso chef que leva a cozinha como uma “brincadeira” diária, apresenta as amêijoas pé de burro com laranja grelhada, uma troca de papéis com o limão, a qual supera a tradição com um sabor agridoce, enaltecido pelo “grelhado”, que casa bem com os dias de verão.

Segue-se um vinho da região de Lisboa. Um monocasta Viognier, para casar com as vieiras coradas acompanhadas por cerejas marinadas com gengibre e raspa de limão (foto de entrada), ingredientes que conferem frescura ao molusco e equilibram o doce do fruto oriundo de terras da Cova da Beira e da farófia de cacau com os poejos. Servimo-nos dos talheres e pomos o palato à prova.

Ainda do mar vem o lingueirão frito que, com ovo estrelado, protagoniza o prato composto também por crocante de pão de trigo e um molho de manteiga, um gesto aclamado pelo atrevimento de quebrar a tradição do bife com “ovo a cavalo”. Ou não estivéssemos numa requintada cervejaria que, desta vez, dá primazia aos sabores do mar.

Vem o vinho. Um tinto do Douro, de rótulo tapado, para descobrir no fim, enquanto as mãos do chef Luís Espadana cortam, com a experiência de uma vida na cozinha, finas fatias de uma posta mirandesa maturada, temperadas com flor de sal, para partilhar o prato com a broa de milho torrada e o molho barbecue de cereja e manjerico – sim, as folhas podem ser comidas –, que refresca o sabor da carne com o molho.

No final, a sobremesa, pensada na hora – é o chef quem o diz –, junta-se a uma colheita tardia de 2012, proveniente da mais antiga região vinícola demarcada do mundo: uma tarte tatin de cereja com creme de baunilha e cumaru, pelo qual o chef Luís Espadana é “fascinado”. Um doce de sobremesa que comprova a versatilidade da técnica francesa numa sintonia perfeita com sabores que unem duas nações, Portugal e Brasil, o país que o adotou há três anos, desde que se abriram as portas da Tasca de São Paulo, com Vítor Sobral, que complementa, assim, a dupla de chefs na Cervejaria da Esquina, em Lisboa. Ainda no Brasil, a dupla de chefs, em comunhão com Hugo Nascimento, da Tasca da Esquina do bairro lisboeta Campo de Ourique, cujo mentor também é Vítor Sobral, mostram os dotes da cozinha gourmet na Tasca da Esquina, de João Pessoa, em Paraíba.

E eis que, em jeito de desfile, são apresentados os néctares de Baco que acompanharam o repasto da noite, merecedor de grande apreciação por gourmets e gourmands. •

+ Cervejaria da Esquina
© Fotografia: João Pedro Rato