Em terras da Beira Interior, o casario de pedra reerguido das ruínas de um passado distante acolhe, há 15 anos, a arte de bem receber na companhia de um bom vinho, a par de uma boa conversa e na presença de uma gastronomia tão inventiva e tão nossa, em bom nome da autenticidade e do requinte.
A capela de Nossa Senhora de Lourdes e as ruínas do castelo da aldeia
O fim de tarde irrompe no silêncio no alto da aldeia de Marialva, no concelho de Mêda, o ponto de partida para um passeio todo-o-terreno até às vinhas das Casas do Côro, onde o pôr-do-sol parece aguardar pela chegada de apreciadores de um bom vinho harmonizado com dois dedos de conversa ou mais, caso houvesse tempo.
Um refúgio na natureza
Rodeados de majestosas pedras sobrepostas por ação do tempo que já por ali passou e do Homem, que compôs a perfeição no detalhe, para criar conforto num cenário habitado pelo belo de uma natureza intacta. E eis que chega a vez das iguarias e do brinde com um legado de Baco do Porto, pondo a tónica na paisagem cravada de vinhedos alinhados, com o castelo de Marialva, a uns quantos passos, e no ocaso.
Eis as boas-vindas de Carmen e Paulo Romão, os anfitriões e mentores de um projeto de família que tão bem sabe receber os hóspedes que elegem as Casas do Côro para uma tão merecida pausa de veraneio ou primaveril, ou sempre que o tempo está de feição.
Pelo caminho, a vinha quebra a ausência de ruído – há 12 hectares plantados com castas brancas, das quais uma parcela conta com três anos e a outra, apenas, com um ano a 580 metros de altitude, “um dos pontos mais altos da Meseta Ibérica” do lado português, reforça Paulo Romão já numa outra conversa em torno da vinha e do vinho, e “as uvas são compradas aos vizinhos”, conta Carmen Romão.
O porquê do vinho e o dom da cozinha
Há leitura no Casão do Largo
Estava apresentada a epígrafe para desfrutar da leitura dos aromas do legado de Baco das Casas do Côro. As honras couberam a Casas do Côro branco 2013, um DOC da Beira Interior desenhado – à semelhança dos demais vinhos brancos Casas do Côro – pelo enólogo Rui Roboredo Madeira, um apaixonado pelos ‘vinhos de altitude’. “Dizem os entendidos que é um dos melhores terroirs de vinho branco”, justifica o mentor deste requintado turismo de aldeia.
O Casas do Côro Reserva tinto 2013 foi o vinho que se seguiu, com enologia de Dirk Niepoort, responsável pelos tintos das Casas do Côro e o rosto da quinta geração de uma família holandesa ligada à produção do vinho do Porto no Douro, que nos ‘trouxe’ à mesa o Porto Niepoort Tawny.
Todo o desfile é orquestrado, em exclusivo, para acompanhar o repasto no Casão do Largo, o qual teve as mãos de Carmen Romão, uma apaixonada pela gastronomia e por todo um receituário que permite dar azo ao aprazível dom pelo detalhe e a combinação de sabores à mesa. “Todas as receitas são minhas e são todas muitos simples, o que parte da qualidade dos produtos temos na horta”, declara a anfitriã. Falta acrescentar que todos os dias os pratos são diferentes, mas igualmente deleitosos, como a salada de presunto e lascas generosas de quejo e sementes, e o gelado de natas e leite condensado com amêndoas cristalizadas com açúcar mascavado e canela e acompanhado por bolo/mousse de chocolate, que fizeram jus ao velho ditado “os olhos também comem”.
Cozinha caseira com assinatura
Só para acicatar o palato, os protagonistas que saíram da cozinha foram os cogumelos salteados com chouriço e ovo couchê, a sopa de tomate e o inesquecível puré de perdiz gratinado e acompanhado por esparregado. No fim, o buffet de sobremesas acalenta a alma com tão doce mestria, em particular nas iguarias de açúcar com amêndoa, o fruto seco colhido das 1300 amendoeiras e o mais recorrente dos bastidores da sala de jantar das Casas do Côro.
Quanto a Baco, a carta lista “todos os vinhos do Douro que entendemos que vale a pena ter”, revela Paulo Romão e “a maioria dos hóspedes aceita a sugestão de vinho ao jantar”, pois o almoço só acontece mediante reservas especiais.
O cenário noturno que cerca Marialva
Em suma, os jantares das Casas do Côro são ditados pela cozinha de Carmen, enquanto a escolha dos vinhos está nas mãos de Paulo Romão, que fala ainda sobre o Casas do Côro Family Harvested tinto 2011 DOC, uma enologia de Rui Roboredo Madeira distinguida com a Medalha de Ouro DOC Beira Interior 2015 na categoria de Melhor DOC Beira Interior 2015, no âmbito do 8.º Concurso de Vinhos da Beira Interior. Mais uma prova de que é preciso preservar “valores da terra”, muito presentes no discurso do nosso anfitrião e, deste modo, “mostrar aos outros que vale a pena”.
Findo o jantar, o melhor é fazer uma pequena caminha pela aldeia e desfrutar da vista que nos proporciona o cenário noturno de um lugar com história.
A semântica do romantismo de charme
Foi o que aconteceu na segunda metade dos anos 1990’. Paulo Romão arquitetou e concretizou o desejo de reedificar o casario antigo bem perto do castelo de Marialva, a aldeia que viu nascer a família materna de Carmen Romão. Assim, começaram as obras, em 1998 e, dois anos depois, estavam abertas as portas das Casas do Côro. “O nome ‘côro’ advém de coreto, ao lado da capela de Marialva”, explica a nossa anfitriã na visita à primeira casa com o mesmo nome deste turismo rural que reergue um importante património histórico.
Os aposentos da Casa Senhora da Guia
Desde então, a aventura levou o casal a viajar para outros lugares do mundo, de onde trouxeram sabedoria e peças de imobiliário e decorativas, para tornar as casas mais confortáveis e acolhedoras, com a elegância do estilo clássico e romântico, numa combinação constante com a luz natural que atravessa as grandes varandas. “A decoração é mudada de vez em quando. Tenho o vício de mudar tudo.” E tudo por causa da “preocupação com o bem-estar dos nossos hóspedes”, daí apostarem na “roupa de mesa e de cama sempre de boa qualidade”.
Depois da massagem chega a hora de relaxar
Pouco mais de 15 anos depois, as Casas do Côro contabilizam 31 quartos e o Eco Friendly Spa, edifício rodeado por um jardim de oliveiras. No interior, há uma área comum composta por sala de leitura, bar e “uma mesa para jantares mais exclusivos”, uma piscina – com aparelhos de aqua gym à disposição –, banho turco e sauna – ambos com com vista privilegiada para o castelo –, e duas salas de tratamento tendo, uma das quais, um pequeno terraço para massagens ao ar livre.
Sauna com vista para o ex-libris da aldeia
A ideia surgiu como resposta aos hóspedes que elegem este destino nos dias menos soalheiros do ano mas, ao que parece, é também procurada quando o calor não dá tréguas… No final, nada melhor que prolongar o descanso na sala de relaxamento decorada a preceito e com o requinte que dita as tendências das Casas do Côro.
O jantar será servido dentro de pouco tempo no terraço do Ateliê do Côro
É por isso, e por cada detalhe que se vai descobrindo que, “aqui, o hotel é o destino”, reforça Paulo Romão. Porém, “o grande enigma é o termos conseguido fazer um destino”, um destino internacional, que o fundador vê como “a nossa grande conquista” – ou não fossem o grosso dos hóspedes oriundos da Bélgica, do Brasil, de França e de Espanha –, um patamar atingido graças ao esforço e à dedicação imparáveis de toda a família, pelo que haverá novidades em breve.
Para abrir o apetite pela manhã
É uma “intervenção a que os nossos hóspedes dizem que representa o novo luxo”, ou seja, “a autenticidade, a qualidade global e a forma de estar” que sabe tão bem desfrutar. Uma viagem que começa logo pela manhã, ao pequeno-almoço que dispõe de compotas, doce, bolos, pão e demais iguarias caseiras irresistíveis, assim como a fruta, os queijos e tantos outros produtos que tão bem sabem na primeira refeição da manhã. No Ateliê do Côro ou no espaço exterior, o terraço, envolto por árvores de fruto, flores e plantas que percorrem este destino intimista e discreto da aldeia de Marialva, o início do roteiro de um percurso pedonal ou de um passeio de bicicleta, sem esquecer os cruzeiros no Douro, os passeios todo-o-terreno, e os desportos náuticos e de aventura, a somar aos 18 programas das Casas do Côro.
Preguicemos na relva ou nas chaises longues
Ou, porque não, passar a tarde a preguiçar à beira da piscina, com vista para o castelo de Marialva e terminar o dia com um repasto composto pelos pratos desenvolvidos pela nossa anfitriã e acompanhados pelos vinhos escolhidos por Paulo Romão. Sugestões: Casas do Côro Vinhas velhas Reserva D. Niepoort branco 2012 DOC e Casas do Côro Reserva tinto 2009.
Boas férias! •
+ Casas do Côro
© Fotografia: João Pedro Rato
Partilhe com os amigos: