Manuel Lino é o chef que, há um ano, assina os pratos inscritos na ementa do restaurante do n.º 41 da avenida da Liberdade, em Lisboa, dando azo a sabores de uma cozinha que se quer portuguesa e partilhada com o requinte de bebidas destinada aos mais audazes.
Os tabiques, que caracterizam o casario mandado erigir por Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal, após o terramoto de 1755, na capital portuguesa, dão origem ao nome de um restaurante que, há um ano abriu, portas no n.º 41 da avenida da Liberdade na cidade das sete colinas. E as célebres gaiolas pombalinas – a génese da construção anti-sísmica, as quais consistem numa estrutura tridimensional de madeira – são, por sua vez, os elementos que marcam forte presença no espaço e lhe concedem identidade. Falamos do Tabik Restaurant cujo jovem chef Manel Lino reforça, na carta de outono/ inverno, o gosto pelo receituário português, como se de uma viagem pelas cozinhas do país se tratasse, com detalhes que denotam um piscar de olhos a outras cozinhas do mundo, dentro de uma outra que construiu de raiz.
Sobre o espaço amplo, que se estende até a um jardim de inverno – podendo, a zona do fundo ser divida em pequenas salas, baixando os painéis antes recolhidos no teto, conferindo-lhe um ambiente discreto e intimista –, é notório o tributo à gaiola pombalina, demarcando-se também pela presença do mosaico hidráulico no chão da primeira sala, como se de um tapete se tratasse, e pelo painel alusivo à pintura barroca, que conquista o olhar de quem à mesa se senta para o repasto.
Ovo cremoso com puré de favas e chouriço
Do menu de degustação do Tabik, sobre o qual Manel Lino diz ter origem numa “cozinha descomplicada” vem a entrada: Puré de favas, cebola e chouriço picante, crocante de pão, ovo cremoso e rebentos de soja. Mistura-se antes de levar à boca, para que se desfrute de todos os sabores ao mesmo tempo.
Rabo de boi com chalotas e puré de cherovia
Segue-se a carne, um dos ex-líbris de Manel Lino que, uma vez mais, surpreende, pela positiva, com o rabo de boi cozinhado a baixa temperatura, com chalotas, puré de cherovias (parecida com a cenoura, mas apresenta uma cor mais pálida e um sabor mais intenso do que a referida raiz) e gengibre, demi glace (molho próprio para acompanhar pratos de carne) de rabo de boi, pedaços de pão crocante e folhas de mostarda, as quais, juntamente com o gengibre, são apanhados no palato, graças à presença q.b. de ambos neste prato.
Arroz doce com leite de coco e lima
Porque “o doce nunca amargou” – já diz o ditado português por muitos apreciado – chega a sobremesa que denota a ousadia do jovem chef: Arroz doce de coco, granizado de mamão e raspas de lima. Uma receita típica portuguesa com ingredientes novos e um sabor um pouco mais cítrico, para degustar sem medo na companhia de um Vinho da Madeira: Cossart Gordon Sercial 5 anos.
Além do menu de degustação, há o menu experiência Tabik, com duas entradas, prato de peixe, prato de carne, pré-sobremesa e sobremesa, o menu executivo _ ao almoço – e a escolha a la carte, com 12 entradas, como o tártaro de novilho, chalotas doces e picantes, pralinée de amendoim e espuma de coco ou os peixinhos da horta ou o ceviche do peixe do dia; quatro pratos de peixe – bacalhau com sopas de pão e alho e ovo cremoso ou lombo de pescada com terrina de nabo, batata e molho de espinafres, entre outros –, cinco de carne – cabrito com aroma de cardamomo e cenoura em texturas ou entrecôte com terrina de batata-doce, por exemplo – e dois vegetarianos – risotto de legumes aromatizado com azeite e ravioli de ricotta e espinafres, puré de abóbora, castanhas e cogumelos –; e seis sobremesas, onde constam a seleção de queijos e a salada de fruta com sorbet de gin tónico.
Há mais vida para além do gin
Uma vez que, segundo dizem os bartenders da casa, “as grandes relações de amor começam com um cocktail”, eis a lista de cocktails, a qual é entregue num envelope subtilmente fechado. Ditada pelas estações mais frias do ano, a carta de mui versáteis bebidas tão em voga, e criada por André Reis, Nuno Figueiredo e equipa – que conta com 65 gins na “sua” coleção, a somar a tantas outras bebidas utilizadas neste laboratório de experiências sensoriais – apresenta sabores quentes que casam sempre bem com o inverno. “Quisemos fazer uma carta diferente, evoluir para sabores mais intensos e sabores diferentes”, acrescenta o bartender David Rodrigues, que nos explica as bebidas eleitas para a mesa: November 23th e In Vino Veritas. O primeiro é composto por zacapa 23, shrub (bebida feita com vinagre cuja produção remete a técnicas antigas) de laranja e canela, black wallnut (oriunda da parte este da América do Norte) e chocolate bitter (bebida alcoólica com um sabor agridoce) servido num cálice banhado em canela, por fora, e uma rodela de laranja desidratada – e está recomendado, sobretudo para quem aprecia o picante da canela nos lábios. Por sua vez, o In Vino Veritas é feito com vodka infusionada com alecrim, xarope de vinho da casa, beterraba, sumo de limão e bitter – como diria o mui ilustre Fernando Pessoa “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.
Quanto ao valor único de dez euros para cada cocktail, até mesmo para o especial, inscrito no fim da carta, David Rodrigues afirma que, “assim, a escolha não é feita em função do preço”.
O Tabik Restaurant está aberto de segunda a quinta, das 12.30 às 15 e das 19.30 às 22h30 horas. O horário é o mesmo à sexta e ao sábado, mas o fecho acontece às 23 horas. Já o Tabik Bar, que convida a experimentar bebidas “fora da caixa” acompanhadas de conversas para pôr em dia, o horário de segunda a quinta é das 12.30 à 01 horas, enquanto que à sexta e ao sábado pode ficar até às 02 horas.
A ir, bom apetite e boas experiências! •
+ Tabik Restaurant
© Fotografia: João Pedro Rato
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