Segundo o calendário gregoriano, a lua cheia chega a 23 de março, bem a tempo de dar as boas vindas à primavera. Que tal antecipar a celebração nesta tarde soalheira com um vinho especial?
Falemos das novas colheitas de Lua Cheia em Vinhas Velhas cuja história começa no Douro e apresenta a génese de um projeto a três – os enólogos João Silva e Sousa e Francisco Baptista e o empresário de Aveiro, Manuel Dias. E é no Cima Corgo, no Douro profundo “um spot fantástico onde a moda dos vinhos não chegou” e, portanto, “o sítio ideal para começar a trabalhar os brancos (…) que durassem”, segundo João Silva e Sousa, onde as novas colheitas possuem, na sua essência e identidade, vinhas velhas com mais de 20 castas identificadas, no sentido de revalorizar o património que é todas as castas durienses, nas palavras de Francisco Baptista.
Comecemos pelo branco Lua Cheia em Vinhas Velhas branco 2015, o DOC (Denominação de Origem Controlada) Douro que iniciou as provas no elegante e mui cosy Estórias na Casa da Comida, em Lisboa. Uma produção que envolve 60 mil garrafas de um vinho feito a partir de castas de vinhas velhas de solo xistoso e sob um clima quente e seco com o registo de grandes amplitudes térmicas, tão típico da mais antiga região vitivinícola demarcada do mundo. Aos entendidos da matéria aqui fica a explicação do processo de vinificação: Fesengace e esmagamento seguido de 12 horas de maceração pré-fermentativa, clarificação estática a frio durante 48 horas e utilização de leveduras selecionadas. Resultado: Um néctar de Baco muito mineral, com grande volume, frescura e persistência de boca, permanecendo estes dois últimos no final. Quanto à harmonização, esta é feita com peixe e carne brancas.
Ao primeiro rosé da história da Lua Cheia em Vinhas Velhas, com sete mil garrafas e cuja colheita data de 2015, coube o segundo lugar na prova. Com uma cor salmão um pouco mais carregada do que os vinhos comuns dentro desta referência e resultante de um processo de vinificação igual ao do já referido vinho branco – não nos esqueçamos que como se trata de um rosé é feito a partir de castas tintas, sendo utilizado o mesmo processo de vinificação dos brancos. Além da mineralidade no aroma, este rosé apresenta-se como um vinho jovem, fresco e seco na boca e um final persistente que vai bem com sushi, marisco e massas.
Lua Cheia em Vinhas Velhas tinto 2014 foi o senhor que se seguiu neste desfile de Baco e cujo processo de vinificação passou pelo habitual desengace e esmagamento seguido de 12 horas de pré-maceração, de pré-fermentativa a 34°, para maximizar o trabalho das enzimas, uso de leveduras selecionadas e fermentação alcoólica com controlo de temperatura e remontagens ligeiras. Com um aroma a amoras e mirtilos, que também se notam na boca, apresenta-se redondo na boca e com um final longo, pelo que pode ser servido a acompanhar carnes assadas e de caça, bem como queijos fortes. Ao todo há entre 26 e 27 mil garrafas.
O final da prova foi protagonizado por Lua Cheia em Vinhas Velhas Reserva Especial tinto 2014, com cerca de cem mil garrafas e um processo de vinificação igual ao do tinto anterior, tendo o controlo de temperatura um registo entre os 22°e os 24° C e remontagens ligeiras com uso a delestagem (o líquido é retirado na totalidade para, depois, ser reposto pela parte superior da cuba, de modo a que fique em contacto com as cascas e, assim, permitir uma maior extração de polifenóis), seguido de um estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês novo e usado. Os aromas são dominados pelos frutos do bosque e madeira, com volume de boca, onde se revela elegante e final longo. À mesa a combinação recai na cozinha mediterrânica e nos queijos intensos.
O leitão assado com puré de batata doce do lisboeta Estórias da Casa de Comida e o Andreza Grande Reserva tinto 2014
Durante o repasto, o desfile estendeu-se, entre os quais estiveram o Lua Cheia em Vinhas Velhas Grande Reserva branco 2011, o Secretum branco 2012, mais um DOC Douro feito a partir da casta Arinto, e o Andreza Grande Reserva tinto 2014, feito a De volta à história deste projeto a três, a primeira adega nasce no Douro, em 2010, e estende-se para outras regiões, sempre leal à filosofia estabelecida, somando vinhos de Monção e Melgaço, as quais pertencem à Região Demarcada dos Vinhos Verdes, onde têm uma adega própria e cujo investimento começou em 2012 e, em 2013 no Alentejo, com uma parceria sendo a vinificação feita em instalações de terceiros e as uvas colhidas e adquiridas na região de Estremoz.
Eis uma história com um percurso invertido, pois as primeiras garrafas foram destinadas ao mercado externo e, só agora, estão a chegar às garrafeiras e aos restaurantes nacionais.
Agora sim, brindemos à primavera com a serenidade merecida. •
+ Lua Cheia em Vinhas Velhas
© Fotografia: João Pedro Rato
Legenda da foto de entrada: Francisco Baptista, Manuel Dias e João Silva e Sousa
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