Um refúgio aos pés da Serra de Sintra

Em tempos, fora o Mosteiro de São Jerónimo da Penha, datado do século XIV. Hoje, é o Penha Longa Spa & Wellness, espaço reservado para reequilibrar corpo e mente, aprender a escolher alimentos biológicos e vivenciar momentos de puro deleite com a Natureza… e à mesa.

Uma piscina com vista sobre a serra

Agende, no mínimo, três dias de pausa no trabalho, escolha roupa e calçado prático para usar durante o dia, repesque o fato de banho e eleja peças de vestuário e sapatos casual chic, para a noite. Faça as malas e rume em direcção ao Penha Longa Resort, em Sintra, a fim de desfrutar de um lugar privilegiado pela envolvente paisagista, ora em estado selvagem, ora delineada com o devido desvelo.

Próximo passo, desligar-se das conexões e distracções que possam interferir de um dos dois programas à disponíveis no Penha Longa Spa & Wellness – o Retreat Re-energize e o Slim Detox. Só assim será possível entregar-se de corpo e alma a mui prezeirosa experiência em três (€650), cinco (€1000) ou sete dias (€1300).

O apaziguador circuito de águas contíguo ao labirinto da meditação, no exterior do Spa

Depois do pequeno-almoço no Il Mercato, o restaurante reservado para o primeiro repasto do dia e o jantar, António Macias, director do Penha Longa Spa & Wellness, licenciado em Educação Física e Desporto, pela Faculdade de Motricidade Humana, em Cruz Quebrada e director de Wellness Clubs & Spa’s, desde 1994, aguarda por quem elege este refúgio para ficar bem longe da azáfama do dia-a-dia, para iniciar a consulta de wellness e avaliação biofisiológica baseada numa pirâmide de bem-estar que assenta em três abordagens basilares: Mente, movimento e nutrição.

Para que a tríade fique em sintonia, é inevitável a vertente taylor made. Objectivo? “Perceber as motivações e identificar os gaps.” Comecemos pela mente: “Nós apenas ajudamos a identificar, percepcionar e a guiar as suas motivações intrínsecas. Ou seja, se detesto treinar no ginásio com máquinas, seguramente que o programa não incluirá treino de ginásio com máquina, mas provavelmente caminhadas na natureza, onde o nosso resort é riquíssimo.” Depois de trabalhado o lado psicológico, António Macias passa para o movimento, a respeito do qual “existe aconselhamento, onde se tenta descobrir quais as actividades que o cliente gosta de realizar ou, no mínimo, não o colocar a fazer aquilo que não gosta”, explica. Na lista constam sessões de ioga, pilates, thai-chi ou chi-kung, natação, passeio ou corrida dentro ou fora do centro wellness, treino fitness, ténis, paddle ou squash.

Quanto à consulta de nutrição, esta é feita por um dos nutricionistas do Spa do Penha Longa, os quais desenharão, por fim, um plano personalizado composto por cinco refeições diárias.

Porém, é preciso explicar a diferença entre os dois programas – primeiro foi criado para “contribuir para o re-equilíbrio mental e corporal”, enquanto o objectivo da segundo consiste em “recarregar energias”, para que fiquem “novas, puras e saudáveis”. Na convergência de ambos, a finalidade é “ajudar a encontrar novos hábitos para que se siga um estilo de vida equilibrado, saudável e em paz”.

Outrora Mosteiro de São Jerónimo da Penha, hoje lugar de celebrações rodeado do Jardim do Cardeal ou das Adens

Fiquemos, para já, pelas caminhadas. Com efeito, no Penha Longa Resort motivação não falta, graças aos dois trilhos – um de dois e outro de oito quilómetros – traçados entre os exteriores do elegante hotel, erigido em 1988 – há quase trinta anos –, rodeado de pormenores deixados pela História, complementada pelo Jardim do Núncio, de estilo Renascentista, construído em 1552, cujo legado reúne o espelho de água, oito fontes e uma capela dedicada a São João Baptista, bem como pelo Jardim das Damas, calcorreado por senhoras da corte, a Fonte da Porca, e os jardins do Cardeal – o Cardeal Rei D. Henrique – e das Adens, passando pelo Mosteiro da Penha Longa, o primeiro convento da Ordem dos Jerónimos cuja pedra da fundação foi lançada, em 1390, por D. João I

Retiro para momento em estado zen

No alinhamento das massagens, nada melhor do que terminar a sessão do labirinto de meditação desenhado no exterior do Spa, de olhos postos na poética Serra de Sintra a desfrutar também durante as aulas de ioga logo de manhã.

Corpo, mente… e estômago

O bar do Arola e do LAB by Sergi Arola, os restaurantes do chef catalão

Pois bem, para o almoço, o Arola, restaurante de tapas contíguo ao LAB by Sergi Arola (1 estrela Michelin) do chef catalão, é uma das opções a ter em conta, em particular para quem estiver a fazer o Retreat Re-energize – já que ao Slim Detox é aplicado um plano alimentar mais exigente.

Comece-se com um sumo natural sem açúcar em detrimento do vinho e dos coktails, para que o treino seja levado a sério, o qual acompanha um alinhamento de pratos que pecam por saber muito bem. Nas boas vindas, o carpaccio de porco ibérico e queijo parmesão são refrescados pela malagueta verde e pela maçã verde. Em contrapartida, do mar, o caranguejo se faz acompanhar por torradas – deixemos de parte, pois podem interferir com o plano, salvo para quem não perdoa por não poder saborear tudo!

As  clássicas batatas bravas e o camarão frito em pampo acompanhado do molho sweet chili

Sigamos em frente, desta feita, com as batatas bravas, um clássico da cozinha da vizinha Espanha e, como tal, de Sergi Arola, e com o camarão frito em pampo e molho sweet chili – vá, um dia não são dias!

Pescada, espinafres, pimentos verdes, caril e amêndoa caramelizada

Venha o prato de peixe, com o qual o chef catalão participou na edição de 2012 do Peixe em Lisboa, com a pescada como protagonista e servida com espinafres, pimentos verdes, caril e amêndoa caramelizada. Deliciosa! Ou vitela com moleja, uvas e cebolinho. Qual escolher?

Deixemos a resposta para quem nos lê e sinta vontade de experimentar, até porque houve quem pecasse – não foi quem escolheu a fruta laminada para sobremesa, de certo, mas sim quem elegeu a copa catalana com gelado de tangerina e crumble de bolacha Maria para rematar o repasto.

Produtos portugueses em modo italiano

Paulo Pedro, o novo chef do Il Mercato

A noite começa a pairar ao ar livre, momento em que é chegada a hora do jantar no Il Mercato, espaço ampliado, com uma panorâmica imensa sobre o campo de golfe do resort, e onde o chef Paulo Pedro, de 34 anos, mostra o que sabe fazer, ofício que complementa com os livros, “para conhecer e aprender o que que se faz em cada região de Itália”. Afinal, e tal como o próprio nome indica, o Il Mercato denota uma grande influência da cozinha italiana, portanto “temos de aprofundar os nossos conhecimentos e conhecer os produtos que os italianos usam na cozinha”, afirmou o nosso anfitrião. Portanto, está nos seus horizontes descobrir a Itália na primeira pessoa. Sem mais delongas, vamos às entradas, primeiro com o couvert, onde não faltam a brucheta, a pancheta de queijo parmesão, a focaccia caseira, o pão com tomate seco e manjericão, a broa, o folhado de parmesão, pão de Mafra, os grissinos e outros. Tudo boas razões para entreter o palato a par com dois dedos de conversa, à medida que a noite avança, deixando dissipar os contornos do jardim e da serra que está do lado de lá da parede envidraçada do restaurante.

Serviu-se um Sílica branco 2013, um DOC Douro feito a partir das castas Viosinho, Gouveio e Moscatel Galego Branco. Da cozinha, Paulo Pedro levou para a mesa o amuse bouche composto por um arroz de pato à italiana com foie gras, um tapenade (paté originário da Provença francesa) e uma brandada de bacalhau com tinta de choco crocante e água de tomate. Um trio de iguarias cuja essência centra-se “num jogo de sabores, sabores muito similares entre as cozinhas portuguesa e italiana”, explicou, “tal como acontece com o presunto e queijo, uma dupla muito apreciada pelos portugueses que também se serve de bandeja a cozinha italiana”.

Carpaccio de vieiras foi o que se seguiu no desfile preparado pela equipa de cozinha de Paulo Pedro, com a qual gosta muito de trabalhar, acompanhado por polenta branca, caldo à Bulhão Pato, chutney de ruibarbo e torresmos, uma mescla de sabores que casaram bem no prato, em particular, graças ao sabor do limão, que refrescou o palato, frescura essa que permaneceu com o vinho.

No alinhamento dos sabores de mar, terra e serra, Paulo Pedro preparou um raviolo de camarão com cogumelos shiitake e molho de aves ligeiramente trufado, com parmesão ralado, um muito bom prato para as noites frias a que Sintra já nos habituou. De Baco, Gonçalo Mota, o escanção recomendou um Visconde de Garcez branco 2015, o DOC Douro eleito para ser “o vinho da casa”.

O risotto de caldeirada interpretada por Paulo Pedro

Apesar da beleza da Serra de Sintra, continua seduzido pelo mar, pela liberdade que o imenso Atlântico que banha Portugal dá a quem o contempla e nele se aventura. Por isso, o prato que se seguiu uniu o que de tão bom tem o oceano: “A interpretação da nossa caldeirada.” Um risotto à base de marisco e peixe: “Raia, robalo, tamboril.” A compra foi feita no mercado de Cascais, pois o foco está no comércio local e no respeito pela sazonalidade, “trabalho que estou a desenvolver aqui”, esclareceu Paulo Pedro que concluiu o curso na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, quando ainda existia nas Olaias, em 1999, seguindo-se o primeiro estágio no Hotel Costa da Caparica, “à porta de casa”, o Vila Vita Parc, em Porches, no Algarve, o Myriad, quando da abertura do hotel, no Parque das Nações e Fortaleza do Guincho e, no meio do percurso, uma passagem por terras de Sua Majestade, e que, desde outubro de 2016, se rendeu ao Il Mercato.

Robalo e orzo, prato quente para acalentar as noites frias de Sintra

Mar adentro, veio o robalo salteado com orzo, “uma espécie de cevadinha”, e puré de couve-flor torrado, um prato que rima com as noites frias de Sintra.

Um festim esta panna cotta com framboesas, laranja e cassis

À sobremesa, o mérito é da chef pasteleira Carolina Vitória, com a panna cotta com framboesas, laranja e cassis e um toque de limão, um verdadeiro festim que rematou o repasto de “uma cozinha mais mediterrânica, com muito potencial”, onde quer “trabalhar a simplicidade e explorar os sabores sem me dispersar, e para que fiquem na memória”, resumiu Paulo Pedro, para quem “já começa a haver abertura por parte das pessoas” em ir ao Il Mercato, “um lugar cativante. Porém, o objectivo é também “abrir as portas do restaurante para o exterior”.

Quem alinha no desafio do chef do Il Mercato? O melhor é ir, pois há muito para (re)descobrir nesta e noutras cozinhas do Penha Longa Resort.

Boa viagem! •

+ Penha Longa Resort
© Fotografia: João Pedro Rato

Já recebe a Mutante por e-mail? Subscreva aqui .