A pequena aldeia de Anadia, na Região Demarcada da Bairrada, guarda milhões de garrafas e oito décadas de história da empresa vinícola que, este ano, celebra o aniversário com um espumante especial: Elpídio 80.
O vetusto portão de acesso às galerias-guardiãs de milhões de garrafas com colheitas dentro
Sinónimo de celebração, Elpídio 80 foi desenhado para comemorar o 80.º aniversário da empresa vinícola bairradina e em homenagem ao seu fundador, Elpídio Martins Semedo, dono de uma empresa de madeiras que, em 1937, mandou escavar uma pequena parte do solo da aldeia de Ferreiros, em Anadia, para abrir galerias subterrâneas. O propósito? Preservar o espumante a uma temperatura constante de 12° C, faça chuva ou faça sol e, deste modo, fazer com que as características da bebida eleita para muitas comemorações perpetuassem em garrafa.
Falemos do que acontece para lá de um velho portão de ferro, onde tecto e paredes permanecem cobertas de um amontoado de teias de aranha e fungos, e o cheiro da humidade e o frio regelam os ossos. Na composição das galerias contam-se os corredores escuros, quase labirínticos e estreitos cravejados de várias fileiras compostas por diferentes colheitas de espumantes da Caves do Solar de São Domingos e pupitres – suportes semelhantes a cavaletes concebidos para encaixar as garrafas com gargalo virado para baixo. É aqui que é feita a remuage, a rodagem manual executada após o enchimento das garrafas com as leveduras e o vinho e durante dois meses por um par de homens. No total, são rodadas 70 garrafas por dia e, ao longo deste processo, ambos são orientados pela pincelada de tinta visível no fundo de cada garrafa.
Alexandrino Amorim, administrador da Caves do Solar de São Domingos
O certo é que numa região onde a produção de espumantes conta já com mais de um século e é considerada a bebida vínica de excelência, “acho que temos um potencial incrível”, sublinha Alexandrino Amorim, administrador da empresa, enquanto nos faz uma visita guiada pelo subsolo, passando pela sala de visitas, “onde, há muitos anos, se comia leitão” e que, em tempos, fora uma cuba.
“Antes, o degorgement era feito aqui”, informa o nosso anfitrião junto ao vetusto elevador coberto pelo aglomerado de pó, fungos e teias de aranha, o qual, outrora, “se puxava à mão” e “levava as garrafas para cima, para rotular”. Além disso, faz questão de frisar a presença da data e da hora em que é feito o degorgement num código inscrito no rótulos das garrafas de espumante da Caves do Solar de São Domingos. “Um pormenor que é bastante importante”, adverte. Mas, “qual é a diferença entre um vinho bom e um grande vinho?”, avança. “A diferença está nos pormenores que, aqui, é tudo!”
Numa súmula, as galerias são um portentoso legado traduzido em mais de 2,5 milhões de garrafas de espumante – há 15 diferentes – cujo estágio dura, em média, entre dois a três anos – salvo o rosé, que vai para o mercado mais cedo –, a somar a milhares de vinhos engarrafados e aos mais de 500 cascos (cada um equivale a 640 litros) de aguardentes vínicas que se dividem nas versões velha (com mais de três anos), velhíssima (com cinco anos) e edições especiais em bilha de porcelana (10 anos), Prestígio (20 anos) e Essência (30 anos). Em média, por ano, são vendidas, no total, 800 mil garrafas com a chancela da Caves do Solar de São Domingos.
80 anos celebrados com rigor
Elpídio 80, o brinde aos 80 anos da empresa fundada, em 1937, por Elpídio Martins Semedo
Números à parte, voltemos ao brinde ou não fosse a celebração dos 80 anos da empresa vinícola, o motivo que nos levou a ir à Bairrada: Elpídio 80. O espumante DOC de categoria premium da colheita de 2011 das castas francesas Pinot Noir, oriundas de Mogofores, e Pinot Blanc, provenientes de Cantanhede, uma edição limitada a 4.821 garrafas.
“A ideia era fazer um espumante exclusivo, mas como já temos a Baga em vários espumantes, resolvi fazer uma combinação invulgar”, afirma a enóloga Susana Pinho sobre a boa nova da casa, “concebido inteiramente para assinalar esta data”. As uvas de ambas as castas são provenientes de 100 hectares de vinha que a Caves do Solar de São Domingos gere na região bairradina (Mogofores, São Mateus, Pedreira de Vilarinho, Óis do Bairro e Vilarinho do Bairro), na qual são respeitados os princípios da protecção integrada, além de que a maioria é encaminhada para a produção de espumantes. Eis o reflexo do trabalho feito em conjunto entre a enóloga e César Almeida, o viticultor da casa há cerca de dez anos, pois “decidimos talhão a talhão, casta a casta, qual o futuro daquelas uvas” colhidas de videiras submetidas a um rol de etapas por onde o tempo passa devagar até ao momento da vindima, seguindo-se a triagem, a prensagem e a fermentação.
Já na cave, o Elpídio 80, produzido pelo método clássico – a segunda fermentação é feita em garrafa –, foi submetido a quatro anos de estágio, “garantia de qualidade e maior nobreza”, segundo Susana Pinho, durante o qual é feita a remuage, para que as leveduras se concentrem no gargalo, as quais são removidas a posteriori através do degorgement à la glace, ou seja, através da imersão do gargalo numa solução congelante, seguindo a adição de licor de expedição.
Recomendações: A servir entre os 6° e os 8° C na companhia de pratos de carne, peixe ou marisco, ou num brinde entre amigos e em família. A condizer com os festejos, o Elpídio 80 está à venda a solo numa caixa de cartão (28,50€) ou em trio numa caixa de madeira (75€).
Brindemos a uma história com futuro pela frente! •