Depois de 13 edições feitas a partir de castas tintas, há uma nova colheita distribuída por 19 mil garrafas de um legado de Baco desenhado pelo enólogo Pedro Baptista e com a chancela da Fundação Eugénio de Almeida.
O jantar de apresentação do Pêra-Manca decorreu num ambiente idílico
Falamos do mui aguardado Pêra-Manca tinto 2013 cuja “fórmula vínica” é composta por duas castas portuguesas, Trincadeira (55%) e Aragonês (45%) e o processo de vinificação e estágio obedeceu aos requisitos há muito implementados pela casa como se de um ritual se tratasse, como os 18 meses de estágio em barricas de carvalho francês e os dois anos e meio de estágio em garrafa, para além da produção se concretizar apenas em anos de colheita excepcional. Um decisão que cabe a Pedro Baptista, enólogo pela École Superieure d’Oenologie de Montpellier, em França, e que começou a trabalhar nesta fundação em Junho de 1997 como Técnico Vitícola, seguindo-se a nomeação de Diretor Agrícola desta instituição em 2002; em Novembro de 2004, passa a desempenhar o cargo de Diretor Vitivinícola e Enólogo da Adega Cartuxa, integrando o Conselho Executivo da Fundação Eugénio de Almeida em Setembro 2015.
A respeito da quantidade de garrafas, o Pêra-Manca tinto 2013 é de cerca de 19 mil garrafas, número que testemunha a menor produção de Pêra-Manca quantificada até hoje, dado que o torna ainda mais exquisite na garrafeira de enófilos e curiosos em relação a este universo do vinho aqui protagonizado por uma referência vínica que advém de “pedra manca” ou “pedra oscilante”, ou seja, “uma formação granítica de blocos arredondados, em desequilíbrio sobre rocha firme”. Eis o toponímico que dá origem – e explica – tão afamado nome do mundo vínico. O esclarecimento tem uma justificação ou não fosse 2017 o ano escolhido para a apresentação do Pêra-Manca tinto 2013, a exclusividade de um vinho de exceção da Fundação Eugénio de Almeida, da cidade histórica de Évora.
Da Idade Média à Fundação Eugénio de Almeida
Por falar em História, rezam os anais que o Pêra-Manca remonta à Idade Média, com a aparição de Nossa Senhora em cima de um espinheiro a um pastor, por volta de 1365, junto ao qual foi erigido um oratório em sua homenagem e, em 1458, uma igreja, devido à afluência de peregrinos ao local, e posterior fundação de um convento que viria a acolher a Ordem de São Jerónimo. Nos séculos XV e XVI, as vinhas de Pêra-Manca já estavam nas mãos dos Frades do Convento de Espinheiro que, por causa de tão dispendioso trabalho, se viram obrigados, em 1517, a arrendar essas vinhas a Álvaro Azedo, escudeiro do Rei, e a sua mulher, Filipa Rodrigues.
Entretanto, a fama do Pêra-Manca já atravessava oceanos, nas naus comandadas pelos portugueses aventureiros em plena época dos Descobrimentos, ora para a Índia, ora para o Brasil, este em 1500 e por Pedro Álvares Cabral.
A recuperação do prestigiado néctar báquico aconteceu mais tarde, no século XIX, pela Casa Soares que o tornou num vinho requintado, mas por pouco tempo pois, com a propagação da doença da filoxera, parou a produção. Quase um século depois, o herdeiro da extinta Casa Soares, José António de Oliveira Soares ofereceu, em 1987, o nome do vinho à Fundação Eugénio de Almeida fundada em 1963 por Vasco Maria Eugénio de Almeida, projeto empresarial assente, sobretudo, na produção vitivinícola e na exploração agro-pecuária e industrial, e continuado pelo seu neto Carlos Maria Eugénio de Almeida. No alinhamento dos investimentos feitos na vinha – cerca de 450 hectares distribuídos pelas quintas de Pinheiros, Casito, Álamo da Horta e Valbom – é de salientar a construção de duas adegas na Herdade de Pinheiros, em 2007 e 2016, enquanto que, na terra, se preserva a defesa das castas regionais com o intuito de também respeitar a premissa da Denominação de Origem Controlada Alentejo.
O cartaz de Roque Gameiro e o processo de criação
A instituição portuguesa sediada em Évora e abrangida pelos estatutos social, cultural, educativo e espiritual, escolheu um cartaz publicitário da autoria de Roque Gameiro para o rótulo de tão prestigiado vinho. Em 1990 produziu o seu primeiro Pêra-Manca tinto. Seguiram-se as colheitas de 1991, 1994, 1995, 1997, 1998, 2001, 2003, 2005, 2007, 2008, 2010, 2011 e, por último, 2013.
A execução deste vinho responde ao requinte que lhe está associado. Logo, o longo trabalho ligado a esta criação báquica começa nos três talhões de vinha com 35 anos, onde estão plantadas as castas Aragonez e Trincadeira. Após a colheita criteriosa dos cachos de uvas apanhados à mão e a preservação dos mesmos aquando do transporte em caixa para a Adega Cartuxa – Monte Pinheiros, junto à cidade de Évora, a uva é arrefecida durante 24 horas até atingir uma temperatura de 12° C.
No dia seguinte, os bagos são retirados dos cachos e transportados, por acção da gravidade, directamente para os respectivos balseiros de carvalho francês, uma vez que as castas são fermentadas separadamente. Todo este processo é feito sob a supervisão do enólogo Pedro Baptista.
Por sua vez, o estágio é feito em tonéis de carvalho francês, entre 18 e 24 meses. Uma vez em garrafa, e de acordo com a tradição, o vinho é submetido a um novo estágio nas caves do Mosteiro da Cartuxa.
A nova imagem e o código de segurança
Aconteceu em 2006, ano em que o Pêra-Manca recebe uma nova imagem, mais clássica e, em simultâneo, intemporal assinada pelo ilustrador inglês e especialista em gravura clássica Bill Sanderson, a qual é acompanhada, a posteriori, pelo aperfeiçoamento do logótipo com o registo de um tom predominante, um novo estilo tipográfico e a gestão entre logótipo, rótulo, imagem, texto e garrafa.
Nove anos volvidos, é introduzido um inovador sistema de segurança na garrafa para garantir a autenticidade do conjunto vinho e garrafa aquando do lançamento da colheita de Pêra-Manca tinto 2011. Por conseguinte, a colheita de 2013 possui esse mesmo código “associado à utilização de uma imagem holográfica, incorporado na cápsula da garrafa, que pode ser validado no sítio da Internet da marca, dando assim a garantia de aquisição de uma garrafa original”, tal como é explicado em comunicado.
Porém, a história desta instituição localizada a cerca de dez minutos do centro de Évora merece ser ouvida e acompanhada por uma visita guiada na Quinta de Valbom, onde estão o Enoturismo Cartuxa e 60 hectares de vinha em modo de produção biológica, o centro de estágios dos vinhos premium da Adega Cartuxa. Para a visita impera a reserva por marcação prévia a fazer através de enoturismo.cartuxa@fea.pt ou do 266 748 383. •