A natureza, o produto português e o vinho de produção nacional formam a tríade deste restaurante situado em Alverangel, junto à albufeira de Castelo de Bode, no coração do país.
Com o tempo necessário, a estrada curvilínea chega à hora certa à porta de uma pitoresca casa de pedra instalada numa envolvente frondosa em Alverangel, no concelho de Tomar. Mais abaixo, a albufeira da barragem de Castelo de Bode acolhe parte do Zêzere, o rio contemplado da varanda da sala principal do restaurante de Aristides Anjos. Cozinheiro de profissão, apaixonado pela região e com mais uma década dedicada à área de hotelaria, decide abrir O Sabor da Pedra, em Julho de 2009, juntamente com a mulher, Ana Lourenço. A tomarense de coração, que reparte a arte de bem receber com o marido, estendeu o gosto pela decoração à cozinha deste espaço agraciado pela acalmia da paisagem paradisíaca em redor.
Feitas as apresentações, a porta de entrada dá acesso à sala de estar contígua ao bar e à garrafeira. “Temos cerca de 700 referências vínicas a nível nacional”, adianta Ana Lourenço. Por isso, prefere definir O Sabor da Pedra de “restaurante vínico”, onde não faltam os copos adequados para servir os néctares do país, em particular do Tejo, região vitivinícola onde está inserido e à qual é dada primazia na carta.
A salada de polvo é uma das entradas da carta e uma das mais apetecíveis todo o ano
Renovado em finais de 2017, o interior da casa mantém os tectos e as vigas de madeira proporcionam um ambiente acolhedor complementado pela lareira acesso durante os dias frios de Inverno. Em contrapartida, durante o Verão e os dias brindados pelo calor, as portas da mesma sala abrem-se para o exterior, onde um lounge rodeado pela serenidade da natureza aguarda veraneantes e demais apreciadores de refeições mais leves e de petiscos vespertinos.
O sável, confeccionado como manda a cartilha, e a açorda de ovas é o prato mais apreciado na Primavera, altura do ano que visitámos O Sabor da Pedra
“Há muita procura por quem vem via rio, o principal fluxo turístico da zona”, garante a co-proprietária do restaurante. “Convém não esquecer que esta albufeira representa a sobrevivência de cerca de de quatro milhões de pessoas, no país, graças à reserva de água que comporta”, continua. Além de que é o habitat de peixes de rio tão apreciados por muitos, como o lúcio e o achigã escalados na grelha, aromatizados com ervas e azeite e acompanhados por migas e batata a murro.
Com a Primavera, abre a época do sável – servido laminado e frito, e acompanhado por uma generosa açorda de ovas e salada campestre –, bem como do cabrito e do anho (cordeiro de leite) em resposta e por respeito à lei da natureza, tal como se fazia em tempos idos. A confecção vale pela merecida genuinidade.
Bife de carne maronesa confeccionado no ponto e acompanhado por um arroz caldoso de cogumelos silvestres
A ementa é, em suma, uma montra de produtos nacionais, como as carnes com certificação DOP – mirandesa (da região de Miranda do Douro), a arouquesa (do concelho e vila de Arouca, no Douro Litoral) e a maronesa (do Alvão-Marão e da Padrela, duas regiões naturais do distrito de Vila Real), o porco preto e o porco bísaro –, uma vez que a a qualidade é um dos requisitos de Aristides Anjos para a sua cozinha. À excepção do bacalhau, proveniente da Islândia, confeccionado “à lagareiro”, designação partilhada pelo prato de polvo.
Do mar há ainda o peixe pescado à linha, como o robalo, o imperador, a garoupa e a dourada, os quais vão à grelha, são temperados com flor de sal e regados com azeite. Sem esquecer a sopa do peixe do mar, os queijos e os enchidos a iniciar o repasto.
O leite creme é a cereja no topo do bolo
O ponto final na refeição pode ser protagonizado pela doçaria conventual ou não estivéssemos nós nas terras dos Templários. Na lista cabem as fatias de Tomar, as trouxas de ovos, assim como a sericaia, o toucinho do céu, a tarte de framboesa e a de amêndoa, o leite creme, as peras bêbedas ou a mousse de chocolate.
Agora imagine-se a saborear todo este desfile de sabores a contemplar tão privilegiado cenário centrado na imensa albufeira de Castelo de Bode vista da sala principal do restaurante O Sabor da Pedra…
É aproveitar as férias e ir de quarta-feira a sábado e ao domingo só à hora do almoço. Bom apetite! •