Eis o convite para viajar até à Região Demarcada da Bairrada e descobrir as singularidades de uma propriedade histórica com um legado a preservar e terroir a respeitar.
António Azevedo Guedes nas vinhas da Quinta d’Aguieira / © D.R.
Datada de 1835, a Quinta d’Aguieira é comprada, em finais de 1997, por António e Luís Guedes, representantes da quarta geração da Aveleda. O terroir, a história do solar e a notoriedade dos seus vinhos, determinaram a aquisição desta propriedade vinhateira, de 40 hectares, localizada em Águeda, no lado Norte da área geográfica da Bairrada, concelho de Aveiro.
A confirmação do prestígio atribuído aos vinhos desta quinta feita através de prova, por parte da consultora de vinhos Valérie Lavigne e do então enólogo e docente de enologia Denis Dubourdieu, foi outro dos factores tidos em conta neste passo dado pela Aveleda. Falamos de um legado que “é exigente, pois nas décadas de 30-50 os vinhos da Aguieira estavam no restrito clube dos grandes vinhos de Portugal. Não só é uma marca histórica como a história associada à casa também é rica, desde o visconde ao conde de Águeda II”, afirma António Azevedo Guedes – agora administrador do grupo Aveleda a par com Martim Guedes, ambos representantes da 5.ª geração da família Guedes – que, em 2002, assume a liderança da Quinta d’Aguieira.
É precisamente no alinhamento da tão afamada capacidade de guarda dos seus vinhos que entram, agora, no mercado o Quinta d’Agueira branco 2018, (Maria Gomes, Chardonnay, Rabo de Ovelha e Bical), com atributos aromáticos e de boca que combinam com o Leitão à moda da Bairrada, e o Quinta d’Agueira tinto 2017 (Touriga Nacional), de colheitas excepcionais. Some-se o Arco d’Aguieira branco 2017 (Maria Gomes, Chardonnay, Rabo de Ovelha e Bical) – muito aromático, com uma acidez equilibrada e um final persistente, para combinar com ostras ou uma caldeirada – e o Arco d’Aguieira tinto 2016 (Touriga Nacional, Carbernet Sauvignon e Tinta Roriz) – profundamente frutado e complexidade conferida pelo repouso em barrica, características que conciliam com a complexidade da tradicional chanfana à Bairrada – com, pelo menos e respectivamente, dois e três anos de estágio em garrafa.
Este quarteto vínico resulta do desempenho da equipa de viticultura feito com base no estudo feito ao terroir, isto é, ao conjunto de factores que interferem na vinha – como a influência atlântica, associada à proximidade do mar, que contribui para o stress hídrico da planta, do qual resulta no equilíbrio entre acidez e complexidade no vinho, a somar às diferentes tipologias de solo, como os de aluvião, sendo o subsolo rico em barro, seixos e areia – teve lugar a restruturação da vinha, de 21 hectares. Este trabalho, iniciado em 1992, na vinha do Norte, com as castas Touriga Nacional – em grande destaque no portefólio desta propriedade –, Maria Gomes e Chardonnay – e continuado em 1999 – na Vinha do Cabeço e na da Encosta –, prosseguiu em 2004, desta feita sob a orientação de António Azevedo Guedes, na Vinha dos Aires, na do Comboio e na do Custódio.
A preponderância da viticultura é enaltecida pelo co-administrador da Aveleda. “A importância que esta tem é imensa pois, por ser uma região atlântica, exige que a viticultura tenha de implementar as melhores práticas e técnicas, para antecipar a vindima – fugindo às chuvas de finais de setembro – e controlar uma pressão dos parasitas da vinha, nomeadamente míldio, oídio e podridão cinzenta, que é elevada e exige um profissionalismo extraordinário, e que capacitam a equipa para dominar qualquer outro contexto vitícola no país. De certa forma a viticultura da Aguieira é uma escola de topo para aprendermos e aplicarmos as melhores práticas vitícolas. Um bom técnico vitícola na Aguieira será um grande técnico em qualquer outra região do país.”
Além das já referidas variedades de uva, estão plantadas, na Quinta d’Aguieira, a Cabernet Sauvignon, Tinta Roriz, Vinhão e Petit Verdot, nas tintas, além das portuguesas Arinto e Cerceal, nas bancas, lista complementada pelos ensaios com a Verdelho e a Alvarinho. E todas vão passar a estar, na adega, a partir da próxima vindima, sobre a supervisão de Fábio Giroto Maravilha, “a nossa última aquisição da temporada”, afirma António Azevedo Guedes.