J de José de Sousa, o vinho de talha especial da José Maria da Fonseca

A colheita de 2017 corresponde aos parâmetros estabelecidos pela família Soares Franco face a um ano extraordinário, cujo potencial se reflecte nesta boa nova da Adega José de Sousa, à qual se junta uma outra, ambas com um denominador comum: a casta Grand Noir.


António Maria Soares Franco, administrador da José Maria da Fonseca, Paulo Amaral, enólogo da Adega José de Sousa, e António Soares Franco, Presidente da José Maria da Fonseca


Reguengos de Monsaraz, no distrito de Évora, no coração do Alentejo, é o centro nevrálgico da Adega José de Sousa, onde está o edifício desta casa centenária no mundo vitivinícola. “É um sítio que, para mim, diz muito emocionalmente”, afirma António Soares Franco, Presidente da José Maria da Fonseca, emblemática empresa familiar vitivinícola de Azeitão, que, em 1986, adquiriu a histórica propriedade alentejana.

Carregado de simbolismo, o nome Adega José de Sousa era procurado por muitos dos apreciadores de vinho alentejano. “Os caçadores passavam aqui à frente, ao fim-de-semana, para comprar o vinho daqui”, conta o nosso anfitrião a título de exemplo. Efectuou-se a compra, “com uma condição: não mudar o nome da adega”, revela Domingos Soares Franco, Vice-Presidente e enólogo da José Maria da Fonseca, que, em 2020, contabilizou 40 vindimas.


Domingos Soares Franco, Vice-Presidente e enólogo senior da José Maria da Fonseca


O perfil tradicional da adega abriu caminho para a feitura de vinho de talha. “Em 1986 havia cerca de um dezena de talhas”, declara o enólogo da José Maria da Fonseca. Chamaram-se adegueiros e locais que conhecessem , para se perpetuar este método ancestral. “Aprendi com o velho adegueiro e fiz logo sucessivas experiências”, continua

Hoje, a Adega José de Sousa soma 114 talhas de barro, com capacidade para 1.200 quilos de uva, “mas só utilizamos mil quilos” para evitar incidentes durante o processo de vinificação, segundo Paulo Amaral, enólogo na Adega José de Sousa. Quanto à proveniência dos referidos recipientes feitos em barro, constam São Pedro de Corval, Vidigueira e Campo Maior.

Tradição e inovação


As talhas ocupam toda esta adega alentejana


As talhas estão dispostas na adega tradicional, abaixo do solo, espaço partilhado com dois lagares, onde é feita a pisa a pé, após o qual as uvas são desengaçadas na mesa de ripanço, à semelhança do que se fazia em tempos idos. O objectivo deste procedimento consiste em reduzir os taninos, por forma a obter um vinho mais suave e macio no palato. Na fase seguinte, o mosto, as películas e parte dos engaço vão para as talhas, onde ocorre espontaneamente a fermentação.

Durante este processo, João Marques, guardião das talhas da Adega José de Sousa há 26 anos, vai duas vezes à adega, para baixar a manta, com o auxílio do rodo em madeira. A finalidade consiste em aproveitar as características que o barro confere ao vinho, como a frescura e o sabor da terracota.


A colheita de 2017 de J e deJosé de Sousa Reserva constituem a nova dupla da Adega José de Sousa


É aqui que se fala sobre o J tinto 2017 (€59,99), vinho feito a partir das casta Grand Noir, Touriga Frances e Touriga Nacional, e que envelheceu em meias pipas de carvalho francês. O resultado traduz-se num vinho com aromas a passa de ameixa preta e chocolate negro, da Grand Noir, complementados pelo toque de flores silvestres e das outras duas castas, além dos taninos suaves e um final de boca longo.

É perfeito para acompanhar os pratos de caça, sendo este o momento certo para experimentar esta harmonização à mesa. A estreia do J tinto foi feita com a colheita de 2007, seguindo-se as de 2009, 2011 e 2014. “Depois será o de 2021”, avança Domingos Soares Franco. “Para mim está a ser um ano extraordinário! Tanto aqui, como em Azeitão.”


Há, ainda, espaço para referir José de Sousa Reserva tinto 2017, vinho elaborado com as castas Grand Noir, Aragonez e Syrah. A fase da fermentação repartiu-se pela talha de barro, os lagares e as cubas de inox – a Adega José de Sousa soma 44 destes depósitos, instalados no edifício adjacente à adega das talhas. O estágio ocorreu em barrica de carvalho. Este conjunto de procedimentos, a par com os atributos de cada variedade de uva, resultaram num vinho marcado pelas notas de frutos silvestres, comum às três castas, além da ameixa preta, figo e chocolate, atributos associados à Grand Noir; na boca revela-se mais macio, quando comparado com o anterior, revelando também um final de prova longo. As carnes assadas no forno e os pratos de caça são ideais para acompanhar este tinto.

“A Grand Noir, nesta casa, é histórica”, sublinha Domingos Soares Franco quando lhe perguntamos o destaque que lhe é atribuído na Adega Jose´de Sousa, explicando que se trata de uma variedade de uva resultante do cruzamento da Petit Bouschet e da Aramon Noir, no século XIX, por Henry Bouschet. Foi plantada na vinha em 2001 e sabe-se que tem provas dadas em garrafa, no Domingos Soares Franco Private Collection Grand Noir 2015.

Brindemos!

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© Fotografia: João Pedro Rato

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