O portefólio é constituído pelos seus single estate produzidos em Portugal e foi criado com o objectivo de elevar a fasquia deste negócio além fronteiras. Sem esquecer as boas novas: um rosé e um curtimenta feitos com uvas da Casa de Santar.
“A falta de notoriedade dos vinhos portugueses fora do país”, nomeadamente na Europa é, segundo Vítor Castanheira, administrador da Global Wines, cenário que merece ser analisado com particular seriedade. A colocação de colheitas jovens no mercado é, igualmente, debatida num jantar exclusivo, à mesa do Las Nubes, restaurante aberto há duas décadas, no El Corte Inglés, em Lisboa. “É preciso tempo nos vinhos”, sublinha em jeito de conclusão. Para colmatar esta lacuna, a Global Wines – outrora Dão Sul, fundada em 1990 e sediada em Carregal do Sal, cujo negócio do vinho se expandiu para o Douro, a Bairrada, Lisboa, Alentejo e Vinhos Verdes, bem como Brasil – decide criar a 19|90 Premium Wines, unidade de negócios centrada na gestão dos vinhos de alta qualidade e na área de enoturismo da empresa mãe.
Vinha do Contador, do Paço dos Cunhas, e Casa de Santar, ambas no Dão; Encontro, da Quinta do Encontro, na Bairrada; e Saturno, da Herdade do Monte da Cal, no Alentejo, são os nomes que fazem parte desta lista. O cunho de enologia é dado por Osvaldo Amado, que, desde 2011, faz parte da equipa da Global Wines e, este ano, conta já com 35 vindimas no seu percurso.
Mas vamos por partes, até porque a apresentação deste novo projecto da Global Wines estreia-se com sete referências do Dão e uma do Alentejo. O desfile começa com a estreia, no mercado, do Espumante Casa de Santar Vinha dos Amores Touriga Nacional Blanc de Noir Bruto 2015 (€19,90), um DOC Dão. “Todos os nossos espumantes brutos são vinhos secos”, começa por explicar Osvaldo Amado, e são feitos de acordo com a cartilha do método clássico. Junte-se a Touriga Nacional – “uma das castas mais transversais para vinhos em Portugal”, nas palavras do enólogo –, vindimada nos dez hectares da Vinha dos Amores, pertencente à histórica Casa de Santar, “uma verdadeira casa agrícola portuguesa”, com 103 hectares de vinha e mais de uma centena de variedades de uva, localizada no coração do Dão. E agora adicione-se 27 meses de estágio a este espumante, com bolha fina e uma acidez q.b.; é elegante e revela final longo e persistência, atributos essenciais para um brinde ou acompanhar ostras, ou pratos de peixe ou de carne branca pouco condimentados.
Passemos para uma das boas novas da Casa de Santar, o rosé da colheita de 2020 (€13,99), feito também a partir da casta tinta Touriga Nacional. “Um rosé de Inverno”, para Osvaldo Amado, bastante gastronómico, como se diz na gíria dos comensais e de quem não dispensa da comida, para acompanhar os vinhos, como carne ou peixe grelhados.
No alinhamento das novidades, conta-se Casa de Santar Curtimenta branco 2019 (€18,90), feito a partir da casta Encruzado. O contacto com o engaço, a película e a polpa da uva – conjunto a que se atribui o nome de massas – ocorre durante várias semanas. “É o primeiro vinho de curtimenta da Casa de Santa”, reforça Osvaldo Amado,”e implica muito cuidado”, seja na protecção da matéria-prima até à sua chegada à adega, seja durante o processo de vinificação, realizado à moda antiga. É um monovarietal fresco, complexo com final longo e persistência na boca, para harmonizar com pratos de peixe e marisco, carnes brancas e grelhados.
Acabado de chegar ao mercado, o Vinha do Contador Grande Júri Nobre branco 2015 (€90) é um blend feito a partir das castas Encruzado, Malvasia Fina e Cerceal, vindimadas nas vinhas do Paço dos Cunhas, propriedade datada de 1609, localizada na vila de Santar e intrinsecamente ligada à actividade agrícola. “É um dos grandes vinhos da minha vida”, revela o enólogo a respeito deste branco, que tinha recebido a distinção “Nobre”, exclusiva dos vinhos do Dão e atribuída aos que obtêm a mais alta qualificação por parte da Comissão Vitivinícola daquela região. A sua complexidade, estrutura, mas também frescura e acidez são atributos convidativos para acompanhar um prato de carne branca mais elaborado ou um bacalhau assado no forno.
Há, ainda, o Vinha do Contador Grande Júri tinto 2013 (€130), elaborado com as variedades de uva Touriga Nacional, Aragonez e Alfrocheiro, que conferem os aromas florais e a frutos silvestres a esta colheita, que denota uma grande capacidade de envelhecimento em garrafa ou para partilhar com a família e os amigos, na companhia de peixe e carnes vermelhas assadas no forno, e pratos de caça.
A designação “Grande Júri” inscrita no rótulo de ambas as referências do Paço dos Cunhas deve-se ao facto de, em 2021, a Global Wines ter reunido um painel de 17 provadores nacionais e internacionais, que provaram a avaliaram os dois vinhos – à semelhança do que já tinham feito com o Vinha do Contador Grande Júri tinto 2011 (€130) –, a seguir a uma prova cega.
De volta à Casa de Santar, é de destacar o 8 Parcelas da colheita de 2012 (preço sob consulta), outra estreia. Tal como o nome indica, é feito a partir de variedades de uva colhidas em oito parcelas das vinhas daquela propriedade do Dão – Touriga Nacional, vindimada em duas parcelas e a assumir 40 por cento da composição deste vinho; Alfrocheiro, proveniente de duas parcelas, sendo, por isso, a segunda casta com maior peso neste conjunto; Tinta Roriz; Jaen; Alicante Bouschet; e Tinto Cão. A evolução deste tinto é notória e os taninos suaves são equilibrados com a complexidade e a estrutura, que, somados ao final e boca e persistência, revelam um vinho tão apetecível, para “namorar” à mesa.
A mesma nota podemos escrever sobre o Segredo de Saturno tinto 2015 (preço sob consulta), feito a partir de uma selecção de castas aleatória, na vinha da Herdade do Monte da Cal, propriedade que a Gobal Wines detém em São Saturino, no concelho de Fronteira, Portalegre, Alto Alentejo. O segredo desta referência vínica assenta na não identificação das variedades de uva à entrada da adega, tendo a vindima resultado de um trabalho efectuado por cinco equipas, cada uma liderada por um enólogo. E tudo continua no segredo… de Saturno. Sobre este vinho, Osvaldo Amado enaltece a atenção à vinha de 80 hectares – plantada em solo predominantemente xistoso, pormenor que confere frescura e sensação de mineralidade ao vinho –, logo na “fase do pintor”, época do ano em que o enólogo se dedica à prova das uvas, para verificar o paladar de cada variedade.
A terminar o jantar, houve Casa de Santar Outono de Santar Colheita Tardia 2016 (€19,99), feito a partir das castas brancas Encruzado e Furmint, sendo esta uma casta, cuja produção confere uma enorme capacidade de envelhecimento aos vinhos. “É um colheita tardia botritizado”, assegura Osvaldo Amado, isto é, cujas uvas foram vindimadas com o fungo Botrytis cinerea, conhecida pelos franceses como a podridão nobre. “Todos os anos vindimamos mais tarde, mas só depois é que decidimos se fazemos ou não colheita tardia”, frisa o enólogo, com base no rigor do seu trabalho.
Se quiser conhecer os vinhos que ainda não estão no mercado, a 19|90 Wines convida a juntar-se ao clube.
Brindemos!