Brancos de Inverno… e não só!

Os vinhos feitos a partir de castas brancas reúnem cada vez mais consenso à mesa e, como os gostos [não] se discutem, vamos lá provar uns quantos, para debater sobre esta temática durante esta viagem. Com a calma devida, para que se faça uma apreciação comedida. Brindemos!

Começamos esta viagem com a casta Alvarinho, vindimada em dez hectares, dos 25 ocupados pela vinha da Quinta do Hospital, propriedade minhota localizada na freguesia de Ceivães, no concelho de Monção, sub-região de Monção e Melgaço, Região Demarcada dos Vinhos Verdes. Falamos de Barão do Hospital Alvarinho 2020 (€14,99), a boa nova da Falua, do Grupo Roullier, que conta, uma vez mais, com a enologia de Antonina Barbosa. No copo, a Alvarinho, casta rainha da região, revela os seus aromas frutados e de fruta branca associados à sensação de mineralidade, devido aos solos graníticos, onde estão plantadas as videiras, das quais foi colhida, à acidez e à complexidade determinada pelo trabalho na adega. À mesa, faz companha com pratos de carnes de aves, bem como os de peixe e marisco, e queijos. A história da Quinta do Hospital está ligada à Ordem Hospitalária de São João de Jerusalém ou Ordem do Hospital, a quem foram doadas estas terras pelas mãos de D. Teresa de Leão, mãe de D. Afonso Henriques, ainda no tempo do Condado Portucalense.

+ Falua

Ainda pela sub-região de Monção e Melgaço, na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, é de saborear Soalheiro Terramatter Alvarinho Bio 2019 (€16). Este branco, feito a partir da casta Alvarinho, vindimada precocemente na Quinta do Soalheiro, localizada em Alvaredo, freguesia do concelho de Melgaço, e submetido a um processo de vinificação em barricas de castanho – madeira tipicamente portuguesa – e em depósitos de betão com o formato de ovo. Sem filtração, nem adição de sulfitos. Tem tudo para evoluir em garrafa. Mas para quem aprecia esta variedade de uva branca e vinhos biológicos, fez a escolha acertada. As notas de prova conferem os aromas frutados típicos desta variedade de uva, equilibrados com notas vegetais. É fresco, denota acidez e uma sensação de mineralidade bastante agradáveis. António Cerdeira, o produtor e enólogo deste negócio familiar, recomenda que agite a garrafa, para homogeneizar as borras finas, que se depositam no fundo do recipiente, e beba com pratos de peixe ou de carne branca.

+ Soalheiro

Loureiro é a casta deste Aveleda Parcela do Convento branco 2019 (€19,90), um DOC Vinhos Verdes da Aveleda, grupo ligado à fundação da belíssima Quinta da Avelada, fundada em 1870, por Manoel Pedro Guedes Guedes e localizada em Penafiel, na Região Demarcada dos Vinhos Verdes. Os aromas frutados de maracujá e pêssego, e de flores brancas, característicos desta variedade de uva branca autóctone daquele território vitivinícola situado a nordeste do nosso país, conferem, a par com a composição granítica do solo, frescura este branco elegante na boca. É recomendado aos mais apressados, para harmonizar com mariscos e pratos de peixe. Se a vontade de guardar for determinante, guarde-o, já que este vinho, cujo trabalho de enologia está a cargo de Manuel Soares, tem potencial para repousar mais uns anos em garrafa.

+ Aveleda

Conhecido como um homem irrequieto, o enólogo Abel Codesso apresenta, por ocasião dos seus 50 anos, Irequieto Alvarinho 2017 (€50). A palavra, assim escrita, foi inscrita pelo seu filho, ainda pequeno, num desenho feito em sua homenagem. Porque a família representa um papel muito importante na sua vida, Abel Codesso dedica este vinho aos seus, mas também aos amigos, que o acompanharam ao longo deste percurso. Mas vamos ao vinho. Feito a partir da casta Alvarinho, da sub-região de Monção e Melgaço, na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, este Irequieto é elaborado em parceria com a PROVAM, sociedade constituída por dez viticultores da referida sub-região, este branco denuncia notas cítricas e sensação de mineralidade. Elegante e fresco, com a madeira bem integrada, tem potencial de guarda, apesar de já poder ser aberto, para combinar com peixe e carne.

+ PROVAM

Feito a partir de uvas vindimadas em vinhas velhas – localizadas na propriedade Quinta do Pôpa, situada na encosta de Adorigo, localidade do concelho de Tabuaço, no Douro, dos irmãos Stéphane e Vanessa Ferreira –, este Pôpa Amphora branco 2018 (€29,50) resulta de um processo de vinificação efectuado em talha. À semelhança dos métodos antigos, que, hoje, já começam a dar cartas no mundo dos vinhos portugueses, a maceração pré-fermentativa e a fermentação foi feito em contacto com as películas, seguindo-se o estágio em borras. Notas de fruta de caroço e de barro, sensação de mineralidade e frescura são as características de maior destaque nesta edição limitada a 1.977 garrafas, que pode ser consumido agora, apesar do potencial em garrafa que denota. Esta viagem ao passado cruzada com a sabedoria do presente também pode ser vendido juntamente com Pôpa Curtimenta branco 2019 e Pôpa Amphora tinto 2018, numa caixa em madeira (€88,50). 

+ Quinta do Pôpa

Criada em 2019, a Raríssimo by Osvaldo Amado, que faz parte da Total Wines – Vinhos de Portugal, marca apresentada, em 2019, pelo reconhecido enólogo, começou com cinco referências, umas das quais é Raríssimo branco 2015 (€45), um vinho com Denominação de Origem Bairrada, feito a partir da casta Arinto. Os aromas típicos da casta estão associados a frescura, volume e final de boca, e persistência, atributos manifestamente agradáveis, para quem tanto aprecia esta casta branca. Apesar de comprovar longevidade, é irresistivelmente apetecível, mesmo este Inverno, ou não fosse Osvaldo Amado um dos nomes maiores da enologia, no país.

+ Osvaldo Amado

A elasticidade da Fernão Pires é tema de debate cada vez que se abre uma garrafa desta casta branca. Os aromas cítricos e florais convertem-se, em muitos casos, à exuberância que lhe está congregado. Depois, há Fernão Pires, cuja frescura se associa à acidez conferida pela influência atlântica atribuída à Região dos Vinhos de Lisboa. Falamos deste Cepa Pura Fernão Pires 2019 (preço sob consulta), um vinho biológico da Quinta do Montalto, propriedade localizada em Ourém, na região de Encostas d’Aire, o companheiro ideal para os arrozes caldosos de queijos, pratos de peixe e ou de marisco, e de carnes brancas. Ou guardar este vinho feito pela dupla Luís Mendes e Carlos Santos, para beber mais tarde.

+ Quinta do Montalto

Quinta Várzea da Pedra Fernão Pires 2017 (preço sob consulta) – edição limitada a 3.449 garrafas numeradas – tem a casta branca Fernão Pires, que, uma vez mais, expressa suavemente as notas tropicais, sem tocar exagerar na dose da exuberância dos seus atributos frutados. Esta característica é somada à frescura, à acidez e à sensação de mineralidade, muito comuns em grandes referências vínicas produzidas com as uvas da região dos Vinhos de Lisboa, graças à influência atlântica muito marcante neste território. A Quinta Várzea da Pedra, projecto recente no mapa vitivinícola do país, situa-se no Bombarral e tem à frente dois jovens irmãos Tomás e Alberto Emídio, que, em 2010, deram o primeiro passo com a plantação da Vinha da Gafa, de onde são provenientes as uvas deste branco. Que tal levá-lo à mesa juntamente com um arroz caldoso de peixe e marisco?

+ Quinta Várzea da Pedra

Plátanos Viosinho 2015 (preço sob consulta) é uma relíquia em estado líquido produzida com uvas da centenária Quinta dos Plátanos, em Alenquer, na Região dos Vinhos de Lisboa, propriedade essa, outrora pertencente ao Visconde de Merceana, uma das figuras maiores no combate à filoxera, na segunda metade do século XIX. Vindimada em solos argilo-calcários, esta casta apresenta os seus atributos florais suaves e ligeiras notas cítricas; na boca, denota acidez e frescura, que apetece saborear com a calma devida. Experimente com pratos de bacalhau ou com pratos de carne mais elaborados, como arroz de pato ou um peru assado no forno, ou pratos de bacalhau, mas guarde as demais garrafas deste Viosinho, para “namorar” daqui a algum tempo.

+ Quinta dos Plátanos

A predominância das notas cítricas, a par com a frescura e o final longo na boca, elevam este Cabo da Roca Reserva branco 2017 (€8,99) a um patamar muito sério. Feito a partir de Arinto, variedade de uva branca vindimada em Bucelas e com a Denominação de Origem homónima daquele região demarcada integrada na área geográfica dos Vinhos de Lisboa, este vinho elaborado por Hélder Cunha, fundador da Casca Wines, com a Porta da Adega situada em Cascais, prima pela elegância e a vivacidade de uma casta tão portuguesa. É ideal para servir com uma caldeirada, entre outros pratos de peixe elaborados, enchidos e queijos de paste mole.

+ Casca Wines

Proveniente de uma vinha do enólogo Paulo Hortas, plantada em 2008, a 630 metros de altitude, no Nordeste do país, este Riesling viajou até Azeitão, para dele ser feito um vinho, que faz parte da colecção privada de Domingos Soares Franco, enólogo da José Maria da Fonseca, localizada em Azeitão, no concelho de Setúbal e integrada na área geográfica da Região Demarcada da Península de Setúbal. Trata-se de DSF Colecção Privada Riesling 2019 (€9,90), um branco predominantemente cítrico, com nuances apetrolados, frescura e acidez, e que denota a sensação de mineralidade. Longevidade não lhe falta, mas já apetece saborear com pratos de peixe e marisco, e queijos, como o de Azeitão, por exemplo. Em casa ou no Wine Corner by José Maria da Fonseca, junto ao museu desta centenária empresa familiar.

+ José Maria da Fonseca

Antão Vaz, Arinto e Roupeiro são as uvas brancas que integram a composição deste Esporão Reserva branco 2020 (€17) e são vindimadas nas vinhas da Herdade do Esporão, localizada em Reguengos de Monsaraz, no distrito de Évora, Alentejo. Produzido de acordo com o modo de produção biológico, sob a batuta da dupla de enologia David Baverstock – que já deixou o Esporão – e Sandra Alves, este clássico revela o equilíbrio harmonioso entre as notas cítricas e de fruta exótica e as especiarias é notório no nariz e na boca. É elegante, fresco e denota um final intenso. A persistência acompanha muito bem pratos de marisco à mesa, bem como peixes, e queijos, para terminar a refeição. À semelhança das edições anteriores do Esporão Reserva, foi convidado um artista para ilustrar o rótulo. A colheita de 2020 conta com a personalização e criatividade do lisboeta Jorge Queiroz e também pode ser saboreada à mesa do Restaurante Herdade do Esporão, que conquistou uma Estrela Verde Michelin (distinção associada ao compromisso com a gastronomia sustentável), na edição do Guia Michelin Espanha & Portugal de 2022.

+ Esporão

Terminamos no Alentejo, mas com a casta Arinto, que, no nariz revela notas frutadas de limão e nuances de aromas florais. Na boca, a acidez e a frescura desta variedade de uva são evidentes neste Vinho Regional Alentejano. O nome? Família Margaça Arinto 2020 (€10,59), um branco elaborado pelo enólogo Renato Neves, para a Sociedade Agrícola de Pias, fundada em 1973, por José Veiga Margaça, que trocou Torres Vedras, pelas terras localizadas entre Serpa e Moura, e pôr Pias no mapa vitivinícola. Hoje, esta herança permanece na segunda e terceira gerações, que nesta Família Margaça inclui outras sete referências a descobrir.

+ Margaça


© Fotografia: João Pedro Rato

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