A enóloga Sandra Tavares da Silva conduziu a prova vertical com colheitas de 2008 a 2019 feitas a partir desta variedade de uva branca vindimada nesta propriedade da família. Uma viagem no tempo, reveladora de virtudes, manifestadas com os passar dos anos, e do seu potencial de guarda em garrafa.
Comecemos pela história sobre a Quinta de Chopalha. A propriedade vinhateira de 70 hectares localizada na Aldeia Galega da Merceana, em Alenquer, remete para um passado longínquo. Há quem diga que os seus vinhos são referência já no século XVI e que a casa, datada de finais do século XVIII, terá pertencido a um escocês, de seu nome Diogo Duff.
Com a passagem do tempo, entra em cena a família Tavares da Silva. A chegada à Quinta da Chocapalha “foi feita do lado da Aldeia Galega da Merceana”, em 1986. A paisagem oscilante, com a Serra de Montejunto, a Norte, a servir de pano de fundo, encantou todos logo à primeira. “Via-se que tinha alma!” Um ano mais tarde, a propriedade estava nas mãos de Paulo e Alice Tavares da Silva. As palavras são de Sandra Tavares da Silva, filha dos proprietários e enóloga da casa.
“A ideia era reabilitar a quinta”, continua Andrea Tavares da Silva, responsável pela gestão deste negócio familiar. E assim foi. Reestruturou-se a vinha, muito por conta da dedicação de Paulo Tavares da Silva, que, depois de muitas décadas ligadas ao mar, enquanto oficial da Marinha, dia após dia, somou conhecimento e saber no que ao trabalho no campo diz respeito. A terra ganhou vida e reergueram-se as ruínas do casario.
A vinificação começa em 2000, com Sandra Tavares da Silva, que já tinha a formação em enologia. Aqui, o tempo é, uma vez mais, factor tido em consideração. Segundo a enóloga, houve um período de experimentação, em que “fomos conhecendo o potencial de cada casta” na adega antiga, já existente e contígua ao casario. Onze anos mais tarde, “arrancamos com o projecto da [nova] adega”. A sua construção é realizada de acordo com os parâmetros estabelecidos pela família Tavares da Silva, os quais assentam, sobretudo, na eficiência energética e na funcionalidade, mas também era importante que ficasse integrada na paisagem. Em 2013, o novo edifício da Quinta de Chocapalha é concluído e estreado logo na vindima desse ano.
Prova vertical 2008-2019
“A Arinto sempre foi das castas que investimos aqui na quinta”, declara a enóloga da família, “e que fomos descobrindo ao longo de mais de 20 anos de vinficação”. Esta variedade de uva branca, autóctone da Região Demarcada de Bucelas, está plantada em nove dos 50 hectares de vinha, na Quinta de Chocapalha, nome atribuído ao rótulo da referência vínica, que protagonizou a prova vertical realizada desde a colheita de 2019 a 2008.
Ao longo de onze anos, é notável a evolução da Arinto, vindimada quando ainda está com uma acidez alta. Porém, “é uma das últimas castas a vindimar”, tarefa efectuada à mão. O desvelo do trabalho de enologia na adega é primordial, desde a recepção da uva até à passagem para as cubas de inox.
A untuosidade, a complexidade e o volume de boca aumentam, na generalidade das colheitas, de ano para ano, enquanto a acidez característica desta variedade de uva está sempre presente – com maior vivacidade nas colheitas jovens e traduzida em sensação de salinidade nas mais antigas. Em conjunto com a frescura, conferida pelos solos argilocalcários e pela influência atlântica, estão reunidos os atributos que favorecem, de um modo geral, as colheitas designadas de Quinta de Chocapalha. Sem esquecer o final de boca e a persistência, muito comum nos vinhos feitos a partir desta casta, que resulta em vinhos elegantes.
A viagem com Quinta de Chocapalha Arinto terminou com a colheita de 2008, reflexo do potencial de envelhecimento da casta e prova de que a sensação de salinidade se torna ainda mais evidente, e logo outra começou.
CH, o tributo a Alice Tavares da Silva
Desta vez, com CH by Chocapalha, referência criada em homenagem a Alice Tavares da Silva, natural da Suíça, co-proprietária responsável pelo enoturismo da Quinta de Chocapalha. À prova estiveram as colheitas de 2015 a 2019 de CH – letras que simbolizam Chocapalha e a Confederação Helvética – feitos a partir da casta Arinto, vindimado na parcela de 30 anos. “Ao longo dos anos, fomos fazendo ensaios em barrica, até descobrirmos a barrica correcta”, explica a enóloga. É um vinho branco, onde as tosta da barrica conferem maior elegância ao vinho, sem descurar notas cítricas e a acidez, muito evidente em cada colheita, bem como a sensação de salinidade.
Segundo Sandra Tavares da Silva, que conta, na adega, com o apoio de Miguel Cavaco, enólogo residente, “a Arinto é uma casta que precisa de tempo e muita paciência”. No entanto, “é uma das castas com a qual temos tido mais sucesso”. Na sua opinião, a Arinto deveria marcar presença assídua nas cartas de vinhos, “porque é tão nossa!”, continua, sublinhando a importância dos restaurantes de Lisboa darem mais atenção ao território vitivinícola homónimo.
“Com os projectos novos, a revitalização dos vinhos e a abertura de mentalidades, em conjunto, contribuíram para o aumento da qualidade do vinho dos Vinhos de Lisboa”, afirma a enóloga no contexto da evolução desta região constituída por nove denominações de origem (D.O.), sendo uma delas a D.O. Alenquer, da qual faz parte a Quinta de Chocapalha.
Brindemos!
No Comments