Torres Vedras recebeu competição global exclusiva de Sauvignon Blanc

Depois do adiamento da edição de 2021 do concurso dedicado à casta branca mais internacional, a cidade localizada no coração da Região dos Vinhos de Lisboa foi finalmente palco deste desafio. Eis o ponto de partida para conhecer melhor o concelho.

O Concurso Mundial de Sauvignon está integrado no Concurso Mundial de Bruxelas


Na sequência do trabalho realizado no âmbito da “Cidade Europeia do Vinho”, decorrido em 2018, Torres Vedras foi, nos dias 18 e 19 de Março, o epicentro da 12.ª edição do Concurso Mundial do Sauvigon. Esta competição pôs em cima das mesas, dispostas no hotel Dolce CampoReal, 1120 referências vínicas provenientes de 23 países. A análise minuciosa foi efetuada por 73 provadores – jornalistas, opinion makers, produtores, enólogos, escanções, distribuidores, entre outros – de 27 nacionalidades.

Segundo Baudouin Havaux, Presidente do Concurso Mundial de Bruxelas, este certame “é mais do que uma competição, é um fórum”, já que reúne muitos países produtores de vinhos feitos a partir da Sauvignon Blanc. Entre os demais, destaque-se a Nova Zelândia, África do Sul, Chile ou Áustria. Apesar da “diminuição da produção de Sauvignon Blanc”, em 2021, no Norte de Itália e em França, ambos os países estiveram igualmente representados.

De França aos Estados Unidos da América, passando por Áustria, muitos são os vinhos feitos a partir da casta Sauvignon Blanc


Que particularidades apresenta a Sauvignon Blanc? Segundo o Presidente do Concurso Mundial de Bruxelas, é notável “a especificidade de cada terroir. Ou seja, qualquer um dos vinhos submetidos a concurso revelaram características muito próprias da região em que é vindimada, daí que divirja de país para país. 

Qual é o objectivo deste Concurso Mundial do Sauvignon? “Dar a garantia de qualidade ao consumidor”, esclarece. Para o efeito, os elementos do júri tiveram em conta cada critério em análise, relativamente aos vinhos provados e os copos, que requerem um cuidado exímio, permitiram, segundo Baudouin Havaux, “um serviço de excelência e para uma prova perfeita”.

Do que precisa esta casta? “Precisa de frescura, de água, mas não de muito sol. Também necessita de solo mineral”, afirma. A “influência marítima” em Torres Vedras e na generalidade da Região dos Vinhos de Lisboa é enaltecida por Baudouin Havaux, em relação à Sauvignon Blanc. No mesmo alinhamento, o Presidente do Concurso Mundial de Bruxelas sublinha quão fundamental é a oportunidade de visitar as adegas deste território – ou não fosse este um concelho indissociável à cultura da vinha e do vinho –, bem como conhecer o seu património natural, arquitectónico e gastronómico.


Das serranias à vinha e de copo na mão

Das serras do Socorro e da Archeira avista-se, por exemplo, Sobral de Monte Agraço e as vinhas a entrecortar a paisagem


A Paisagem Protegida Local das Serras do Socorro e da Archeira são um óptimo ponto de partida para uma viagem, à descoberta de Torres Vedras. Este cenário inóspito foi palco das Invasões Francesas, registadas no início do século XIX. Os fortes da Feiteira, de Catefica e da Archeira integram estas proeminências terrestres, e fazem parte da célebres Linhas de Torres.

Do cimo das serras, e se o tempo estiver de feição, avista-se o mar. Mais além, Peniche, de um lado, e os contornos da sombra do Palácio Nacional da Pena, no cimo da Serra de Sintra, do outro. Sobral de Monte Agraço, com o seu Forte do Alqueidão, outro exemplar militar do referido episódio histórico decorrido no país.

Vestígios do Castro do Zambujal


Natureza adentro, os contrafortes da Serra do Varatojo, sobranceiros ao Vale do Rio Sizandro, ostentam, ainda hoje, ruínas do mui ancestral Castro do Zambujal. Classificado de Monumento Nacional em 1946, tem Leonel Trindade, como figura de referência na sua descoberta, datada de 1932. Homem marcante no que concerne à arqueologia pré-histórica em Portugal, está presente nas campanhas realizadas entre 1959 e 1961 neste povoado fortificado do início do Neolítico.

Na sua génese, estarão povos provenientes do Mar Egeu, que teriam rumado às costas da Península Ibérica, à procura de metais, mais concretamente do bronze, cujas fundições foram aqui descobertas. A sua comercialização seria feita por via marítima, acesso esse efetuado através do Rio Sizandro.

Os objectos encontrados no Castro do Zambujal estão patente no Museu Municipal Leonel Trindade, em Torres Vedras


A explicação de todo este complexo urbanístico, de cerca de 2850 A.C, assim como os trabalhos executados, ao longo de cinco décadas, pelo Instituto Arqueológico Alemão, estão patente no Museu Municipal Leonel Trindade, situado no centro da cidade de Torres Vedras.

Do Sal da Adega, restaurante da AdegaMãe, avistam-se as serras do Socorro e da Archeira


De novo com as serras do Socorro e da Archeira, desta vez, à vista, ambas conquistam o olhar de quem está na AdegaMãe, cujo percurso vitivinícola começa em 2009, na Quinta da Archeira, na Ventosa, freguesia do concelho de Torres Vedras. O nome é atribuído em homenagem a Manuela Alves, mãe de Ricardo e Bernardo Alves, CEO da empresa, que, com a dupla de enólogos Anselmo Mendes, na consultoria, e Diogo Lopes, nunca mais pararam!

Apostados essencialmente nas castas brancas, com destaque para a Viosinho, à qual se juntam a Arinto, Alvarinho, Chardonnay, Reisling, Sauvignon Blanc e Viognier, e a tinta Pinot Noir. As demais variedades de uva tintas são compradas a viticultores-parceiros locais, no sentido de abrir o leque de oferta e mostrar o potencial dos vinhos Atlânticos, que Bernardo Alves sublinha em cada prova. Sem esquecer a casta Vital, proveniente de vinhas velhas, a qual é autóctone desta região vitivinícola.

O bacalhau é o ingrediente principal deste produtor da Região dos Vinhos de Lisboa


Todos os vinhos deste produtor podem ser provados no Sal na Adega, restaurante instalado no topo do edifício desta casa, onde o bacalhau é rei, a somar a outras sugestões, de partilha e no prato, ou não fosse Bernardo Alves filho dos proprietários de uma conhecida marca ligada ao comércio do “fiel amigo”.

Entre Maio e Junho deste ano será possível arrendar a casa da Quinta da Boa Esperança para umas férias entre vinhas


De copo na mão. É assim que se ouve falar sobre o percurso dos vinhos da Quinta da Boa Esperança. Localizada em Zibreira, no concelho de Torres Vedras, esta adega conta com uma estreia no seu portefólio, o monovarietal Castelão da colheita de 2017.

Vinificado a solo e submetido a barrica usada (de segundo ano) por dois anos, “por questões de logística”, este tinto feito a partir da referida casta portuguesa – denominada, nesta região, de João de Santarém –, “até que há uma em que decidimos fazer um monocasta”, conta-nos Paula Fernandes, a enóloga desta propriedade adquirida em 2014, por Artur Gama e Eva Moura Guedes.

António Gama, irmão de Artur Gama, o proprietário, Paula Fernandes, a enóloga, e Madalena, fazem parte da equipa desta propriedade vitivinícola


Quanto à vinha, permanece nos onze hectares, dos quais um, situado na cota mais alta, ocupado pela casta Touriga Nacional, está certificada como biológica, desde 2016. A mais velha é a da variedade de uva portuguesa Fernão Pires, com 20 anos. Este ano de 2022, mais um hectare e meio de vinha de Touriga Nacional e de Castelão serão reconvertidos em biológico.

Brindemos!


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© Fotografia: João Pedro Rato

Legenda da imagem de entrada: Baudouin Havaux, Presidente do Concurso Mundial de Bruxelas, esteve em Torres Vedras, durante o Concurso Mundial de Sauvignon

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