Não é só de Tokaj que vive a Hungria

A Embaixada da Hungria, em Lisboa, abriu as suas portas para uma prova vínica. A viagem incluiu 29 referências de 15 produtores diferentes deste país da Europa Central constituído por seis regiões vitivinícolas.

O palco desta prova foi a Embaixada da Hungria, em Lisboa


Os 65 mil hectares de vinha da Hungria preenchem 22 distritos, designação atribuída à Denominação de Origem, os quais cabem em seis regiões diferentes: Balaton, no Oeste, Pannon, no Sudoeste, Dunabe, no Sudeste, Upper Pannon, no Noroeste, Upper Hungary, no Norte, e Tokaj, no Nordeste. Sob a influência do clima continental, “a Hungria situa-se na Bacia dos Cárpatos. A Oeste do país encontram-se os Alpes e, a Sul, os Balcãs” e “a maioria das regiões vinícolas encontra-se na sequência de serras que cruza o país de Sudoeste a Nordeste”, esclarece Gergely Sámson. O jornalista e especialista de vinhos húngaro protagonizou a prova comentada de oito referências vínicas de quatro regiões, com o apoio da Associação Portuguesa de Enoturismo (APENO). A cada uma coube a introdução relacionada sobretudo com o terroir, por forma a mostrar as suas diferenças dentro do território vitivinícola do país.

Na casa de partida deste roteiro vínico protagonizado por oito referências, esteve o espumante Kreinbacher Prestige Brut, feito a partir das castas brancas Furmint – variedade autóctone e a mais popular da Hungria – e Chardonnay, as quais foram submetidas entre 24 a 30 meses de estágio. Esta adega está localizada no Norte de Somló, na encosta de um vulcão extinto, e é a mais pequena sub-região vitivinícola do país. Pertence à região de Balaton, nome emprestado pelo maior lago do país, cuja influência diz ser-se favorável aos vinhos, uma vez que propicia a noites mais frias, cenário ideal nos dias mais quentes do ano. 

Com os pés ainda assentes na região das terras altas de Balaton, seguiu-se Kabócás Olaszrlzing 2018, feito a partir da castas branca Welschriesling. É de Endre Száski, produtor de quem a família foi a primeira a obter a certificação biológica das vinhas na Hungria, mais concretamente na sub-região Szent György-hegy, que, em Português, significa Colina de São Jorge. A secura e a sensação de mineralidade deste vinho estão relacionados com os solos compostos, sobretudo, pelo basalto, rocha vulcânica muito comum neste território.

O mapa vitivinícola do país tem localizadas os 22 distritos respeitantes a cada uma das seis regiões dedicadas à cultura da vinha e do vinho


Viajemos agora para a região de Pannon, onde a presença dos Romanos, em tempos idos, deixou a prática da viticultura como um dos legados mais antigos deixados na Hungria. Da sub-região Szerkszárd – onde as casas típicas foram, em tempos, habitadas por alemães, que deixaram as suas influências na gastronomia regional – esteve presente Vida Bonsai Kadarka 2020.

Vida é o apelido da família dos produtores e a designação de bonzai é utilizada em alusão à forma das videiras não aramadas e plantadas em pé franco, já com uma centena de anos. A casta tem nos Balcãs a sua origem, além de que é uma das mais importantes variedade de uva tintas na Hungria. A pouca extracção e o envelhecimento repartido entre as cubas de inox e em barris de 1.200 litros, resultou num vinho leve e perfeito para o Verão.

Em contrapartida, Gábor Kiss Missing One 2017, produzido em Villány, sub-região da região de Pannon, com localização próxima da fronteira com a Croácia, traduz-se num tinto mais carregado na cor e encorpado, complexo e intenso, conferindo-lhe potencial de guarda.

No final, os presentes tiveram a oportunidade de saber mais sobre cada região a partir da degustação livre dos restantes 21 vinhos produzidos na Hungria


Subamos até à região de Upper Hungary, a Nordeste, onde se localiza a sub-região de Eger. Esta é famosa pelo seu Egri Bikavér, vinho tinto denominado de “sangue de boi”. Trata-se de uma lenda, que conta a acção heróica protagonizada pelos húngaros, a quem o dono do castelo de Eger deu de beber vinho, como se de uma poção mágica se tratasse, pois conseguiram resistir e ganhar contra os turcos, aquando da invasão do Império Otomano. Ao verem um líquido vermelho a escorrer sobre as barbas dos soldados locais, os inimigos espalharam a ilusão de que estes tivessem bebido sangue de boi.

Egri Bikavér Superior 2019, do produtor Tibor Gál, prova a ininterrupta ligação deste episódio ao mundo do vinho. É um tinto feito a partir de um lote constituído pelas castas nacionais Blaufränkisch e Kadarka, e pelas variedades de uva internacionais Syrah, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Pinot Noir. O formato da garrafa também está relacionado com a história da região, onde foi descoberta uma com a mesma forma. Desde então, é usual ver-se os vinhos desta sub-região serem engarrafados em recipientes com esta configuração.

Rumemos a Nordeste, na direcção da região de Tokaj, região vitivinícola classificada de Paisagem Cultural Histórica pela UNESCO, situado a poucos quilómetros da fronteira com a Eslováquia. Este conhecido território é circundado pelas montanhas de Sáton e Kopasz, e atravessado pelos rios Tisza e Bodrog. A primeira paragem tem à prova Gizella Furmint/Härselevelü 2020, feito a partir de Furmint e a Härselevelü, castas principais desta região, cujas vinhas estão plantadas em rochas de um terreno inclinado. É um branco feito com engaço e vinificado em cubas de inox. No nariz sobrepõem-se os aromas frutados, enquanto, na boca, é notória a secura, característica transversal a muitos dos vinhos produzidos na Hungria.

Balassa Szent Tamás Furmint 2019 denota os aromas cítricos da casta branca neste vinho, feito por um dos maiores produtores de Tokaj. Na sua vinha é notória a influência dos dois rios, a qual propicia Inverno frios e Verões com temperatura moderada, enquanto os solos vulcânicos são ricos em rochas diferentes.

Este é um dos exemplos dos colheita tardia produzidos na região de Tokaj, a mais célebre da Hungria


A prova dos oito vinhos, que teve lugar na Embaixada da Hungria, terminou, como não poderia deixar de ser, com um Tokaj, tal como é conhecido. Da propriedade de Disznókö, este Aszú 5 puttonyos 2013 – uma das célebres colheitas tardias da região – foi feito a partir das castas Furmint, Hárslevelü e Zéta, vindimadas quando atingiram a chamada podridão nobre. Esta é causada pelo fungos Botritis Cinérea, que dá origem à Aszú, que, em húngaro, significa uva passa. Neste caso, as Aszú preencheram 5 puttonyos (cestas), o que equivale a um intervalo entre 120 e 150 gramas de açúcar por litro.

As uvas, que fazem parte do lote desta colheita tardia, foram submetidas a 20 meses de estágio (o mínimo são, neste caso, 18 meses), resultando nesta bebida tão apreciada pelo mundo inteiro, graças à sua acidez, sensação de doçura equilibrada.

Brindemos!

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© Fotografia: João Pedro Rato

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