70 anos de existência, 20 de evolução e o regresso de Casa Velha / Adega de Favaios

Fundada em 1952, esta casa tem vindo a apostar em castas brancas mais desafiantes, devido às mudanças climáticas registadas nos últimos tempos, e na produção de vinhos firmados numa qualidade maior, como reflecte o quarteto vínico da sexagenária referência.


Situada a mais de 500 metros de altitude, no planalto sopé da Serra do Vilarelho, no concelho de Alijó, integrado no região do Alto Douro Vinhateiro, a aldeia de Favaios vive da cultura da vinha e do vinho, cenário ainda mais vincado em meados do século XX, quando, face à portaria governamental de 1935, ficou arredada da produção de Vinho do Porto até 1951. No ano seguinte é constituída a Adega de Favaios. A sua criação é semelhante às demais erguidas ao longo das décadas de 1940 a 1970: dar resposta às necessidades dos viticultores. 

Meio século depois, esta instituição recebe um novo fôlego, com a entrada, em 2001, da equipa de enologia. Miguel Ferreira, Director deste departamento, na Adega de Favaios, refere a vontade de abrir novos caminhos no que à implementação de outras castas diz respeito, em detrimentos das variedades de uva demasiado produtivas e sem grande prestígio em termos enológicos. 

Os primeiros passos foram dados através da disponibilização de três técnicos que acompanham os viticultores no trabalho de campo. Esta tarefa ajudou ma mudança gradual que, ao longo destas duas décadas, se tem vindo a registar sob o exigente procedimento da equipa de enologia a bem da viticultura e da produção vínica, em Favaios. O objectivo desta acção consiste em incentivar “melhores práticas por parte do viticultor”, para que a matéria-prima chegue sã à adega. “Somos nós que determinamos a altura da vindima”, declara Celso Pereira, Enólogo Consultor da Adega de Favaios, tarefa que é feita manualmente.

Os viticultores “só são bem pagos se tiverem boas uvas”, ou seja, “passaram a perceber que não interessava apenas entregar uva à adega”, afirma Miguel Ferreira, um dos 481 associados da Adega de Favaios. “Foi um processo muito longo de aprendizagem”, acrescenta Celso Pereira.

Apesar da Moscatel representar mais de 60 por cento do encepamento em Favaios e fazer parte da maioria dos vinhos brancos desta aldeia vinhateira, as castas Gouveio, Viosinho, Arinto e Rabigato já ganham expressão. “Começámos a incentivar mais estas castas”, que passaram a ser valorizadas pela equipa de enologia. “A casta Gouveio, que tem o seu terroir no planalto de Alijó”, entre 600 a 700 metros de altitude, e “neste momento tem uma produção quantitativa e qualitativa”, exemplifica o Enólogo Consultor.


O trabalho de campo e a selecção das castas


Mas há mais trabalho de bastidores. Miguel Ferreira fala sobre a “afinação da casta”, ou seja, da procura incessante e precisa desta, uma vez que a mesma variedade de uva tem outras variáveis erradamente identificadas. Paralelamente, está a ser conduzido um estudo, em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro “sobre a consequência da nossa pegada ecológica”, em prol da sustentabilidade ambiental, segundo Rui Paredes, Director da Adega de Favaios. “A nossa temática, desde a génese, está na sustentabilidade”, tendo em conta a importante valorização socioeconómica implementada nesta empresa, onde os quadros “são de altíssima qualidade”, assegura.

“A Adega Favaios está posicionada para ir buscar as melhores castas e adaptá-las (…) “enquanto adega, não estamos cristalizados em modelos, estamos também a trabalhar nesse sentido, não só nas melhores práticas, mas também nas melhores castas que sejam mais adaptáveis às alterações climáticas”, continua Rui Paredes.

O incremento do grau de álcool nas uvas na recepção da adega é, consequentemente, um dos aspectos mais preocupantes. “Sentimos claramente que há uma evolução evidente todos os anos”, afirma Miguel Ferreira. Por isso, urge privilegiar em vinhas ou plantar vinha a 650 metros de altitude, para encontrar o local ideal à vindima de uva com menor grau de álcool, isto é, “uvas no ponto certo de acidez ou colhê-las mais cedo do que é normal”, avança o Director de Enologia da Adega de Favaios. 

Além disso, a segunda fase este processo evolutivo consiste em “escolher os melhores viticultores e as melhores parcelas”, uma vez que “as vinhas plantadas há 20, 22, 23 anos, começam, agora, a ter o equilíbrio e a qualidade, que entendemos ser a necessária para o ‘Reserva’ e o ‘Grande Reserva’”, adianta Miguel Ferreira.


Vamos a vinhos

“Casa Velha é uma marca muito antiga, lançada na década de 1960, com tintos, e retomada este milénio”, explica Celso Pereira. Aqui entram quatro boas novas. Casa Velha branco 2021 (€4,5) é, por sua vez, feito a partir de uvas colhidas entre 600 e 700 metros de altitude, em vinhas de Favaios. A ambas, juntou-se 20 por cento de Moscatel, a casta emblemática desta freguesia do concelho de Alijó, que confere uma maior exuberância aromática a este vinho, que, na boca revela-se fresco e com boa acidez.

Casa Velha Gouveio 2021 (€5,75), casta branca, que tem revelado o seu potencial no planalto de Favaios, desta feita, pelas notas florais e aromas frutados suaves, bem como pela frescura e acidez em boca.

Feito a partir das castas Gouveio, Viosinho e Rabigato, Casa Velha Reserva branco 2020 (€8) resulta de estudo e da selecção de clones e parcelas plantadas há duas décadas, bem como de um acompanhamento mais próximo dos viticultores associados. Cremosidade, frescura e final longo, na boca, revela potencial de guarda.

Gouveio, Viosinho e Arinto, vindimadas nas melhores parcelas e que denotam consistência, ano após ano, são as castas que integram a produção do Casa Velha Grande Reserva branco 2019 (€15). Este trio de variedades de uva são provenientes de vinhas situadas entre os 500 e os 600 metros de altitude e, neste vinho, conferem alguma complexidade aromática, a somar a uma boa acidez e frescura, na boca.

A aposta crescente neste estudo minucioso baseado em castas, parcelas e altitude é fundamental para Favaios, aldeia com aproximadamente mil habitantes. “Metade são viticultores associados e alguns são funcionários da empresa”, anuncia Miguel Ferreira, ou seja, “vive da vinha e da saúde monetária desta empresa”. Esta realidade traduz a vontade incessante de fazer mais e melhor. “A cooperativa tem de dar o exemplo e nós demos”, assume. Celso Pereira enfatiza o trabalho que tem vindo a ser feito pela Adega de Favaios, em que a palavra “cooperativa” merece ser desmistificada, ou não realizassem, em conjunto, um trabalho em prol da produção de vinhos de qualidade. “Fazemos volumes enormes e fazemos microvinificações” e “temos uma plasticidade de fazer vinhos de qualidade enorme”, acrescenta o Enólogo Consultor, que sente “muito orgulho em pertencer a esta equipa”.

“Acho que é uma das cooperativas mais dinâmicas, porque soube rodear-se de recursos humanos capazes e tem vindo a implementar um sistema de evolução, de investigação, de desenvolvimento que não é muito usual nas cooperativas”, remata Celso Pereira, e o resultado está à vista.

Agora é ir. Escolher a actividade de enoturismo, que inclui a visitar à Adega de Favaios e às caves, fazer a prova de vinhos e conhecer, por dentro, a Casa Velha, uma casa antiga em Favaios, onde está instalado o Núcleo Museuológico de Favaios – Pão e do Vinho.

Brindemos!


+ Adega de Favaios
© Fotografia: João Pedro Rato

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