Dos 53 hectares ocupados pelas cepas das videiras, 30 não são irrigados, ou não fosse a água um bem a preservar. O biológico e o regenerativo estão implementados e, nem por isso, a produção de uva baixa, antes pelo contrário.
Alberto Weisser comprou Coelheiros em 2015
São 800 hectares de uma biodiversidade imensa, dos quais 600 estão reservados ao montado, património natural alentejano. A vinha abrange 53 hectares e o pomar de nogueiras 40, e ambas as áreas estão intercaladas do ponto de vista ecológico. Eis Coelheiros, a herdade localizada em Igrejinha, no concelho de Arraiolos, distrito de Évora, comprada em 2016 por Alberto Weisser, trocando o bulício de Nova Iorque pela serenidade do Alentejo.
A produção integrada já estava implementado na herdade quando o actual proprietário a adquiriu. Assim continua, sem químicos, em modo produção biológico, em prol da biodiversidade de Coelheiros, que reúne espécies, seja de flora, seja de fauna autóctones. Há pássaros, morcegos, joaninhas e depois há coelhos, gamos e veados, que convivem na zona do mato. Esta diversidade permite alternar vinha, feno, nogueiras, montado, o que permite reduzir as pragas. “É muito trabalho de solo e muita natureza”, afirma Alberto Weisser.
A fauna e a flora autóctones do Alentejo coabita com a vinha nesta propriedade
“Agora também tem agricultura regenerativa”, acrescenta, concretizada com a ajuda do rebanho de cerca de mil ovelhas, que tem na propriedade, e já com um pé na biodinâmica. A administração da água é feita com parcimónia, em nome da sustentabilidade, pelo que 60 por cento da vinha é de sequeiro. “A rega não é uma questão essencial”, garante Luís Patrão, enólogo da Coelheiros desde 2016. A barragem é o garante da rega de parte da vinha. Porém, a água só é utilizada em último caso.
Segundo Alberto Weisser, é importante que as videiras criem raízes profundas, não só para captarem nutrientes, mas também obterem a quantidade de água de que necessitam, inclusivamente nesta região, em que as amplitudes térmicas são marcantes. Ou seja, o termómetro sobe muito durante o dia, particularmente no Verão, e desde durante a noite. A humidade fica retida nos solos da propriedade, que, apesar de serem predominantemente graníticos, têm argila e apresentam uma textura arenosa, que respectivamente favorecem a retenção e são permeáveis à água. Resultado? A produção de uva não tem vindo a baixar, antes pelo contrário, mesmo quando a agricultura está em modo biológico.
O Tapada de Coelheiros tinto 2017 é a segunda colheita deste ícone feita com a supervisão de Luís Patrão
Paralelamente, fertilizar, melhorar a humidade e manter o equilíbrio dos solos, predominantemente graníticos, com mistura de argila e partes arenosos, são os três factores essenciais para fazer um vinho de qualidade. Simultaneamente, a aposta recai “em castas com ciclos mais longos”, reforça Luís Patrão. O objectivo é obter matéria-prima com maturações mais homogéneas, menos álcool e maior acidez.
Um clássico feito a partir do conhecimento actual
Eis a 26.ª colheita do Tapada de Coelheiros tinto
Todo este trabalho reflecte-se nos vinhos da Coelheiros, com ênfase no clássico Tapada de Coelheiros tinto, que, até à colheita de 2017, manteve o rótulo representativo da tapeçaria tradicional de Arraiolos. O vinho, esse, foi produzido sob a supervisão de António Saramago, reconhecido enólogo, que acompanhou o crescimento da vinha e a viagem do vinho desta herdade, além fronteiras.
João Raposeira, responsável pela área agrícola da herdade
Em 2016, chega a vez de Luís Patrão assumir a responsabilidade relacionada com a viticultura – trabalho realizado a par com João Raposeira, Gestor Agrícola da Coelheiros – e a enologia, com António Saramago ao seu lado, até passar a pasta ao primeiro. Realiza-se a reconversão da vinha, com as castas divididas em talhões, e a plantação de novas castas, como a Alicante Bouschet e a Tinta Miúda. Touriga Nacional conquista terreno, a Touriga Franca mostra o seu potencial num Alentejo quente.
A contemporaneidade do ponto de Arraiolos nos tapete deFio, de Filipa Won
O ano seguinte segue com a nova imagem dos rótulos do portefólio vínico da Coelheiros, igualmente inspirada no Tapete de Arraiolos, mas de forma estilizada, abordagem que requer uma perspectiva diferente do clássico, tal como fez Filipa Won nos seus tapetes deFio. Aqui, os vários pontos de bordados típicos de Arraiolos coadunam-se com o contemporaneidade do desenho, isto é, a essência e a técnica mantêm-se. Só muda a representação.
O mesmo acontece com o Tapada de Coelheiros, um clássico feito com base no conhecimento empírico e nas experiências adquiridas, ao longo dos anos, no trabalho de campo, subordinado ao saber da actualidade no que à enologia diz respeito.
Com a passagem do tempo, a Cabernet Sauvignon ganha protagonismo, tornando-se a variedade de uva principal do Tapada de Coelheiros tinto 2017, feito igualmente a partir de Alicante Bouschet. Esta é a 26.ª colheita deste ícone elaborado cem por cento a partir de uvas colhidas em vinhas de sequeiro. A Cabernet Sauvignon foi vindimada na Vinha Leonilde, plantada em 1982 e assim chamada, em homenagem a D. Leonilde Silveira, pela sua dedicação à terra e à região; as uvas de Alicante Bouschet são provenientes da Vinha da Sobreira, datada de 2001.
Depois de cinco anos em adega – onde cada parcela é vinificada individualmente e os lotes seleccionados no momento adequado – a frescura e a acidez equilibradas são reveladoras neste Tapada de Coelheiros tinto 2017 (€30). O vinho apresenta estrutura e complexidade. Contudo, os taninos precisam de tempo, para conferir maior elegância a este tinto. O potencial de envelhecimento está garantido em mais de uma década.
Colheitas de Tapada de Coelheiros à prova na vinha
Já outras colheitas estiveram à prova – 1991, ano de estreia deste ícone feito a partir das castas Aragonez, Trincadeira, Cabernet Sauvignon e Castelão; 1997, elaborado com as mesmas variedades de uva, mantém a elegância e a frescura; 2001, com mais extração, de acordo com a tendência da época, e estrutura; 2007 apresenta maior rusticidade, comprovada pela presença de taninos; 2011 revela maior concentração.
André Magalhães, chef da Taberna da Rua das Flores e do Antiga Camponesa, em Lisboa, preparou um jantar especial, para harmonizar pratos com vinhos de Coelheiros
De volta ao conhecimento acumulado ao longo dos anos de experiência, desta vez relacionado com a cozinha, que tem André Magalhães como exemplo. Com um vasto trabalho de campo – literalmente – e entre tachos e panelas, o chef da Taberna da Rua das Flores e d’A Camponesa, agora chamada de Antiga Camponesa, ambos na cidade de Lisboa, preparou um jantar inspirado em pratos de antigamente.
Tapada de Coelheiros rosé 2021 harmonizou com queijos e enchidos da região
Enchidos e queijos alentejanos abriram o apetite. Justiça seja feita às famosas empadas de Arraiolos e ao pão de Igrejinha. A açorda de beldroegas e uma versão caseira de cavacas do Vimeiro compuseram o ramalhete, entre outros pratos, que ficam “no segredo dos deuses”.
Por agora, o melhor é explorar a herdade e conhecer a adega, descobrir a história de Coelheiros e aprofundar o conhecimento em relação ao ecossistema ali preservado. Por fim, escolha uma das duas provas disponíveis.
Brindemos!