Das experiências efectuadas na adega da Sovibor, em Borba, resultam três novas referências, que reflectem o potencial de três castas vindimadas em videiras com mais de meio século.
Amândio Cruz é um homem agarrado à terra, através da viticultura, função desempenhada há 30 anos e missão que abrange, actualmente, cinco regiões vinhateiras do país: Douro, Dão, Lisboa, Açores e Alentejo. É precisamente nesta última que o vamos encontrar, mais precisamente na Sovibor – Sociedade de Vinhos de Borba, onde avança com uma aula sobre vinhas de sequeiro.
“As vinha de sequeiro estão intimamente ligadas às vinhas velhas”, afirma Amândio Cruz, enfatizando a importância do quão desenvolvido é o sistema radicular das videiras que não são submetidas a rega. Como consequência, “a parte superior da planta tem outro comportamento”, isto é, “a planta defende-se, fechando os estomas [poros das plantas] e, com isso, perde menos água”. Este procedimento faz toda a diferença no que à qualidade das uvas diz respeito. Segundo o viticultor, “a vinha de sequeiro trabalha mais para a mineralidade do que para a parte aromática. Alimenta o fruto em detrimento da videira”. Além disso, denota maior adaptação face às altas temperaturas, daí a viabilidade de se optar pela supressão da rega.
A predominância de solos de xisto registada no concelho de Borba é outro dos factores decisivos nesta acção. De acordo com António Ventura, enólogo há 40 anos e em várias regiões vitivinícolas do país, este tipo de rocha “permite uma drenagem perfeita, salvaguardando a humidade na raiz das plantas”, esclarece.
Aliada à experiência e ao conhecimento acumulados ao longo destas quatro décadas, em que a mudança no universo vitivinícola é notória e notável, seja na vinha, seja na adega, António Ventura decide submeter a casta tinta Castelão em talha, com o aval de Fernando Tavares, presidente da administração da Sovibor. O vinho em questão é Mamoré Sem Amarras C39 Castelão 2022 (€29,90). Permaneceu 12 meses em talha tradicional sem pez, para viabilizar o “trabalho de microxigenação natural”, expõe o enólogo consultor desta casa.
De cor menos extraída, este tinto denota, acima de tudo, mineralidade, frescura, taninos muito suaves e uma maior pureza da casta Castelão vindimada em vinha com mais de 50 anos. “É o vinho mais complicado de se fazer”, sublinha António Ventura referindo-se à variedade de uva, mas deste sobressai o contributo da talha, que “fez um trabalho extraordinário”.
A qualidade da matéria-prima colhida de videiras plantadas há mais de meio século e que não são submetidas a rega estende-se a outra dupla de vinhos. Complexidade, elegância, e frescura caracterizam o Mamoré de Borba Vinhas de Sequeiro Trincadeira 2020 e o Mamoré de Borba Vinhas de Sequeiro Alicante Bouschet 2020 (€39,90 cada). Com notas de especiarias e uma acidez ténue, este vinho representa, para o enólogo, a primazia da casta tinta Trincadeira, que está “muito bem adaptada aos Alentejo, já merecia ser selecionada para um monocasta e é uma das melhores Trincadeiras feitas nesta casa”. A segunda referência, da qual sobressaem as notas de frutos do bosque e taninos sedosos.
Eis os três vinhos que cabem na vertente de experimentação da Sovibor, fundada em 1968 e comprada em 2014 por Fernando Tavares. As castas Castelão, Trincadeira e Alicante Bouschet que compõem este vinhos foram vindimadas “na Herdade da Foupana, na zona da Orada”, acrescenta Rita Tavares, filha de Fernando Tavares e enóloga desta Sociedade de Vinhos de Borba, detentora de cerca de 100 hectares de vinha. Estes estão divididos por três propriedades: a Herdade da Barriguda (10 hectares), a Herdade do Montinho (40 hectares) e a Herdade dos Ligeiros (50 hectares). A somar a esta extensão de vinha, estão registados aproximadamente cem hectares pertencentes a três sócios, “produtores de uva da zona da Orada”, remata Rita Tavares.
Brindemos!