A celebração fez-se com uma prova vertical composta por sete colheitas da casta Tannat, a qual comprovou quão longevos são os vinhos feitos a partir desta uva tinta com origem no Sul de França.
No dia 12 de Maio de 1999, Luís Vieira, detentor de uma herança intrinsecamente ligada ao comércio de vinhos, efectuou a compra da Quinta do Gradil, da qual é administrador. À época, a propriedade localizada em Vilar, freguesia do concelho de Cadaval, na região dos Vinhos de Lisboa, estava ocupada por 80 hectares de vinha mal tratada.
Face a este cenário, “utilizamos os vitis e replantamos a vinha com o dinheiro do próprio vitis”, expõe Luís Vieira. Uma vez que nem todas as castas se adaptaram às condições edafoclimáticas locais, renovaram a replantação. “Arriscamos e fizemos 30 hectares de vinha com as castas mais improváveis e que a região dos Vinhos de Lisboa ainda não tinha, como a Alfrocheiro, a Viosinho e a Tannat”, exemplifica.
“A casta Tannat teve uma adaptação muito rápida”, esclarece António Ventura, braço direito do administrador da Quinta do Gradil na enologia desde os tempos de António Gomes Vieira, avô de Luís Vieira. A primeira plantação desta casta na propriedade de Vilar remonta a 2006 e ocupa 2,1 hectares de vinha, em solos argilocalcários e com exposição virada a nascente. Hoje, regista “produções muito limitadas ao contrário do que acontecia inicialmente, em que a produção era o dobro”, considera o enólogo.
A estreia do vinho feito a partir da Tannat, casta tinta proveniente de Madiran, nos Pirinéus franceses, aconteceu com a colheita de 2009. Esta também contém 15 por cento de Touriga Nacional, “para suavizar o vinho, por causa dos taninos”, justifica António Ventura. As colheitas de 2014 e 2015 do Quinta do Gradil Tannat são complementadas igualmente por aquela casta tinta nacional.
“Daí para a frente, os vinhos são cem por cento Tannat”, garante, referindo-se às colheitas de 2016, 2018, 2019 e 2021, bem como a de 2022, que já repousa em garrafa (não constou no alinhamento da prova vertical) e cuja entrada no mercado está prevista para Novembro de 2024. Pelo meio, ainda houve a colheita de 2013, mas foi conduzido para a referência Especial Vindima. De todas as colheitas, sobressai a de 2018, a respeito da qual António Ventura determina como “a mais delicada. Foge ao perfil típico do nosso Tannat”, reconhece. De um modo geral, “todos os Tannats têm potencial de guarda”, afirma o enólogo. “É um vinho que precisa de tempo”, acrescenta Luís Vieira.
Sete séculos de vindimas
Os documentos régios mais antigos da Quinta do Gradil convidam a viajar até remontam a 1492, mas há registos datados de 1278, ano associado à venda de uma vinha por um Martinus Johannis. Apesar de ter sido couto de caça da realeza no século XVI, a Quinta do Gradil continuou associada à cultura da vinha e do vinho, actividade em destaque, graças à viabilidade económica, já no século XVII. A prosperidade neste sector determinou a condução do vinho ali produzido para a cidade de Lisboa. Aliás, os solos desta propriedade, bem como o clima da região, eram propícios ao cultivo das uvas em detrimento dos cereais, contrariando a política implementada no século XVIII, pelo Rei D. José I.
O século seguinte foi marcado por D. Maria do Carmo Romeiro da Fonseca, herdeira da Quinta da Gradil, por parte do pai. Ali construiu a casa principal e o palácio amarelo, e fomentou a exploração agrícola, cenário em que a produção vínica continuava a ser privilegiada. Acrescem o aqueduto e a capela erigida em honra de Santa Rita de Cássia, a santa das causas impossíveis, conforme prometido caso a Quinta do Gradil fosse poupada à proliferação da filoxera.
Mulher visionária, D. Maria do Carmo Romeiro da Fonseca casou a filha com o descendente de Sebastião José de Carvalho e Melo e aquele que viria a ser o 6.º Marquês de Pombal. Foi aos Marqueses de Pombal a quem pertenceu a Quinta do Gradil ao longo de uma parte do século XX. Em 1963, foi vendida a uma sociedade liderada por Isidoro Maria d’Oliveira. Homem culto, reconhecido no universo da poesia portuguesa e lavrador, mantém a produção de vinho na propriedade, que, em 1999, passou a pertencer a Luís Vieira, daí que o século XXI seja dedicado ao atual administrador da Quinta do Gradil.
Brindemos!