O vinho branco feito de uvas tintas nasceu em 2009, com 9000 garrafas, e chega aos 16 anos, com 150.000 garrafas. Mas como será o comportamento deste irreverente alentejano à mesa? E há uma novidade.

Manda a tradição que o Invisível da Ervideira seja apresentado no dia 1 de abril, o “dia das mentiras”. A verdade é que o vinho começou com um desafio lançado, em 2007, por Duarte Leal da Costa, diretor executivo desta empresa familiar, ao enólogo Nelson Rolo, e já vai na 16ª edição, com muitos milhares de garrafas vendidas.
A nova colheita, o Invisível 2024, “tem duas pequenas alterações cirúrgicas: a vindima foi feita um pouco mais cedo, para dar mais frescura e acidez ao vinho, e a garrafa, que, mantendo a mesma forma, é um pouco mais leve, para dar respostas às novas exigências”, afirma Nelson Rolo. O enólogo acrescenta ainda: “O Aragonez foi a casta de eleição deste vinho, pelo simples facto de a polpa se separar muito rapidamente da casca, bem como por ser uma casta aromática, que dá origem a um vinho de carácter muito especial, que conquistou o público de forma transversal. Para se chegar ao Invisível, é preciso ir colhendo uvas em datas diferentes, mas, acima de tudo, com diferentes estados de maturação. Primeiro, colhem-se numa fase muito rica em termos de acidez, depois mais frutada e, no final da vindima, com mais maturação, mais corpo. Em janeiro, temos cerca de 20 vinhos diferentes, aos quais, depois, é necessário fazer a assemblage final”.
O Invisível 2024 mantém o perfil e volume já conhecidos no nariz e na boca. É à mesa que deve ser apreciado e a sua vocação gastronómica permite que seja desafiado a diversas temperaturas, dos 0 °C aos 16 °C, para comprovar a versatilidade.
Começamos o teste com esta colheita servida a 0 °C, o chamado “estupidamente fresco”, para mostrar como é agradável no verão e a acompanhar o pão feito a partir de trigo, manteiga artesanal de ervas e azeite extra virgem. Subimos a temperatura para os 6 °C, para acompanhar as entradas – croquetes de pato e o Braz de leitão. Aos 12 °C fez companhia ao polvo à lagareiro, batata à murro e grelos salteados, demonstrando capacidade para enfrentar a gordura. Com as bochechas de porco estufadas, cebola confitada e puré de batata aromatizada com queijo da ilha, o vinho, servido a 16 °C, mostrou que também se bate bem com pratos de sabores mais intensos.
Terminámos com um doce de ovos conventual e o vinho servido novamente a 6 °C, para cortar o doce excessivo da sobremesa. Aqui, o açúcar fez a sua travessura, perdendo a harmonia dos momentos anteriores.
Em suma, o Invisível 2024, e usando as palavras de Duarte Leal da Costa, é um vinho “que se sabe comportar à mesa”, ou seja, que tem capacidade para acompanhar uma refeição de amigos em que se escolhem pratos diferentes.

Para o final, estava reservada uma novidade, o G(In)visível, apresentado por Duarte Leal da Costa: “A Ervideira, como todas as adegas, tem de cumprir com as ‘prestações vínicas’, ou seja, com a destilação obrigatória. Pelo que, tem de enviar as suas massas (película e grainha das uvas) para destilação. Esta primeira e segunda destilação dão origem a um álcool vínico, que irá fazer a extração de botânicos, entre eles, massas frescas do vinho Invisível, que lhe dão um carácter frutado e diferenciador e faz deste gin, um resultado muito agradável. É com muita satisfação que, ao fim de 16 edições do vinho Invisível, fazemos esta nova experiência, lançando-nos nos gins, na expetativa de que a aceitação do público seja tão boa como foi com o vinho”.
Ainda fomos a tempo de experimentar o G(In)visível com o doce de ovos conventual e aí sim, a luta já foi mais igual.
A 16ª edição do Invisível está disponível nos pontos de venda habituais, com um PVPR que pode variar entre os 13€ e os 15€, enquanto, o o G(In)visível poderá variar entre 29€ (só a garrafa) e 39€ (garrafa com caixa de madeira).