Do Douro para Lisboa viajaram vinhos que são fruto de uma relação secular entre a terra e a vinha no Alto Douro, para mostrar quão bem se dão num repasto desenhado a preceito.
Casar Baco com Gastérea é, hoje, um sinal dos tempos e uma aposta, muitas vezes, ganha no mundo dos vinhos. Apesar de considerarmos um laço efémero, são já muitos os que encaixam nas boas memórias porque, afinal, o potencial gastronómico dos vinhos é conseguido quando, à mesa, se dão a provar vinhos com carácter a par com um almoço “bem estruturado”.
Falamos da Quinta do Pessegueiro que, na Enoteca de Belém, em Lisboa, deu a conhecer o Aluzé branco 2013 e o Aluzé tinto 2011, assim como o Quinta do Pessegueiro Tinto 2012, três vinhos que comprovam a mineralidade do Douro, a qual resulta do solo xistoso da mais antiga região vinícola demarcada do mundo, decretada por Marquês de Pombal, em 1756, e distinguida como Património Mundial da UNESCO 245 anos depois, ou seja, em 2001.
À trilogia de Baco da Quinta do Pessegueiro juntou-se o Quinta do Pessegueiro Vintage Port 2012, com apresentação reservada para o fim do almoço, e o Château Saint-Maur, um rosé da região de Côtes de Provence, em França, pertencente ao Domaines Roger Zannier e cujo nome advém do proprietário da Quinta do Pessegueiro, o mesmo rosé que acompanhou um creme de castanhas com presunto crocante, cogumelos, azeite de trufa e semento de coentro, o amuse bouche de Ricardo Gonçalves, o chef da Enoteca de Belém.
Além dos vinhos, a Quinta do Pessegueiro dá a conhecer o azeite, outro produto tipicamente tão nosso. Produzido através das variedades Cordovil, Madural e Carrasquenha, o azeite provem de oliveiras com cerca de 90 anos, plantadas na sub-região do Cima Corgo. À mesa, a recomendação recai no acompanhamento em saladas e massas frescas.
Sem mais delongas, e porque a hora do almoço se avizinha na contagem dos ponteiros do relógio, Ricardo Gonçalves preparou, para a entrada, um tataky de atum com compota de cebola roxa. A seu lado esteve, por sua vez, o Aluzé branco 2013 feito a partir das castas Gouveio, Cerceal e Rabigato – esta em percentagem muito reduzida –, com uma mineralidade, uma frescura e um sabor frutado que contrabalançou, e bem, com o prato do chef.
Ao Aluzé tinto 2011, vinificado a partir de vinhas velhas, maioritariamente Touriga Nacional, com taninos suaves e um final de boca fresco e persistente, fez par perfeito com o bacalhau “Gomes de Sá” do chef, um típico prato português desconstruído, mas com os sabores da receita original.
Para o Quinta do Pessegueiro Tinto 2012, composto por castas de parcelas de vinhas velhas, Touriga Nacional e Touriga Franca, que seduziu o palato, deixando uma maior densidade em boca boca, Ricardo Gonçalves optou um naco de veado com grelos de Catelejo a acompanhar com molho à antiga portuguesa.
Para o fim ficou o Quinta do Pessegueiro Vintage Port 2012, o primeiro Porto da Quinta do Pessegueiro, produzido a partir de uma vinha com 35 anos plantadas em solo xistoso, é o primeiro Porto engarrafado da autoria, se assim se pode escrever, de João Nicolau de Almeida, o enólogo: “É um vintage que que transmite o carácter das nossas vinhas.” Localizadas a noroeste, a baixa altitude, estas mesmas vinhas estão numa “zona típica de vintages” do vinho do Porto, continua o enólogo, relembrando-nos que “o vinho do Porto tem a ver com a nossa cultura”.
Em boa companhia saboreamos o Quinta do Pessegueiro Vintage Port 2012 com texturas deleitosas de chocolate e gelado de ginja, uma combinação celestial assinada pelo chef.
Sobre João Nicolau de Almeida, natural do Porto, abençoado pela boa disposição, que contagiou os presentes, relembramos que está profundamente ligado ao Douro desde a infância, onde perpetua o trabalho dos seus antecessores na linhagem de enólogos portugueses na feitura de vinhos do Porto e Douro de excelência. Com formação em técnicas de viticultura e enologia, primeiro em Vila Real e, depois, em Montpellier, em França, o enólogo é o eleito, em 2006, para integrar nos projetos de Roger Zannier na Quinta do Pessegueiro.
A partir de então João Nicolau de Almeida tem se dedicado à reestruturação das vinhas da propriedade, a qual é composta por três parcelas: Teixeira (20,3 hectares, a noroeste e uma altitude que varia entre 75 e 418 metros) Pessegueiro (9 hectares, a oeste e a uma altitude entre 197 e 355 metros) e Afurada (1 hectar, a sul e eleva-se a uma altitude entre os 500 e os 525 metros).
É precisamente na Afurada que se encontra a majestosa adega assinada pela dupla Artur Miranda e Jacques Bec, da OitoEmPonto, da Invicta, e dela saem os vinhos da Quinta do Pessegueiro, de Roger Zannier que se apaixonou pelo Douro em 1985, adquirindo, em 1991, o terreno onde plantou vinhas e delas fazia o seu vinho. Hoje, a propriedade dá néctares de Baco feitos, apenas, a partir de castas autóctones.
Brindemos! •
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© Fotografia: João Pedro Rato
© Fotografia de entrada: Francisco Almeida Dias
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