A cozinha portuguesa é feita com alma e coração

As açordas, os pastéis de massa tenra ou as fritadas de peixe consagram a génese de uma cozinha portuguesa elaborada com a dedicação de quem tão bem sabe fazer, e acalenta o estômago e a alma de habitués e curiosos do “novo” Pap’Açorda.

Manuela Brandão, o rosto da cozinha do restaurante há quase 34 anos

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. A célebre frase do poema de Luís Vaz de Camões in “Sonetos” reflete a realidade do mítico Pap’Açorda que, volvidos 35 anos no lisboeta Bairro Alto, alterou a residência, desta feita, para o piso superior do Mercado da Ribeira, no Cais do Sodré, reabilitado pela dupla Aires Mateus e ornamentado com detalhes da autoria de Manuel Reis.

Em jeito de boas vindas, o bar do Pap’Açorda não passa despercebido – nem mesmo a garrafeira, primada pelas referências vínicas de norte a sul do país –, sobretudo nos dias que correm, em que os bartenders marcam já uma tendência, por si só, cosmopolita demarcando uma viragem nos gostos de cada um. Esta é a razão pela qual os clássicos do mundo dos cocktails são enfatizados, para além dos da casa, como o refrescante pineapple ayola, com um toque suave a canela, ou o poderoso patron fernandez, criado em homenagem a Fernando Fernandes, o co-fundador do Pap’Açorda – ao lado de José Miranda –, mas surripiado com uma inteligente subtileza ao irmão mais novo, o Bica do Sapato.

Os peixinhos da horta é um dos clássicos deste mítico restaurante lisboeta

À mesa, a escolha multiplica-se entre uma infindável lista de pratos transformados em entradas para entreter palato e partilhar, com o intuito de todos poderem experimentar ou relembrar os sabores de uma gastronomia de peso, na qual os pastéis de massa tenra, paté de santola, peixinhos da horta ou joaquinzinhos fazem qualquer um comer e chorar por mais neste “novo” Pap’Açorda – sim “novo”, assim, com aspas, pois as fritadas de clássicos da casa denotam o saber fazer em nome da cozinha portuguesa.

Falamos de Manuela Brandão, o rosto que está por detrás de cada petisco, de cada prato e que, há 34 anos – a celebrar em junho deste ano – se encontra nos bastidores do Pap’Açorda ou, como acontece no presente, no meio do restaurante. Tinha então 18 anos e, desde o primeiro dia, se dedica “com amor” a este nome que lhe é tão especial.

Os pica-paus de secretos para petiscar e partilhar

Vamos, agora, por partes, pois os peixinhos da horta merecem destaque pela forma como foram confecionados, assim como o paté de santola acompanhado por uma memorável terrina feita a partir deste crustáceo e que encheu as medidas. A completar o trio de entradas, eis os pica-paus de secretos, para partilhar e acompanhar com dois dedos de conversa num repasto descontraído, a rimar com um décor industrial e o minimalista, e um toque de elegância na escolha dos materiais, ora com vista para o interior do mercado, ora para o jardim D. Luís.

A cozinha que desperta tão saudosas memórias através do palato

Vira-se a página e eis os pratos de peixe e de carne, dos quais se destacam os linguadinhos com arroz de tomate ou os joaquinzinhos fritos no ponto, e sem pingo de óleo, com açorda de tomate sendo, esta última, uma iguaria que despertou boas memórias de tempos de infância à mesa, conquistando a boca à primeira.

As costeletas de borrego panadas são feitas por quem sabe

O mesmo se pode dizer sobre as costeletas de borrego panadas, outro prato muito apreciado por quem se define “um bom garfo” e, sobretudo, para quem aprecia o sabor de tão suculenta e apetitosa carne acompanhado por esparregado e batata frita.

É numa enorme tigela de inox que a moussePap’Açorda é servida à mesa

Na ementa das sobremesa a recomendação recai na mousse de chocolate Pap’Açorda, apresentada numa enorme tigela de inox, servida em generosas doses e com uma consistência que não é para meninos; assim como no pudim de tangerina e caramelo cítrico, o prato doce recomendado para um faustoso repasto sempre combinado com boas sonoridades e um atendimento pautado pela simpatia e o profissionalismo.

O Pap’Açorda, que está no Mercado da Ribeira, em Lisboa, desde o dia 29 de março, encontra-se de portas abertas à terça e quarta, e aos domingos, das 12 às 00 horas, e de quinta a sábado, das 12 às 2 horas. Aos gourmets aconselha-se a reserva, em particular, durante o fim de semana, através do 213 464 811.

+ Pap’Açorda
© Fotografia: João Pedro Rato

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