Preservada pelo tempo nas remotas caves do Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia, a colheita de 1867 é, agora, o mote para celebrar os 260 anos de uma das mais antigas empresas do país, a Real Companhia Velha.
Pedro Silva Reis, 27.º Presidente da Junta da Administração e membro representativo da 2.ª geração da família Silva Reis, a proprietária da Real Companhia Velha, acompanhado pelo irmão, Manuel José Silva Reis (ao fundo)
Carvalhas Memories. Eis o nome do novo velho Vinho do Porto, cuja história remonta às vindimas de 1867, na Quinta das Carvalhas, propriedade com vista privilegiada para o Pinhão, no Alto Douro vinhateiro, onde a paradisíaca paisagem continua a arrebatar corações de quem a visita, a contempla, a (re)descobre. O nome de uma colheita que Pedro Silva Reis, na qualidade de 27.º Presidente da Junta da Administração e membro representativo da 2.ª geração da família Silva Reis, a proprietária da Real Companhia Velha, dá a conhecer através de uma memória viva datada do século XIX, preservada em quatro barricas de carvalho e deixada, assim, ao desvelo das gerações de mestres de cave da então Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro.
Momento da prova de Vinhos do Porto de 10, 20 e 40 anos e do Carvalhas Memories, o qual reportou à época em que foi fundada a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro
Fundada a 10 de Setembro de 1756, por Alvará Régio de D. José I e sob os auspícios do Primeiro-Ministro do reino, Sebastião José de Carvalho e Mello, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, a mui conhecida Real Companhia Velha retrata, assim, um legado com 149 anos de história refrescado com uma pequena quantidade da colheita de 1900 e disponível numa edição comemorativa, limitada a 260 garrafas de cristal numeradas fundindo-se, assim, com a própria história do Vinho do Porto.
O exemplar de cristal foi concedido pela Vista Alegre e a identidade e o packaging desta colheita especial esteve nas mãos do atelier Pitanga Design
“A criação desta garrafa teve por base a elegância da bebida, deixando que a limpidez da mesma exiba todo o esplendor do vinho” e “a forma de gota cristalina, associada à arte de fazer o cristal manual, contrasta com o detalhe sublime a ouro usado na decoração”. A explicação foi dada por Nuno Barra, Director de Marketing da Vista Alegre, a empresa centenária portuguesa que concedeu esta peça cujo início data de Fevereiro de 2015, tendo sido desenvolvida por oito elementos da equipa empresa portuguesa e envolvido 26 pessoas na produção.
Por sua vez, Luís Ferreira, da Pitanga Design, o atelier de design do Porto que, há nove anos, colabora com a Real Companhia Velha, falou-nos sobre o conteúdo da proposta : “Trabalhar a identidade do Carvalhas Memories e o packaging, mais especificamente as caixas que haveriam de envolver o decanter de cristal desenvolvido pela Vista Alegre, produzido artesanalmente e que teve como base, do seu desenho original e exclusivo, os primeiros exemplares da Real Companhia Velha. A base de todo o nosso projeto convoca a memória do Alvará Régio de D. José I, de 1756, que testemunha a fundação da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro.”
A letra utilizada na garrafa e no certificado reporta para a caligrafia do século XVIII
Assim nasceu “uma preciosa peça da nossa história, com capa em pele vermelha estampada a ouro e páginas preenchidas numa letra caligráfica setecentista”, detalhe que Luís Ferreira harmonizou com “a elegante identidade da marca Carvalhas e, ao qual, se juntou o desenho da chumbeira, símbolo usado para identificar a Real Companhia Velha durante os séculos XVIII a XX”. Por sua vez, “o decanter de cristal é decorado a ouro, com a identidade elaborada por nós, e convoca o estampado na capa do alvará régio cuja pele vermelha deu o mote para a cor da embalagem que envolve a caixa primária que protege aquela joia. Esta metáfora acabaria por conduzir ao desenho da caixa primária como um estojo de joalharia que, ao ser aberto, funciona como expositor e desvenda o decanter em toda a sua dimensão, valorizando-se a cor deste Vinho do Porto pelo contraste com o tecido que forra a caixa. Para o revestimento do estojo foi escolhido o pau-rosa numa alusão à importância que o Brasil sempre teve como parceiro comercial da empresa”.
A capa do certificado é inspirada no Alvará Régio do Rei D. José I
A numeração de cada exemplar é assegurado por meio de um “pequeno certificado que, uma vez mais, remete para o Alvará Régio” de El-Rei D. José I, para a fundação da então companhia, agora, com 260 anos de história.
Aos 260 anos da Real Companhia Velha
Falamos de um património histórico. Afinal, foi à Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro confiada a missão de estabelecer a primeira demarcação do mundo, a Região Demarcada do Douro, com o objectivo de organizar e conceber a regulamentação que viria a controlar a produção e o comércio do Vinho do Porto. E um recuar no tempo, até 1678, ano em que se encontra a primeira referência escrita ao nome Vinho do Porto, designação a que a Real Companhia Velha tem uma forte ligação.
Porém, a descoberta do também conhecido por “vinho fino” deve-se aos ingleses radicados na cidade do Porto que passaram a acrescentar aguardente na feitura do Vinho do Porto, com o intuito de o preservar durante as viagens além mar com destino à Terra de Sua Majestade.
Assim começa a uma indústria que, em meados do século XVIII, registou um incremento alucinante, fazendo disparar a exportação. No início do século XIX, por ocasião das Invasões Francesa, a Real Companhia Velha foi dominada pelo exército de Napoleão, que requisitou o legado de Baco produzido pela empresa do Império Português para parte da ração de combate dos seus soldados. Por sua vez, o soldados liderados pela General Arthur Wellesley, Duque de Wellington, e estacionadas em Lamego, tinham os mesmo procedimento em relação ao Vinho do Porto da Real Companhia.
Mais tarde, em 1865, após a instauração da Monarquia Parlamentar e do Liberalismo Político, e através de Alvará Régio assinado por D. Fernando I, a Real Companhia Velha passou a operar em regime de mercado livre, ao que se sucedem décadas de forte expansão mundial da vetusta empresa vínícola que, no século XX, entra no período do regime republicano com elevadas taxas de crescimento, em particular entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Volvido o segundo maior conflito, em 1960, Manuel da Silva Reis adquire o controle da Real Companhia Velha, ao que se sucedeu uma aposta forte na modernização tecnológica e sucessivos aumentos de capital, mudança de instalações da sede e alargamento dos negócios.
Património (ao) vivo
Pedro Silva Reis, filho e pai, representam a 2.ª e 3.ª gerações da família que está à frente da Real Companhia Velha
Hoje, a empresa portuguesa Real Companhia Velha representa, ao todo, 550 hectares de vinhas próprias. Na lista constam cinco propriedades: Quinta das Carvalhas, Quinta de Cidrô e Quinta dos Aciprestes, no concelho de São João da Pesqueira, no distrito de Viseu, Quinta do Casal da Granja, em Alijó, no distrito de Vila Real, e Quinta do Síbio, em pleno vale do Roncão e que se estende até ao planalto de Alijó.
No portefólio vínico, o Vinho do Porto é regido pelos Vintage e pelo célebre Porto Fundador da Real Companhia Velha, enquanto o Royal Oporto é caracterizada pelos Tawnies e pelos colheitas. Por sua vez, a Quinta das Carvalhas é representada pela categoria Portos de Quinta. Já nos chamados vinhos de mesa encontramos os históricos Porca de Murça, Grandjó ou Evel, além das referências homónimas da Quinta de Cidrô, da Quinta dos Aciprestes, da Quinta do Síbio, da gama Carvalhas, do projecto RCV Séries e edições limitadas, onde se enquadra a boa nova, o Carvalhas Memories. A somar a colheitas tão díspares está o Moscatel do Douro feito a partir de uvas da Quinta do Casal da Granja.
Para rematar, a Real Companhia Velha está presente em 45 países e 65 por cento da produção é para exportação, dando azo a boas viagens à produção nacional. •