Real Companhia Velha apresenta seis novos monocastas da marca laboratorial Séries.
“A linha Séries representa a nossa paixão pela inovação e procura de novos estilos. Estes vinhos serão sempre ensaios onde procuramos explorar diferentes técnicas, castas ou abordagens que nos ensinem algo passível de vir a ser aplicado na gama comercial.”
No mundo do vinho, nomeadamente no “velho mundo”, a longevidade das famílias produtoras, que passam o savoir faire de pais para filhos ao longo de várias gerações, é sinónimo de garantia de prestígio e qualidade. No entanto, a inovação exigida por novos perfis de público é imperativa. Na Real Companhia Velha – instituída a 10 de setembro de 1756 por Alvará Régio de El-Rei D. José I, sob os auspícios do seu Primeiro-Ministro, Sebastião José de Carvalho e Mello, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal –, a renovação através da inovação faz parte da sua história. Hoje, a tentação de viver à sombra das memórias é grande e poderia resultar na percepção de uma imagem antiquada. É neste contexto que nasce a marca Séries Real Companhia Velha apresentada em 2012 com o monocasta feito a partir da casta autóctone Rufete, um tinto de 2010.
No entanto, esta renovação já tinha dado os primeiros passos quando, em meados dos anos 90 do século XX, a Real Companhia Velha criou a Fine Wine Division. O objetivo foi investir mais nos vinhos de mesa do que no Vinho do Porto. Este projeto contou com o envolvimento das equipas de vitivinicultura e de enologia e teve como propósito estudar as diferentes castas e a sua adaptação a diferentes práticas culturais, solos, exposições e técnicas enológicas, para a criação de vinhos de grande qualidade. Começaram pela renovação da vinha onde plantaram antigas castas, como as brancas Alvarelhão Branco, Alvaraça, Esgana Cão, Donzelinho Branco, Samarrinho, Touriga Branca, na Quinta Casal da Granja (Alijó); e as tintas Donzelinho Tinto, Malvasia Preta, Mondet, Preto Martinho, Cornifesto, Tinta Francisca, na Quinta das Carvalhas. O que aconteceu foi uma mudança de estratégia assente na valorização da maior riqueza da empresa: o seu património vitícola.
Em 2010, Jorge Moreira, enólogo da Quinta de la Rosa e do Poeira (projeto pessoal), regressa para assumir o cargo de diretor geral de enologia da Real Companhia Velha – casa onde começou a sua carreira – e dar corpo a vinhos de qualidade superior. É neste contexto que surge a marca Séries Real Companhia Velha, um laboratório de ensaios “onde procuramos explorar diferentes técnicas, castas ou abordagens que nos ensinem algo possível de vir a ser aplicado na nossa gama comercial”, afirma o enólogo. “Nos Séries temos liberdade para experimentar e errar, as pequenas quantidades fazem com que os vinhos tenham pequenas arestas que os tornam únicos”, continua.
Para além do Rufete (5090 garrafas), já foram apresentados, da linha Séries, o Espumante Chardonnay e Pinot Noir Bruto 2011 (2975 garrafas), o Arinto branco 2012 (1150 garrafas), o Samarrinho 2013 Branco (860 garrafas) e o Moscatel Ottonel branco 2014 (1199 garrafas). Para abrir o ano de 2018, Pedro O. Silva Reis e Jorge Moreira mostram, de uma só vez, os novos seis membros da família: o Donzelinho e o Gouveio, ambos brancos de 2016, três tintos de 2015 – o Tinto Cão, o Malvasia Preta e o Cornifesto – e o Bastardo, um tinto de 2014. Os seis vinhos têm um PVP de €17.
Produtos diferentes e inovadores precisam de ser comunicados ao público. Para o efeito, além de um novo nome, é necessário criar a sua identidade e imagem visual. Para desenhar o novo rótulo, a Real Companhia Velha contactou o designer Luís Ferreira, da Pitanga Design , que teve como fonte de inspiração os papéis de identificação que eram colocados na entrada das garrafeiras e do laboratório, mantendo assim o carácter de ensaio, simples e adaptável às diversas designações.
A prova e o repasto
Filete de cavala braseada com purés de milho e de funcho acompanhou o Real Companhia Velha Séries Gouveio 2016
Como a melhor maneira de partilhar um bom vinho é com boa companhia à mesa, o (longo) repasto aconteceu na sala privada da Enoteca de Belém, em Lisboa, onde ficámos nas mãos do chef Ricardo Gonçalves e do escanção Nelson Guerreiro, com quem conversámos já lá vão uns anos (ler aqui).
O alinhamento dos vinhos foi diferente da prova que antecedeu o almoço e não seguiu a regra clássica de “primeiro os brancos e, depois, os tintos”. Para começar, as honras de abertura ficaram a cargo do Donzelinho (1556 garrafas), um branco fresco com boa mineralidade e boa acidez, oriundo do planalto de Alijó, que acompanhou o salmão.
De seguida, foi servida uma sopa de castanhas para aquecer este inverno, acompanhada do sedutor Bastardo (1573 garrafas), um tinto fresco e elegante, um perfil outsider na região, ou a personificação de um novo Douro?
O segundo branco, de 2016, feito a partir da casta Gouveio 2016 (2340 garrafas) raramente usada como monocasta, apesar de ser das brancas mais conhecidas no Douro. Ainda que 50% deste vinho tenha estagiado seis meses em barricas usadas de carvalho francês, a inovação focou-se na vindima, que foi antecipada para criar um caráter fresco e mineral com uma excelente acidez, propriedades que neste caso harmonizaram com uma filete de cavala braseada com purés de milho e de funcho.
De volta aos tintos, seguiu-se o Cornifesto, outra das castas mais antigas do Douro, mas a respeito do qual não é conhecida nenhuma produção monovarietal. O Real Companhia Velha Séries Cornifesto tinto 2015 (1200 garrafas) será, assim, o primeiro exemplo que originou num tinto com um carácter muito vincado e diferenciador após a fermentação em pequenas cubas de inox e um estágio de 12 meses efetuado em barricas usadas de carvalho francês. Acompanhou polvo com ervilha torta e batata doce.
Proveniente de uma parcela ao lado do vinho anterior, na Quinta das Carvalhas, a Malvasia Preta é, provavelmente, também outra das castas que é vinificada a solo, além de que é uma das mais antigas da região, bem adaptada às condições agrestes do Douro. A fermentação decorreu em pequenas cubas de inox com controle de temperatura estagiando, depois, em barricas usadas de carvalho francês durante oito meses. Com um perfil aromático muito intenso e fresco, de fruta preta e cítrica e nuances apimentadas, este vinho mostra a identidade da casta e do terroir da região que acompanhou com um risoto de cogumelos e magré de pato. Foram produzidas apenas 666 garrafas.
O último tinto é feito a partir de uma das castas mais apreciadas pela nova geração de viticultores do Douro: a Tinto Cão (1466 garrafas). De bago pequeno e película muito espessa, as uvas desta casta foram fermentadas em lagares de pedra com a tradicional pisa a pé, seguindo-se um estágio de 18 meses em barricas de carvalho francês (15% de madeira nova). O resultado foi uma complexidade aromática de aromas de frutos vermelhos e sugestões herbáceas. Na boca mostrou-se rústico e com tanino delicado e elegante ao acompanhar o carré de borrego.
Para terminar a apresentação e acompanhar a sobremesa, esteve uma agradável surpresa: Porto Quinado 60 anos. A sua apresentação deverá acontecer em breve. •