Pare-se os ponteiros do relógio! Aqui respira-se calma. Do jardim arranjado com desvelo avista-se a vinha e a Serra da Arrábida. Mesmo em frente. Ademais, o traço setecentista do edifício principal harmoniza com a vivência diária ao ar livre, tal como em tempos idos.
Chama-se Hotel Casa Palmela. Estreou-se em Agosto de 2016, na centenária Quinta do Esteval e, desde Janeiro, é membro da cadeia Small Luxury Hotels of the World, o único na Península de Setúbal. A propriedade, com mais de 70 hectares, tem o Parque Nacional da Arrábida a seus pés. Onde outrora fora ceara é, hoje, a vinha. Esta contabiliza com 20 hectares, com as castas tintas (Castelão, Touriga Nacional e Syrah) a ganhar terreno e a particular atenção para a Moscatel Roxo.
A beleza paisagística quase intocável pelo Homem desta quinta senhorial é complementada, ainda, pelo jardim situado defronte das traseiras do edifício setecentista classificado de interesse público, em que cada quarto conta a história dos elementos da família dos seus proprietários.
É que, segundo a História, a Quinta do Esteval pertencera, entre os séculos XVII e XVIII, à Companhia de Jesus, período após o qual passara para as mãos da coroa, sendo arrematada, no início do século XIX, em hasta pública, pelo 1.º Conde da Póvoa, Henrique Teixeira de Sampaio. Integrada na herança da sua filha, Dona Maria Luisa de Noronha e Sampaio, que casaria em 1836, com o 2.º Duque de Palmela, D. Domingos de Sousa e Holstein Beck, sucedendo-lhe D. Maria Luisa de Sousa e Holstein Beck, a 3.ª Duquesa de Palmela, dona de um trabalho notável, seja no mundo das artes, enquanto escultora, seja como fundadora das Cozinhas Económicas – seis, ao todo, entre 1893 e 1906 –, em Lisboa.
Quando as memórias apuram o conforto
À entrada da casa, duas esculturas da autoria de Maria Luísa de Sousa Holstein Beck captam a atenção de quem se dirige à recepção deste hotel de cinco estrelas. Do lado direito, junto à escadaria de pedra que dá acesso ao primeiro piso, está Diógenes, peça criada em 1883 e premiada, no ano seguinte, na exposição anual organizada, em Paris, pela Société des Artistes Français. Do lado oposto, sobre o aparador de tampo em pedra, está o busto alvo de um camponês homenagem, talvez, aos trabalhadores de então, da Quinta do Esteval.
Sob os tectos abobadados e sobre o chão empedrado e estimado com mais de 400 anos, estão peças de mobiliário de outras eras, como o robusto cofre em ferro da casa. O cenário do piso inferior deste solar completa-se com a lareira e os painéis de azulejos, do século XVII, levados do Palácio do Conde Redondo, mas também da Quinta do Calhariz e do Palácio do Sol, ao Rato, património da família Palmela.
Entre este e o piso superior do Hotel Casa Palmela estão os quartos dos seus hóspedes. A decoração clássica predomina o estilo, quer nos padrões dos tecidos, quer no mobiliário, a par com os tons suaves em harmonia com o lugar bucólico resguardado pela natureza, lá fora. Há fotografias, objectos e peças antigas colocados nas áreas comuns, que testemunham a história vivida desta casa cheia de recordações, como o livro de registos do Conde de Calhariz disposto, na escrivaninha em madeira, junto aos seu retrato fotográfico.
Do conjunto constituído por três divisões – uma das quais um quarto de brinquedos para as crianças da família –, “nasceu” a Casa do Jardim, junto à piscina do hotel, com vista sobre a vinha e a verdejante Serra da Arrábida. A sobriedade da decoração é comprovada pelos padrões utilizados, mas também na arquitectura do edifício, de linhas direitas e rematado pelas mansardas dos quartos do piso superior desta casa cujo acesso é feito pela rua, ou seja, é independente do edifício principal. Feitas as contas, são 21 os quartos do Hotel Casa Palmela, incluíndo os familiares. Some-se as três villas de dois e três quartos, perfeitos para as férias com crianças, já que contabiliza serviços exclusivos e personalizados.
Ócio, bem me quer!
Eis que chega a hora de mergulhar para, depois, preguiçar nos terraços privados dos quartos dos pisos térreos. Basta levar a toalha as toalhas que são colocadas, todas as noites, no quarto de cada hóspede.
Faça-se a massagem ou um tratamento no Slow Wellness Centre, o Spa do Hotel Casa Palmela. O edifício em L revestido a madeira quase se confunde com a envolvente. É quase um refúgio campestre, com um alpendre sombreiro, para desfrutar antes e depois do tão desejado momento relaxante.
Pese, porém, a opção do passeio matinal pela parte do Parque Natural da Arrábida pertencente à propriedade, através dos trilhos desenhados no mapa fornecido na recepção do hotel.
Há-os para todos os gostos, sobretudo para quem tem particular interesse ou mera curiosidade em conhecer as plantas endémicas deste lugar encantado com o mar do lado de lá. Pode fazê-lo a pé, de bicicleta ou a cavalo. E ao Domingo de manhã, há ioga com Sílvia Matos Fernandes, experiência sensorial que vale bem a pena!
A observação de aves também é para ponderar, assim como percurso pedestre na Serra de São Luísa que faz parte do Parque Natural da Arrábida. Leve o mapa respectivo e o lunch box, para um piquenique descontraído no meio da natureza ou, se preferir, marque esta refeição ao ar livre no deck da propriedade, junto às vinhas e sob o sobreiro frondoso. Termine este momento informal com a sesta nas camas de rede.
Mas as experiências – todas elas personalizadas e individuais – não ficam por aqui! Desde a ida ao Mercado do Livramento, o famoso edifício em Setúbal, onde o peixe fresco abunda nas suas bancadas em pedra, ou experimente ir pescar com quem sabe. Depois basta solicitar a Sérgio Morais, chef do Zimbral, restaurante do Hotel Casa Palmela, para confeccionar o que “pescou”. A opção de almoço a bordo de uma embarcação, com as escarpas da Serra da Arrábida e o Estuário do Sado como cenário, e com um mergulho no final é outras das actividades disponíveis por este cinco estrelas.
Para os enófilos e curiosos no que ao vinho diz respeito fica a visita à Casa Museu e Caves da José Maria da Fonseca, com visita incluída à Adega da Mata, à Adega dos Teares Novos e à Adega dos Teares Velhos. Entre outras adegas, já que os produtores vínicos proliferam nesta que é a Região Demarcada da Península de Setúbal, reconhecida, acima de tudo, pelos seu emblemático e generoso Moscatel Roxo.
A prova de vinhos da região comentada e acompanhada de tábua de queijos – com o de Azeitão a marcar presença – e/ou enchidos alentejanos na esplanada aberta para o jardim, a vinha e a Serra da Arrábida consta na lista de experiências a não perder. Lá para Setembro somar-se-á a Vindima na Quinta, com direito a cantares da Aldeia Grande, à colheita dos cachos de uva e a um almoço no campo.
Fale-se sobre a arte com o merecido vagar. Afinal, muito há para fazer nesta área multidisciplinar, como as artes plásticas, a música erudita, o jazz, o teatro. “Há muita história para contar”, reforça Salvador Holstein, Director do Hotel Casa Palmela, que aposta fortemente na cultura e na comunidade local de artistas que, desde o primeiro dia, têm uma ligação especial com esta unidade hoteleira. Além da secular arte azulejar, comprovada através dos referidos painéis de azulejos, Salvador Holstein fala, ainda, sobre a pintura e a escultura, sendo esta última associada às criações de Maria Luísa de Sousa Holstein, sem esquecer outros nomes ligados a esta vertente artística.
Serviço personalizado, comida de conforto
Reserve mesa no Zimbral, com múltiplas peças decorativas e de serviço de faiança da centenária Bordallo Pinheiro. Da cozinha do chef Sérgio Morais saem pratos feitos a partir de peixe comprado no quase vizinho Mercado do Livramento, localizado a seis quilómetros do Hotel Casa Palmela, de produtos locais e, sempre que possível, da horta do hotel para, em tempo indeterminado, confortar apenas o estômago dos hóspedes e garantir, simultaneamente, as medidas de segurança actualmente exigidas.
A sopa de peixe da nossa costa, o borriçado de polvo e o Once Upon a torta de Azeitão são inspirados em receitas da região. Mas muito há para explorar e comprovar os dotes culinários deste chef natural de Azeitão, freguesia do concelho de Setúbal, como nas esferas de alheira com queijo de Azeitão, puré de maçã e amêndoa torrada, A garoupa com estragão e mostarda servida com arroz cremoso de gambas ou o pudim de Moscatel de Setúbal acompanhado de amêndoas torradas. A carta de vinhos “percorre”, por sua vez, sete regiões vitivinícolas do país: Vinhos Verdes, Douro, Bairrada, Lisboa, Península de Setúbal, Alentejo e Algarve. Com um ligeiro desvio até à região francesa de Champagne.
De louvar, ainda, o menu infantil a demarcar-se das convencionais sugestões para os mais novos. Depois do creme de legumes, a escolha é para fazer-se entre os escalopes de novilho com arroz e o lombo de peixe com batata cozida e legumes, seguindo-se a sobremesa, com a salada de fruta ou a mousse de chocolate.
De registar, ainda, o pequeno-almoço contemplado, também, pelo serviço personalizado e atento ao pormenor, protagonizado por gerações mais novas de quem, outrora, trabalhava nesta casa de família. “Pessoas que, na sua infância, vinham com os pais para aqui”, afirma Salvador Holstein. Faça-se a escolha de tão vasta carta de sugestões e merecedora de tempo para poder desfrutar desta refeição matinal, ora no restaurante Zimbral, ora no terraço, junto ao jardim, sempre com a vinha e a Serra da Arrábida a tomar conta do cenário, ao fundo.
Boas férias!