Lugares, mãos, rostos: Pausa para um passeio de barco e a praxe da cerveja / Há gastronomia na região de Coimbra {06}

A barca serrana regressa ao Mondego, numa viagem acompanhada pelas recordações associadas a este episódio da história de um rio, cujas águas são de excelsa qualidade para o fabrico da bebida preferida dos estudantes.

Tareco é a alcunha dos antepassados barqueiros dos fundadores da Serranas do Mondego


“Ó da Rooooooodaaaaaaa!” A frase, proferida em voz alta, ecoa pelo leito do Rio Mondego. Miguel Matias, o barqueiro da Serranas do Monsego, fá-lo, para que alguém levante uma parte da ponte artesanal em madeira construída, todos os ano, pelos carpinteiros detentores de tão ancestral sabedoria. 


A ponte em madeira abre através de um mecanismo manual, à semelhança de tempos idos


Esta história recomeça com Vítor Seco e Fábio Nogueira, dois amigos que decidem pôr a barca serrana a navegar novamente nas águas do Mondego, após as cheias desse mesmo ano, que levaram a última embarcação original. Chama-se Tareco, trata-se da primeira réplica da barca serrana e está adaptada com um motor eléctrico, por respeito ao meio ambiente. O nome é atribuído em homenagem às alcunhas dos respectivos bisavô e avô, ambos barqueiros, e convida a viajar nas estórias contadas por Miguel Matias, incansável nas suas palavras.

Segundo registos escritos do reinado de D. Sancho I, comprovam a importância histórica da barca serrana, que fazia a travessia deste rio, que era o eixo de escoamento de produtos, inclusivamente da Serra da Estrela, até à Figueira da Foz, onde desagua o Mondego. São mais de 800 anos que somam tradição, história e memória, agora recuperada e vivida por quem tem o prazer de a contar. 


As Nevadas de Penacova fazem parte do receituário tradicional desta terra da Região Centro


São 45 minutos de viagem, disponível de Maio ou Junho até Outubro, e sempre que o tempo estiver de feição, das 10h00 às 18h00. Sempre na companhia das Nevadas de Penacova, bolo tradicional, de massa fofa, recheio de ovos e cobertura rígida de açúcar. Miguel Martins recomenda a viagem ao final do dia, acompanhada pelo pôr-do-sol e com merenda a bordo, constituída por produtos que a barca transportava outrora. Enchidos e vinho do Dão são algumas das pistas que aqui lhe deixamos, para acicatar o apetite e reservar atempadamente um passeio tranquilo pelas águas do Mondego.

O ponto de encontro é na Praia Fluvial do Reconquinho, em Penacova. Para breve, uma segunda réplica da barca serrana irá cirandar as mesmas águas, desta feita, aos pés da cidade de Coimbra.


Pedro Baptista é o rosto da nova geração da Práxis, a fábrica de cerveja que é também um restaurante, em Coimbra


Ainda em jeito de pausa, mas com um copo de cerveja na mão, visite a Praxis  – Fábrica da Cerveja, na margem esquerda do Rio Mondego, cujas águas são consideradas de excelente qualidade na produção de cerveja. Esta é a razão apontada para a tradição cervejeira ter surgido na cidade, de acordo com os registos, no século XIX. Terá sido José Maria das Dores, que, na sua Quinta do Cidral, terá fabricado cerveja artesanal. 

Durante a visita, é explicado o passo a passo do processo de produção, que começou na década de 1990, pelas mãos de Arnaldo Baptista, que, em 1999, viu nasceu a Práxis. Deste projecto, alicerçado no saudosismo ligado ao fecho Sociedade Central de Cervejas, constituída em 1934, nasce um nome que tem dado cartas nesta matéria.


A prova de cervejas permite analisar uma a uma, seja através dos aromas, seja através dos sabores


Já com Pedro Baptista, o filho, o negócio progrediu na produção de cerveja artesanal e, em 2017, dá nova vida à Topázio e Onyx, duas marcas que têm Coimbra como berço, voltando, deste modo, às origens.

Mais há mais para provar, como as cervejas cujo estágio é feito em barricas usadas e que integram as categorias especiais, até porque, de acordo com o World Beer Awards 2021, a Imperial Stout da Praxis é a melhor do mundo na categoria “Stout & Porter”. Brindemos, desta vez, com cerveja acompanhada por um bom naco de carne!


Lugares, mãos, rostos: Há gastronomia na região de Coimbra

{1} A raia com molho pitéu e os palheiros de Mira
{2} Espumante rima com leitão assado à moda da Bairrada
{3} O barro preto, a cabra velha e o cabrito
{4} Os enchidos, o queijo, as pêras-passa e o vinho do Dão
{5} O arroz do Baixo Mondego e o mar ali tão perto
{6} Pausa para um passeio de barco e a praxe da cerveja
{7} A tradição anda de mão em mão


+ Região de Coimbra – Região Europeia de Gastronomia 2021
+Serranas do Mondego
+ Praxis  – Fábrica da Cerveja e Restaurante
© Fotografia: João Pedro Rato

• A Mutante viajou a convite do Turismo Centro de Portugal

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