O vinho de lote sem ano de colheita da Costa Boal

A irreverência, com uma mescla de elegância, da dupla António Boal e Paulo Nunes, traz-nos, desta vez, um Undated feito a partir de brancos de três anos distintos. Mas não é o único na lista das boas novas deste produtor duriense, que, deste modo, soma três estreias e um (re)lançamento.

As vindimas de castas brancas Códega de Larinho, Rabigato, Gouveio e Arinto das colheitas de 2015, 2016 e 2018 constam no lote do novo Costa Boal Undated branco (€50), edição limitada a 1.300 garrafas. As uvas foram vindimadas em vinhas de António Boal, o produtor, localizadas em três sítios diferentes do Douro: Murça, Porrais e Alijó. O efeito ultrapassa o conceito tradicional relacionado com a vinificação de um vinho, nada que já não tenha sido feito, mas poucos avançam com tamanho acto de ousadia, num país onde o convencional merece ser beliscado de quando em vez.

Bacalhau confitado em azeite e tomilho com cuscos transmontanos de camarão e abóbora foi o prato divinal que a chef Justa Nobre elaborou, no seu restaurante O Nobre, para acompanhar este Costa Boal Undated branco

O enólogo Paulo Nunes enaltece a a premissa deste vinho, que vem “quebrar os estereótipos”, através da selecção de barricas, para a elaboração de um lote de três colheitas. “Os desequilíbrios que cada ano possa aportar ao vinho, pelas suas particularidades, podem ser colmatados ao juntar várias colheitas. Nesse sentido, a soma dos desequilíbrios é o equilíbrio”, palavras do enólogo inscritas em comunicado e reforçadas no momento da apresentação deste Costa Boal Undated branco, que comprova a criatividade do enólogo e a cumplicidade do produtor. 

Fica, para já, a indicação da inexistência de uma vínculo face ao número de colheitas no que diz respeito a este vinho sem ano de colheita e é “é para fazer quando acharmos que temos matéria na adega”, afirma Paulo Nunes.


Dicotomias do Douro

A celebrar uma década desde a entrada do primeiro vinho no mercado, António Boal estreia a dupla Costa Boal Superior branco, da colheita de 2020 (€25), e Costa Boal Superior tinto 2016. O primeiro é um vinho de parcela feito a partir das castas brancas Rabigato, Viosinho, Arinto e Fernão Pires, vindimadas no lugar de Cabêda, localizado no planalto de Alijó.

A famosa sopa de santola de Justa Nobre harmonizou com Costa Boal Superior branco 2020

“É um vinho mais contido”, com destaque para o seu “lado mineral”, segundo Paulo Nunes, devido à predominância do granito na composição dos solos, característica que confere frescura ao vinho. 

Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Sousão são variedades de uvas tintas que integram a composição de Costa Boal Superior tinto 2016 (€30). Este vinho traduz-se na combinação de “dois ‘Douros’ diferentes”, segundo o enólogo, já que uma parte foi vindimada no lugar de Cabêda, em Alijó, no Cima Corgo – “é um Douro mais fresco” – e a outra na aldeia do Pocinho, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, Douro Superior – “um Douro mais quente e mais seco”. Um vinho para guardar.


O (re)lançamento do Homenagem a Augusto Boal 

Depois das primeiras mil garrafas colocadas em 2019, no mercado, chega o momento de voltar a desafiar o consumidor a experimentar o Costa Boal Homenagem tinto 2011 (€100). O tributo é feito a Augusto Boal, viticultor e pequneo produtor do Douro, e pai de António Boal, com a particularidade das uvas das castas Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinto Cão e Sousão serem provenientes da mesma aldeia onde nasceu: Cabêda. À frescura conferida pela altitude e pelos solos predominantemente graníticos, Paulo Nunes juntou, em 15 por cento, dois vinhos varietaris de 2017 – Tinto Cão e Sousão –, que, no seu conjunto, resultam num vinho com potencial de guarda.

Costa Boal Homenagem branco 2018 (€65) é sucedâneo de Costa Boal Homenagem Grande Reserva branco 2015. Ambos foram feitos a partir das mesmas castas – Códega de Larinho, Rabigato, Gouveio e Arinto igualmente vindimadas em Cabêda.

A frescura e a elegância deste branco pronto para acompanhar o cabrito da ceia de Natal, por exemplo, ou estas bochechas de Porco Bísaro confitadas com castanhas e batata Rijada e grelos salteados, confeccionadas pela equipa de cozinha de O Nobre.

Para rematar a apresentação, António Boal aguça o apetite para o digestivo: Costa Boal Aguardente Bagaceira Velha (€40). A sua composição integra uma selecção de bagaços de vinhos Costa Boal, todos produzidos com uvas próprias, os quais foram submetidos a dupla destilação lenta em alambique tradicional. O aroma delicado e simultaneamente suavizado pela madeira das barricas, processo de envelhecimento esse que concedeu notas de especiarias, resulta, no seu todo, numa aguardente com um sabor envolvente e um final e persistência longos.

Brindemos!


+ Costa Boal
© Fotografia: João Pedro Rato

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