Castas tradicionais, viticultura por medida e respeito pela biodiversidade / Quinta de Monforte

Azal é variedade de uva para um monovarietal. Padeiro de Basto também. Do Vinhão se faz um rosé e igualmente um tinto. O espumante está na calha, a nova adega abrirá portas no início de 2023, seguindo-se a unidade de turismo. 


O enólogo Francisco Gonçalves, Vasco Cunha Coutinho, que detém a gestão comercial deste projecto, o produtor Daniel Rocha e, Abílio Guedes, o viticultor, na apresentação dos vinhos da Quinta de Monforte, no Verride Palácio de Santa Catarina, em Lisboa


Daniel Rocha, natural de Paradela de Monforte, no concelho de Chaves, regressou, logo em pequeno, às raízes da família paterna: Penafiel. Na vizinhança, a propriedade senhorial, datada de 1643 – ano da construção da capela, mandada edificar pelo bispo D. António de S. Dionísio –, despertava-lhe a curiosidade. Três décadas mais tarde, a paixão pela natureza e pela agricultura determinou que comprasse, em 2014, a agora Quinta de Monforte, de cem hectares, e nela recuperar a secular tradição da cultura da vinha e do vinho.

“É um projecto ponderado”, garante Daniel Rocha, aquando da apresentação dos seus vinhos, “sem fugir do foco da qualidade”. Mas vamos por partes, até porque muito foi feito, antes da replantação da vinha. A movimentação dos solos, tarefa realizada sob a orientação de Abílio Guedes, viticultor reconhecido da Região dos Vinhos Verdes, foi prioridade concretizada. “Redimensionámos as parcelas” e “construímos muros de granito”, acções, que, nesta área geográfica vitivinícola, “são pouco comuns”, continua Abílio Gomes. Estas intervenções permitiram que a vinha, plantada na encosta da propriedade, ficasse com uma exposição solar a Sudoeste. 

O viticultor enaltece, ainda, a questão da sustentabilidade na vinha de 40 hectares, a qual está associada ao enrelvamento, “cortado duas vezes por ano, mas não na sua totalidade”, reforça. “Eu costumo dizer que não quero uma vinha bonita. Quero uma vinha saudável”. E logo a sustentabilidade é aliada à biodiversidade, ou não fossem as galinhas os hóspedes permanentes neste local, para além dos coelhos bravos e as perdizes, que se avistam, na propriedade, nesta época do ano.

Em relação às castas, a a escolha recaiu nas variedades de uva tradicionais da região – Azal, Loureiro, Alvarinho, Fernão Pires, Padeiro de Basto e Vinhão. Depois das primeiras produções, que resultaram em testes dados a provar ao enólogo Francisco Gonçalves. 

Apesar da sua relação “quase nula” com a Região dos Vinhos Verdes, o enólogo aceitou o desafio. Nesta decisão, pesou o facto de como a vinha é tratada – seja no âmbito da sustentabilidade, seja no contexto da renovação efectuada desde o solo à exposição, passando pela reorganização estrutural desta área –, o que permite aumentar as “condições naturais que a quinta tem para produzir uva saudável”, mas também a liberdade com que produz os vinhos da Quinta de Monforte. “A mim, como enólogo, só me cabe o trabalho de não estragar”


Vinhos de boutique


Daniel Rocha apresenta, agora, ao mercado, a colheita de 2020. Na lista cabem, para já, cabem referências. Quinta de Monforte Loureiro 2020 (€8,90), edição de 3000 garrafas, que denota, no nariz, as componentes aromáticas desta casta emblemática da Região dos Vinhos Verdes, enquanto, na boca, sobressaem a sensação de mineralidade de uma acidez viva. Quinta de Monforte Escolha branco 2020 (€6,90), feito a partir das variedades de uva Loureiro e Alvarinho (esta apenas com 15 por cento), as quais resultam, em conjunto, num vinho mais leve e igualmente fresco, além de uma acidez muito equilibrada, comparativamente ao anterior.

Quinta de Monforte rosé 2020 (€13), edição limitada a 1600 garrafas, é feito somente com a casta Vinhão. A vindima precoce e as uvas, com o engaço, que não foram submetidas a prensagem, resultaram num vinho seco e marcado pela sensação de mineralidade, características que exigem companhia à mesa. 

A variedade de uva Vinhão também é eleita a cem por cento para oQuinta de Monforte tinto 2020 (€9,50). Edição limitada a 1000 garrafas, revela a intensidade aromática desta castas tradicional da Região dos Vinhos Verdes, mas deve ser servido fresco (pelos 14 °C), para evitar a rusticidade que lhe está associada, ou abrir daqui a uns anos.

A capacidade de envelhecimento é igualmente atribuída ao Azal da colheita de 2020, bem como a sua acidez. Eis uma das novidades da Quinta de Monforte, a conhecer em breve, reveladora do arrojo da equipa da Quinta de Monforte, já que raros são aqueles que produzem vinhos monocastas feitos a partir desta variedade de uva. A mesma ousadia é conferida em relação à Padeiro de Basto, casta utilizada em lotes na Região dos Vinhos Verdes, enquanto na propriedade de Daniel Rocha, está a estagiar a solo, para dar corpo a uma nova referência, que fará parte do seu portefólio. 


O chef Fábio Alves mostrou a sua aptidão para a cozinha, ao almoço, no Suba, restaurante do Verride Palácio Santa Catarina, e Miguel Ventura demonstrou estar à altura na harmonização vínica


À espera do momento certo, está também o espumante da Quinta de Monforte, entre outras novidades a conhecer ainda este ano de 2022. Acrescente-se a futura adega. O projecto deste espaço tem a assinatura do arquitecto Fernando Coelho e estará concluída no início de 2023 – a adega antiga, junto à casa senhorial, ficará reservada a ensaios. A unidade de alojamento abrirá portas mais tarde. Irá resultar na reconversão das casas existentes nas pequenas propriedades contíguas à Quinta de Monforte, compradas por Daniel Rocha, e as obras começarão no início do próximo ano.

Todo este trabalho conta, ainda, com Vasco Cunha Coutinho, administrador da Fundação Maria Rosa, proprietária de vinhas subjacentes à Quinta de Monforte. O objectivo desta parceira consiste na “partilha de recursos” e a sua relação com o projecto de Daniel Rocha baseia-se no apoio à gestão agrícola e à área da exportação. “É uma oportunidade de voltar a trabalhar com os Vinhos Verdes.”

Brindemos!


+ Quinta de Monforte
© Fotografia: João Pedro Rato

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