Sem cortar o vínculo com a própria identidade, a casa fundada por Manoel Domingues Poças Júnior apresenta as boas novas de vinhos de carácter experimental, traduzidos num desvio saudável no que à tradição diz respeito.
Em 2018, a Poças, comemorou um século de vida. Fundada em 1928, por Manoel Domingues Poças Júnior, está, agora, nas mãos da quarta geração da família do mentor desta empresa de Vinho do Porto nascida e mantida com a nacionalidade portuguesa. No seu património vitivinícola constam três propriedades: a Quinta das Quartas, em Fontelas, no Baixo-Corgo, a Quinta de Santa Bárbara, em Ervedosa do Douro, no Cima-Corgo, e a Quinta de Vale de Cavalos, em Numão, no Douro Superior. Cada uma está localizada nas diferentes sub-regiões do Douro e representa estilos de vinho distintos.
Da mesma maneira que empossou na sua identidade, raridade posta à vista há cem anos, em 2019, apostou na ousadia de querer ir mais além, de materializar “uma forma diferente de olhar para o Douro”. As palavras de Pedro Poças Pintão, um dos representantes da quarta geração e Presidente do Concelho de Administração da Poças descrevem o projecto “Fora da Série”, edições limitadas expressivas de um carácter experimental. “É quase uma reaprendizagem”, porque o Douro não é só um.
Aprender de novo foi o que fizeram os actuais elementos da família de Manoel Domingues Poças Júnior, ao retomarem a produção do Vermute Soberbo. “Este vermute faz parte da história da Poças”, pois remonta à década de 1920, época em que era produzido nesta casa duriense. “Deixámos de produzir há mais de 50 anos”, mas hoje decidiram reavivar as memórias dos velhos tempos e juntar Vinho do Porto branco a duas dezenas infusões individuais feitas a partir de botânicos das quintas do Douro desta família. Um exemplo fora de série, para quem tanto aprecia este aperitivo fresco nas tardes de estio.
Já na gama de vinhos “Fora da Série”, desenvolvida por André Barbosa, a quem coube a apresentação, consta a vontade de esmiuçar os terroirs de cada propriedade desta casa. Iniciemos este alinhamento pelas boas novas.
Discoteca portuense à parte, o Poças Fora da Série Plano B branco 2021 (€20) substitui um outro, para qual a equipa de enologia estava a explorar as castas brancas Rabigato e Gouveio. Porém, “no fim, voltou o meu ADN de Vinho do Porto” e foi elaborado o Plano B, constituído pelo lote feito a partir das duas variedades de uva branca. “É um vinho, que dificilmente se encontra no Douro”, garante o enólogo.
Feito a partir de um field blend composto por uvas vindimadas numa vinha velha da Quinta das Quartas, o Poças Fora da Série Lagar das Quartas tinto 2021 (€20), denota a frescura, que muitos procuram num vinho, a par com a acidez necessária, para acompanhar perdiz de escabeche, de acordo com a recomendação de André Barbosa.
Poças Fora da Série Nativo branco 2020 (€20) é outra das novidades desta família. “É o mais fora de série de todos”, avança André Barbosa. A sua produção é feita a partir da casta Moscatel, submetida a um estágio em barrica usada em Vinho do Porto. “Tem um lado oxidativo e adocicado”, mas também acidez suficiente, para acompanhar uma sobremesa.
No âmbito das novas colheitas, há outro trio a referir. A começar pelo branco de curtimenta, o Poças Fora da Série Orange 2021 (€20)“Com uma abordagem tradicional sem exagerar na parte da cor”, em tom oxidativo q.b., sem esquecer o seu “baixo teor alcóolico”, é feito a partir das castas Arinto e Códega. Para a mesa, André Barbosa recomenda um caril de gambas, queijos e enchidos, “se bebido a baixa temperatura”.
Outra das novidades no que a colheitas diz respeito é o Poças Fora da Série Acrobata branco 2021 (€28) elaborado a partir das variedades de uva branca Códega, Arinto e Rabigato, submetidas a exercícios arriscados na barrica. “Temos aqui um toque de flor”, sugere o enólogo, à qual se junta acidez e frescura, atributos ideais, para harmonizar com “pratos mais gordos”, além de queijos curados e peixe fumado, de acordo com as suas propostas.
Terminemos esta lista com o Poças Fora da Série Vinho da Roga tinto 2020 (€20). Para este vinho, “fui à vinha ‘buscar’ o perfil que tinha na cabeça”, conta André Barbosa, inspirado no vinho levado para a vinha, por homens e mulheres contratados para trabalhar nas vindimas. “Tem de ser frutado e fresco”, de modo a acompanhar “a sardinha assada no pão e a salada de pimentos ou a massa à lavrador”, pratos típicos de quem faz parte da roga. Feito a partir de três castas típicas do Douro – Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz –, “é um vinho de graduação baixa”, logo é leve, mesmo na cor, e apresenta um perfil fresco. “Sushi, comida italiana” e carne grelhada no carvão são sugestões do enólogo, para ter este tinto como par à mesa.
“Há aqui uma inquietude que queremos cultivar”, reforçaPedro Poças Pintão, ou não fossem estas referências direccionadas a conhecedores na matéria, mas também para quem procura vinhos diferentes, e “sempre na perspectiva de acrescentar valor”.
De volta às origens, eis o Poças Quinado. A criação deste licoroso deve-se a Miguel Pinto Hespanhol. “É um vinho que ficou esquecido nas barricas”, declara André Barbosa, e era vendido nas décadas de 1920 e 1930. Segundo a explicação que está no site da Poças, reúne as características de um tawny velho, com a quinina adicionada, em doses muito reduzidas, a este vinho, daí o nome Quinado.
Brindemos!